Blog do Viagem & Aventura

Histórias de quem percorreu o Caminho de Santiago


Por Adriana Moreira

Flavia Alemi, especial para o Estado

O estímulo para submeter corpo e mente a um desafio tão penoso como os Caminhos de Santiago vai desde a busca pela redenção dos pecados até o turismo puro e simples, mas, no final, o que realmente volta na mochila é a sensação da descoberta. Descoberta de lugares, descoberta de pessoas, descoberta de comidas, cheiros, sensações e, principalmente, a descoberta de si mesmo.

O francês André Gide uma vez escreveu que "para se descobrir novas terras, deve-se estar disposto a perder a terra de vista por um longo tempo". E foi nos 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela que a pedagoga Meire Ortiz tentou encontrar respostas para algumas questões de vida. Mas isso foi apenas um nicho da imensa bagagem que ela trouxe de volta ao Brasil.

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Leia mais: tudo sobre o Caminho de Santiago

"É um tempo de reflexão, de entrega. Você passa por uma porção de coisas que te levam a fazer uma peregrinação dentro de si mesmo", explica Meire. Em 2002, ela lutava contra uma síndrome do pânico que não foi devidamente curada e, depois de ler sobre o Caminho de Santiago no jornal da escola de seu filho, decidiu se preparar para a jornada. Caminhadas, pesquisas e compras depois, embarcou rumo à Espanha junto do marido, Roberto.

A maior surpresa de Meire foi a sensação de já ter estado em cada um daqueles municípios antes, quase como um déjà-vu histórico. Até mesmo pessoas que ela nunca havia conhecido lhe pareciam familiares. Por fim, encontrou as respostas que procurava: "Estavam todas dentro de mim".

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Caminho de Santiago: buscando respostas

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Meire Ortiz

Foto: Arquivo Pessoal
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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

Foto: Arquivo Pessoal

Lista da bota. Inspirada no filme 'Antes de Partir', no qual os personagens de Morgan Freeman e Jack Nicholson elaboram uma lista de atividades que gostariam de fazer antes de morrer (ou 'bater as botas'), a fonoaudióloga Juliana Algodoal decidiu, aos 45 anos, fazer a sua própria. E percorrer o Caminho de Santiago foi logo para a primeira posição.

"As pessoas me falavam coisas como 'espero que você encontre o que está procurando'", relata Juliana. "Mas eu nem estava procurando nada, eu apenas gosto de desafios. Porém, o Caminho me tocou de tantas formas, do ponto de vista pessoal, que acabei aprendendo algo valioso: existe uma saída para tudo".

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Além do ensinamento, Juliana trouxe de volta do caminho francês uma lista global de amigos. O casal Mike e Olivia, ele escocês, ela espanhola, até já se hospedaram na casa de Juliana quando vieram visitar o Brasil. No grupo do Facebook, uma mexicana, um francês, uma alemã, um coreano, uma dupla de neozelandeses, todos unidos por Santiago. "Formamos uma família", diz Juliana.

Caminho de Santiago: novas (e fortes) amizades

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

Foto: Arquivo Pessoal

Solidariedade. Aos 15 anos, quando leu 'O Diário de Um Mago', de Paulo Coelho, Sabrina Paschoal se encantou com a quantidade de experiências transcendentais que fazer a peregrinação do Caminho de Santiago poderia proporcionar. Passados 20 anos, a obsessão, até então adormecida, despertou com ferocidade numa simples conversa de bar com uma amiga. Dali um mês, Sabrina já aguardava seu voo para a Espanha no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

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Sabrina quis fazer o Caminho de bicicleta e 'dificuldades' é uma palavra com pouco impacto para definir o que ela passou. Logo no primeiro dia, sua bicicleta não chegou e a obrigou a sair muito tarde do albergue. A rota de bike vai pelas rodovias da Espanha, mas a consultora de RH preferia o caminho dos que iam a pé. Resultado? Uma queda feia que lhe custou um corte na testa e muito sangue. No resto da jornada, como o preço para despachar a bicicleta era muito alto e Sabrina não queria simplesmente abandonar aquele investimento de milhares de reais no trajeto, carregou a magrela nas costas.

Pela ajuda e apoio que recebeu, tanto dos peregrinos quanto dos moradores, Sabrina mudou a forma de encarar a vida. "A gente precisa de muito menos coisas do que tem. Precisamos do outro, do contato, do carinho", diz. Superar os problemas que encontrou em Santiago parece ter aguçado a necessidade de adrenalina dela. Desde o Caminho, ela tomou gosto por viagens que fogem do comum e optou pela empreitada dos Sete Cumes: escalar as montanhas mais altas de cada continente. Até agora, já chegou ao topo de três.

Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

Foto: Arquivo pessoal
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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

Foto: Arquivo pessoal
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Turismo. O arquiteto João Ferreira do Ó não fez o Caminho para pagar penitências ou promessas, mas para conhecer melhor a Espanha e sua cultura. Depois de fazer apenas a reta final do trajeto, em 2007, que somou cerca de 250 quilômetros, João resolveu elevar o nível do desafio e, dois anos depois, pegou a rota do caminho francês - mesma rota que os repórteres do Estado estão percorrendo.

"O caminho é alegre e cheio de atrações. A cada dia são pessoas diferentes que você conhece, histórias distintas e algumas situações que o só o Caminho oferece. É uma experiência muito rica", detalha. Até agora, João ainda não sabe se Santiago mudou seu jeito de ser, mas está disposto a descobrir. Como? Caminhando pelas outras trilhas que levam a Santiago de Compostela.

Flavia Alemi, especial para o Estado

O estímulo para submeter corpo e mente a um desafio tão penoso como os Caminhos de Santiago vai desde a busca pela redenção dos pecados até o turismo puro e simples, mas, no final, o que realmente volta na mochila é a sensação da descoberta. Descoberta de lugares, descoberta de pessoas, descoberta de comidas, cheiros, sensações e, principalmente, a descoberta de si mesmo.

O francês André Gide uma vez escreveu que "para se descobrir novas terras, deve-se estar disposto a perder a terra de vista por um longo tempo". E foi nos 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela que a pedagoga Meire Ortiz tentou encontrar respostas para algumas questões de vida. Mas isso foi apenas um nicho da imensa bagagem que ela trouxe de volta ao Brasil.

Leia mais: tudo sobre o Caminho de Santiago

"É um tempo de reflexão, de entrega. Você passa por uma porção de coisas que te levam a fazer uma peregrinação dentro de si mesmo", explica Meire. Em 2002, ela lutava contra uma síndrome do pânico que não foi devidamente curada e, depois de ler sobre o Caminho de Santiago no jornal da escola de seu filho, decidiu se preparar para a jornada. Caminhadas, pesquisas e compras depois, embarcou rumo à Espanha junto do marido, Roberto.

A maior surpresa de Meire foi a sensação de já ter estado em cada um daqueles municípios antes, quase como um déjà-vu histórico. Até mesmo pessoas que ela nunca havia conhecido lhe pareciam familiares. Por fim, encontrou as respostas que procurava: "Estavam todas dentro de mim".

Caminho de Santiago: buscando respostas

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Meire Ortiz

Foto: Arquivo Pessoal
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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

Foto: Arquivo Pessoal

Lista da bota. Inspirada no filme 'Antes de Partir', no qual os personagens de Morgan Freeman e Jack Nicholson elaboram uma lista de atividades que gostariam de fazer antes de morrer (ou 'bater as botas'), a fonoaudióloga Juliana Algodoal decidiu, aos 45 anos, fazer a sua própria. E percorrer o Caminho de Santiago foi logo para a primeira posição.

"As pessoas me falavam coisas como 'espero que você encontre o que está procurando'", relata Juliana. "Mas eu nem estava procurando nada, eu apenas gosto de desafios. Porém, o Caminho me tocou de tantas formas, do ponto de vista pessoal, que acabei aprendendo algo valioso: existe uma saída para tudo".

Além do ensinamento, Juliana trouxe de volta do caminho francês uma lista global de amigos. O casal Mike e Olivia, ele escocês, ela espanhola, até já se hospedaram na casa de Juliana quando vieram visitar o Brasil. No grupo do Facebook, uma mexicana, um francês, uma alemã, um coreano, uma dupla de neozelandeses, todos unidos por Santiago. "Formamos uma família", diz Juliana.

Caminho de Santiago: novas (e fortes) amizades

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Solidariedade. Aos 15 anos, quando leu 'O Diário de Um Mago', de Paulo Coelho, Sabrina Paschoal se encantou com a quantidade de experiências transcendentais que fazer a peregrinação do Caminho de Santiago poderia proporcionar. Passados 20 anos, a obsessão, até então adormecida, despertou com ferocidade numa simples conversa de bar com uma amiga. Dali um mês, Sabrina já aguardava seu voo para a Espanha no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

Sabrina quis fazer o Caminho de bicicleta e 'dificuldades' é uma palavra com pouco impacto para definir o que ela passou. Logo no primeiro dia, sua bicicleta não chegou e a obrigou a sair muito tarde do albergue. A rota de bike vai pelas rodovias da Espanha, mas a consultora de RH preferia o caminho dos que iam a pé. Resultado? Uma queda feia que lhe custou um corte na testa e muito sangue. No resto da jornada, como o preço para despachar a bicicleta era muito alto e Sabrina não queria simplesmente abandonar aquele investimento de milhares de reais no trajeto, carregou a magrela nas costas.

Pela ajuda e apoio que recebeu, tanto dos peregrinos quanto dos moradores, Sabrina mudou a forma de encarar a vida. "A gente precisa de muito menos coisas do que tem. Precisamos do outro, do contato, do carinho", diz. Superar os problemas que encontrou em Santiago parece ter aguçado a necessidade de adrenalina dela. Desde o Caminho, ela tomou gosto por viagens que fogem do comum e optou pela empreitada dos Sete Cumes: escalar as montanhas mais altas de cada continente. Até agora, já chegou ao topo de três.

Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Turismo. O arquiteto João Ferreira do Ó não fez o Caminho para pagar penitências ou promessas, mas para conhecer melhor a Espanha e sua cultura. Depois de fazer apenas a reta final do trajeto, em 2007, que somou cerca de 250 quilômetros, João resolveu elevar o nível do desafio e, dois anos depois, pegou a rota do caminho francês - mesma rota que os repórteres do Estado estão percorrendo.

"O caminho é alegre e cheio de atrações. A cada dia são pessoas diferentes que você conhece, histórias distintas e algumas situações que o só o Caminho oferece. É uma experiência muito rica", detalha. Até agora, João ainda não sabe se Santiago mudou seu jeito de ser, mas está disposto a descobrir. Como? Caminhando pelas outras trilhas que levam a Santiago de Compostela.

Flavia Alemi, especial para o Estado

O estímulo para submeter corpo e mente a um desafio tão penoso como os Caminhos de Santiago vai desde a busca pela redenção dos pecados até o turismo puro e simples, mas, no final, o que realmente volta na mochila é a sensação da descoberta. Descoberta de lugares, descoberta de pessoas, descoberta de comidas, cheiros, sensações e, principalmente, a descoberta de si mesmo.

O francês André Gide uma vez escreveu que "para se descobrir novas terras, deve-se estar disposto a perder a terra de vista por um longo tempo". E foi nos 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela que a pedagoga Meire Ortiz tentou encontrar respostas para algumas questões de vida. Mas isso foi apenas um nicho da imensa bagagem que ela trouxe de volta ao Brasil.

Leia mais: tudo sobre o Caminho de Santiago

"É um tempo de reflexão, de entrega. Você passa por uma porção de coisas que te levam a fazer uma peregrinação dentro de si mesmo", explica Meire. Em 2002, ela lutava contra uma síndrome do pânico que não foi devidamente curada e, depois de ler sobre o Caminho de Santiago no jornal da escola de seu filho, decidiu se preparar para a jornada. Caminhadas, pesquisas e compras depois, embarcou rumo à Espanha junto do marido, Roberto.

A maior surpresa de Meire foi a sensação de já ter estado em cada um daqueles municípios antes, quase como um déjà-vu histórico. Até mesmo pessoas que ela nunca havia conhecido lhe pareciam familiares. Por fim, encontrou as respostas que procurava: "Estavam todas dentro de mim".

Caminho de Santiago: buscando respostas

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Lista da bota. Inspirada no filme 'Antes de Partir', no qual os personagens de Morgan Freeman e Jack Nicholson elaboram uma lista de atividades que gostariam de fazer antes de morrer (ou 'bater as botas'), a fonoaudióloga Juliana Algodoal decidiu, aos 45 anos, fazer a sua própria. E percorrer o Caminho de Santiago foi logo para a primeira posição.

"As pessoas me falavam coisas como 'espero que você encontre o que está procurando'", relata Juliana. "Mas eu nem estava procurando nada, eu apenas gosto de desafios. Porém, o Caminho me tocou de tantas formas, do ponto de vista pessoal, que acabei aprendendo algo valioso: existe uma saída para tudo".

Além do ensinamento, Juliana trouxe de volta do caminho francês uma lista global de amigos. O casal Mike e Olivia, ele escocês, ela espanhola, até já se hospedaram na casa de Juliana quando vieram visitar o Brasil. No grupo do Facebook, uma mexicana, um francês, uma alemã, um coreano, uma dupla de neozelandeses, todos unidos por Santiago. "Formamos uma família", diz Juliana.

Caminho de Santiago: novas (e fortes) amizades

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Solidariedade. Aos 15 anos, quando leu 'O Diário de Um Mago', de Paulo Coelho, Sabrina Paschoal se encantou com a quantidade de experiências transcendentais que fazer a peregrinação do Caminho de Santiago poderia proporcionar. Passados 20 anos, a obsessão, até então adormecida, despertou com ferocidade numa simples conversa de bar com uma amiga. Dali um mês, Sabrina já aguardava seu voo para a Espanha no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

Sabrina quis fazer o Caminho de bicicleta e 'dificuldades' é uma palavra com pouco impacto para definir o que ela passou. Logo no primeiro dia, sua bicicleta não chegou e a obrigou a sair muito tarde do albergue. A rota de bike vai pelas rodovias da Espanha, mas a consultora de RH preferia o caminho dos que iam a pé. Resultado? Uma queda feia que lhe custou um corte na testa e muito sangue. No resto da jornada, como o preço para despachar a bicicleta era muito alto e Sabrina não queria simplesmente abandonar aquele investimento de milhares de reais no trajeto, carregou a magrela nas costas.

Pela ajuda e apoio que recebeu, tanto dos peregrinos quanto dos moradores, Sabrina mudou a forma de encarar a vida. "A gente precisa de muito menos coisas do que tem. Precisamos do outro, do contato, do carinho", diz. Superar os problemas que encontrou em Santiago parece ter aguçado a necessidade de adrenalina dela. Desde o Caminho, ela tomou gosto por viagens que fogem do comum e optou pela empreitada dos Sete Cumes: escalar as montanhas mais altas de cada continente. Até agora, já chegou ao topo de três.

Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Turismo. O arquiteto João Ferreira do Ó não fez o Caminho para pagar penitências ou promessas, mas para conhecer melhor a Espanha e sua cultura. Depois de fazer apenas a reta final do trajeto, em 2007, que somou cerca de 250 quilômetros, João resolveu elevar o nível do desafio e, dois anos depois, pegou a rota do caminho francês - mesma rota que os repórteres do Estado estão percorrendo.

"O caminho é alegre e cheio de atrações. A cada dia são pessoas diferentes que você conhece, histórias distintas e algumas situações que o só o Caminho oferece. É uma experiência muito rica", detalha. Até agora, João ainda não sabe se Santiago mudou seu jeito de ser, mas está disposto a descobrir. Como? Caminhando pelas outras trilhas que levam a Santiago de Compostela.

Flavia Alemi, especial para o Estado

O estímulo para submeter corpo e mente a um desafio tão penoso como os Caminhos de Santiago vai desde a busca pela redenção dos pecados até o turismo puro e simples, mas, no final, o que realmente volta na mochila é a sensação da descoberta. Descoberta de lugares, descoberta de pessoas, descoberta de comidas, cheiros, sensações e, principalmente, a descoberta de si mesmo.

O francês André Gide uma vez escreveu que "para se descobrir novas terras, deve-se estar disposto a perder a terra de vista por um longo tempo". E foi nos 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela que a pedagoga Meire Ortiz tentou encontrar respostas para algumas questões de vida. Mas isso foi apenas um nicho da imensa bagagem que ela trouxe de volta ao Brasil.

Leia mais: tudo sobre o Caminho de Santiago

"É um tempo de reflexão, de entrega. Você passa por uma porção de coisas que te levam a fazer uma peregrinação dentro de si mesmo", explica Meire. Em 2002, ela lutava contra uma síndrome do pânico que não foi devidamente curada e, depois de ler sobre o Caminho de Santiago no jornal da escola de seu filho, decidiu se preparar para a jornada. Caminhadas, pesquisas e compras depois, embarcou rumo à Espanha junto do marido, Roberto.

A maior surpresa de Meire foi a sensação de já ter estado em cada um daqueles municípios antes, quase como um déjà-vu histórico. Até mesmo pessoas que ela nunca havia conhecido lhe pareciam familiares. Por fim, encontrou as respostas que procurava: "Estavam todas dentro de mim".

Caminho de Santiago: buscando respostas

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Meire Ortiz

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Lista da bota. Inspirada no filme 'Antes de Partir', no qual os personagens de Morgan Freeman e Jack Nicholson elaboram uma lista de atividades que gostariam de fazer antes de morrer (ou 'bater as botas'), a fonoaudióloga Juliana Algodoal decidiu, aos 45 anos, fazer a sua própria. E percorrer o Caminho de Santiago foi logo para a primeira posição.

"As pessoas me falavam coisas como 'espero que você encontre o que está procurando'", relata Juliana. "Mas eu nem estava procurando nada, eu apenas gosto de desafios. Porém, o Caminho me tocou de tantas formas, do ponto de vista pessoal, que acabei aprendendo algo valioso: existe uma saída para tudo".

Além do ensinamento, Juliana trouxe de volta do caminho francês uma lista global de amigos. O casal Mike e Olivia, ele escocês, ela espanhola, até já se hospedaram na casa de Juliana quando vieram visitar o Brasil. No grupo do Facebook, uma mexicana, um francês, uma alemã, um coreano, uma dupla de neozelandeses, todos unidos por Santiago. "Formamos uma família", diz Juliana.

Caminho de Santiago: novas (e fortes) amizades

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Juliana Algodoal

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Solidariedade. Aos 15 anos, quando leu 'O Diário de Um Mago', de Paulo Coelho, Sabrina Paschoal se encantou com a quantidade de experiências transcendentais que fazer a peregrinação do Caminho de Santiago poderia proporcionar. Passados 20 anos, a obsessão, até então adormecida, despertou com ferocidade numa simples conversa de bar com uma amiga. Dali um mês, Sabrina já aguardava seu voo para a Espanha no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

Sabrina quis fazer o Caminho de bicicleta e 'dificuldades' é uma palavra com pouco impacto para definir o que ela passou. Logo no primeiro dia, sua bicicleta não chegou e a obrigou a sair muito tarde do albergue. A rota de bike vai pelas rodovias da Espanha, mas a consultora de RH preferia o caminho dos que iam a pé. Resultado? Uma queda feia que lhe custou um corte na testa e muito sangue. No resto da jornada, como o preço para despachar a bicicleta era muito alto e Sabrina não queria simplesmente abandonar aquele investimento de milhares de reais no trajeto, carregou a magrela nas costas.

Pela ajuda e apoio que recebeu, tanto dos peregrinos quanto dos moradores, Sabrina mudou a forma de encarar a vida. "A gente precisa de muito menos coisas do que tem. Precisamos do outro, do contato, do carinho", diz. Superar os problemas que encontrou em Santiago parece ter aguçado a necessidade de adrenalina dela. Desde o Caminho, ela tomou gosto por viagens que fogem do comum e optou pela empreitada dos Sete Cumes: escalar as montanhas mais altas de cada continente. Até agora, já chegou ao topo de três.

Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

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Caminho de Santiago: carregando a bicicleta

Foto: Arquivo pessoal

Turismo. O arquiteto João Ferreira do Ó não fez o Caminho para pagar penitências ou promessas, mas para conhecer melhor a Espanha e sua cultura. Depois de fazer apenas a reta final do trajeto, em 2007, que somou cerca de 250 quilômetros, João resolveu elevar o nível do desafio e, dois anos depois, pegou a rota do caminho francês - mesma rota que os repórteres do Estado estão percorrendo.

"O caminho é alegre e cheio de atrações. A cada dia são pessoas diferentes que você conhece, histórias distintas e algumas situações que o só o Caminho oferece. É uma experiência muito rica", detalha. Até agora, João ainda não sabe se Santiago mudou seu jeito de ser, mas está disposto a descobrir. Como? Caminhando pelas outras trilhas que levam a Santiago de Compostela.

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