Vassouras, o charme da 'princesinha do café'


Nos casarões preservados da principal cidade do Vale do Café estão os resquícios de uma época áurea

Por Liz Batista
Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Para os aficionados por história e amantes da arquitetura, Vassouras é a joia da coroa no Vale do Café. A cidade floresceu durante os anos de glória do ciclo cafeeiro: ali, barões, viscondes, fazendeiros, intermediários e outros comerciantes fizeram fortuna e ergueram fabulosos casarões, que guardam até hoje características originais do século 19.

Muitas dessas construções foram tombadas e passam por processos de restauro e preservação. Contemplada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas, Vassouras hoje assiste a prédios (como o Palacete do Barão do Ribeirão, onde funcionou o antigo Fórum da cidade) passarem por um meticuloso trabalho coordenado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). 

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O conjunto histórico de Vassouras é tombado pelo Iphan Foto: Monica Nobrega/Estadão

Coração e cartão-postal da cidade, a Praça Barão do Campo Belo é um ótimo local para iniciar o city tour. No alto está a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, construída em 1828 com toques de barroco e rococó. Antes de o café se transformar na principal fonte impulsionadora da economia local, Vassouras era conhecida por ser ponto de parada para quem transportava ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro

Esse intercâmbio fica evidente quando observamos as palmeiras imperiais que circundam a praça e o enorme chafariz central, que servia como bebedouro para os animais de carga. Todo o centro histórico desperta lembranças de cenários encontrados em Ouro Preto (MG) e Petrópolis (RJ). 

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Palmeiras imperiais da Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

A influência mineira é também deliciosamente sentida à mesa. Tutu de feijão, farofa temperada, couve refogada na manteiga, banana frita, torresmo crocante e linguiças das mais variadas são clássicos dos cardápios locais. O restaurante Relíquia, que fica na praça, é um bom local para desfrutar dessa culinária. Sentar-se à sombra das figueiras de sua calçada para apreciar a beleza do centro histórico, enquanto se saboreia uma caneca da cervejaria local, a Orbital, é programa certeiro para uma tarde prazerosa. O restaurante oferece um bufê ao preço de R$ 42,90 o quilo ou pratos feitos por R$ 14,90 no almoço. 

Casarões e famílias de outros tempos

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Seguindo a rua que desce a partir da Igreja  encontra-se o Centro Cultural Cazuza. O casarão de 1845 pertenceu à família da avó (materna) do artista, e a mãe dele, Lucinha Araújo, nasceu na residência. A instituição passou por uma restauração completa financiada pela Sociedade Viva Cazuza e hoje funciona como um polo cultural da cidade, oferecendo aulas de música gratuitas e apresentações de música, teatro e ópera.

Estátua do cantor Cazuza na exposição permanente sobre o artista no Centro Cultural Cazuza Foto: Liz Batista/ Estadão

No segundo andar fica uma exposição permanente em homenagem ao cantor. Os visitantes podem ver itens que pertenceram ao roqueiro, rascunho de escritos,  fotos, sua máquina de escrever e uma garrafa de uísque aberta deixada sobre a escrivaninha. Abre de segunda à sexta, das 9h às 17h; aos sábados, das 9h às 16h; e aos domingos, das 9h às 14h. A entrada é gratuita. 

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Outro lugar que merece destaque é o Museu Casa da Hera, que fica na chácara que pertenceu a Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930). Benfeitora da cidade de Vassouras e figura feminina emblemática, Eufrásia tem uma biografia fascinante. Foi namorada do político e  abolicionista Joaquim Nabuco durante anos, mas nunca se casou. Independente, após receber uma gorda herança deixada pelos pais, foi viver em Paris. Fora do Brasil, investiu dinheiro na bolsa e fez sua fortuna crescer. 

Sala de jantar montada para banquete, mobiliário e louças do início do século 19, noMuseu Casa da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

No casarão construído em 1830 estão expostos alguns dos pertences deixados por Eufrásia. Toda a parede da fachada é coberta por uma hera verde cuidadosamente aparada para não tampar as incontáveis janelas responsáveis por iluminar cada um dos 22 cômodos. Na época, o vidro era um item caro e feito sob medida. Assim, as numerosas janelas também serviam como um espelho da riqueza dos proprietários. 

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A instituição, vinculada ao Ibram (Instituto Brasileiros de Museus), abriga um valioso acervo de móveis, livros, cartas, quadros e até roupas do século 19. E,  em sua parte externa, é possível passear por um bucólico jardim, onde um túnel formado por bambus carrega a promessa de trazer sorte para a vida amorosa de quem o cruza.

Heróis negros

Os bonecos de Manoel Congo e Mariana Crioula ficam na área dos bambuzais da Chácara da Hera Foto: Liz Batista/Estadão
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Também nos jardins é possível observar uma exposição que remonta um quilombo. No centro da montagem estão duas esculturas que representam heróis negros, Mariana Crioula e o marido, Manuel Congo, líderes do maior levante de negros escravizados  registrado no Rio de Janeiro no século 19. 

 A história conta que 300 negros escravizados participaram da rebelião em 1838. A obra reflete a lembrança de que a riqueza ostentada pelos barões do café está estreitamente ligada ao sistema escravocrata que existiu no Brasil até a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Os historiadores calculam que,  no Vale do Café, a posse de escravos chegava a representar até 70% do patrimônio das famílias mais ricas. Mas famílias menos abastadas também movimentavam o comércio escravo na região, com dois ou mais  escravos para serviços domésticos e outros trabalhos.

Outra maneira de conhecer melhor a história dos negros escravizados é participar das apresentações conduzidas pela guia e turismóloga Andréa Pit - Pit de “pit stop de informação”, tamanho é seu conhecimento sobre Vassouras. Vestida com roupas brancas, turbante e colares de contas, Andréa interpreta Mariana Crioula e interage com os turistas, dividindo preciosos conhecimentos da história local. Cantando jongo e chamando os ouvintes de “sinhazinha garbosa” e “sinhozinho bem apanhado”,ela usa e abusa da linguagem típica do período para envolver o público em suas narrativas - e, por que não, criar um desconforto que faz pensar.  

A turismóloga Andréia Pit assume o papel da heroína negra Mariana Crioula para falar da história de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Em Vassouras, hotéis, pousadas e até um eco resort atendem os mais diferentes gostos e orçamentos de hospedagm. Um dos mais tradicionais hotéis da cidade, o Santa Amália, que foi no passado um convento, oferece quartos para casais e família, tem serviço de pensão completa e uma ampla área de lazer com uma agradável piscina que serve de ambientação para festas temáticas. Ali, à noite, é possível tomar um drinque e observar o céu estrelado. Diárias no fim de semana a partir de R$ 306 o casal, com café da manhã.

Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Para os aficionados por história e amantes da arquitetura, Vassouras é a joia da coroa no Vale do Café. A cidade floresceu durante os anos de glória do ciclo cafeeiro: ali, barões, viscondes, fazendeiros, intermediários e outros comerciantes fizeram fortuna e ergueram fabulosos casarões, que guardam até hoje características originais do século 19.

Muitas dessas construções foram tombadas e passam por processos de restauro e preservação. Contemplada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas, Vassouras hoje assiste a prédios (como o Palacete do Barão do Ribeirão, onde funcionou o antigo Fórum da cidade) passarem por um meticuloso trabalho coordenado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). 

O conjunto histórico de Vassouras é tombado pelo Iphan Foto: Monica Nobrega/Estadão

Coração e cartão-postal da cidade, a Praça Barão do Campo Belo é um ótimo local para iniciar o city tour. No alto está a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, construída em 1828 com toques de barroco e rococó. Antes de o café se transformar na principal fonte impulsionadora da economia local, Vassouras era conhecida por ser ponto de parada para quem transportava ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro

Esse intercâmbio fica evidente quando observamos as palmeiras imperiais que circundam a praça e o enorme chafariz central, que servia como bebedouro para os animais de carga. Todo o centro histórico desperta lembranças de cenários encontrados em Ouro Preto (MG) e Petrópolis (RJ). 

Palmeiras imperiais da Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

A influência mineira é também deliciosamente sentida à mesa. Tutu de feijão, farofa temperada, couve refogada na manteiga, banana frita, torresmo crocante e linguiças das mais variadas são clássicos dos cardápios locais. O restaurante Relíquia, que fica na praça, é um bom local para desfrutar dessa culinária. Sentar-se à sombra das figueiras de sua calçada para apreciar a beleza do centro histórico, enquanto se saboreia uma caneca da cervejaria local, a Orbital, é programa certeiro para uma tarde prazerosa. O restaurante oferece um bufê ao preço de R$ 42,90 o quilo ou pratos feitos por R$ 14,90 no almoço. 

Casarões e famílias de outros tempos

Seguindo a rua que desce a partir da Igreja  encontra-se o Centro Cultural Cazuza. O casarão de 1845 pertenceu à família da avó (materna) do artista, e a mãe dele, Lucinha Araújo, nasceu na residência. A instituição passou por uma restauração completa financiada pela Sociedade Viva Cazuza e hoje funciona como um polo cultural da cidade, oferecendo aulas de música gratuitas e apresentações de música, teatro e ópera.

Estátua do cantor Cazuza na exposição permanente sobre o artista no Centro Cultural Cazuza Foto: Liz Batista/ Estadão

No segundo andar fica uma exposição permanente em homenagem ao cantor. Os visitantes podem ver itens que pertenceram ao roqueiro, rascunho de escritos,  fotos, sua máquina de escrever e uma garrafa de uísque aberta deixada sobre a escrivaninha. Abre de segunda à sexta, das 9h às 17h; aos sábados, das 9h às 16h; e aos domingos, das 9h às 14h. A entrada é gratuita. 

Outro lugar que merece destaque é o Museu Casa da Hera, que fica na chácara que pertenceu a Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930). Benfeitora da cidade de Vassouras e figura feminina emblemática, Eufrásia tem uma biografia fascinante. Foi namorada do político e  abolicionista Joaquim Nabuco durante anos, mas nunca se casou. Independente, após receber uma gorda herança deixada pelos pais, foi viver em Paris. Fora do Brasil, investiu dinheiro na bolsa e fez sua fortuna crescer. 

Sala de jantar montada para banquete, mobiliário e louças do início do século 19, noMuseu Casa da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

No casarão construído em 1830 estão expostos alguns dos pertences deixados por Eufrásia. Toda a parede da fachada é coberta por uma hera verde cuidadosamente aparada para não tampar as incontáveis janelas responsáveis por iluminar cada um dos 22 cômodos. Na época, o vidro era um item caro e feito sob medida. Assim, as numerosas janelas também serviam como um espelho da riqueza dos proprietários. 

A instituição, vinculada ao Ibram (Instituto Brasileiros de Museus), abriga um valioso acervo de móveis, livros, cartas, quadros e até roupas do século 19. E,  em sua parte externa, é possível passear por um bucólico jardim, onde um túnel formado por bambus carrega a promessa de trazer sorte para a vida amorosa de quem o cruza.

Heróis negros

Os bonecos de Manoel Congo e Mariana Crioula ficam na área dos bambuzais da Chácara da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

Também nos jardins é possível observar uma exposição que remonta um quilombo. No centro da montagem estão duas esculturas que representam heróis negros, Mariana Crioula e o marido, Manuel Congo, líderes do maior levante de negros escravizados  registrado no Rio de Janeiro no século 19. 

 A história conta que 300 negros escravizados participaram da rebelião em 1838. A obra reflete a lembrança de que a riqueza ostentada pelos barões do café está estreitamente ligada ao sistema escravocrata que existiu no Brasil até a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Os historiadores calculam que,  no Vale do Café, a posse de escravos chegava a representar até 70% do patrimônio das famílias mais ricas. Mas famílias menos abastadas também movimentavam o comércio escravo na região, com dois ou mais  escravos para serviços domésticos e outros trabalhos.

Outra maneira de conhecer melhor a história dos negros escravizados é participar das apresentações conduzidas pela guia e turismóloga Andréa Pit - Pit de “pit stop de informação”, tamanho é seu conhecimento sobre Vassouras. Vestida com roupas brancas, turbante e colares de contas, Andréa interpreta Mariana Crioula e interage com os turistas, dividindo preciosos conhecimentos da história local. Cantando jongo e chamando os ouvintes de “sinhazinha garbosa” e “sinhozinho bem apanhado”,ela usa e abusa da linguagem típica do período para envolver o público em suas narrativas - e, por que não, criar um desconforto que faz pensar.  

A turismóloga Andréia Pit assume o papel da heroína negra Mariana Crioula para falar da história de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Em Vassouras, hotéis, pousadas e até um eco resort atendem os mais diferentes gostos e orçamentos de hospedagm. Um dos mais tradicionais hotéis da cidade, o Santa Amália, que foi no passado um convento, oferece quartos para casais e família, tem serviço de pensão completa e uma ampla área de lazer com uma agradável piscina que serve de ambientação para festas temáticas. Ali, à noite, é possível tomar um drinque e observar o céu estrelado. Diárias no fim de semana a partir de R$ 306 o casal, com café da manhã.

Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Para os aficionados por história e amantes da arquitetura, Vassouras é a joia da coroa no Vale do Café. A cidade floresceu durante os anos de glória do ciclo cafeeiro: ali, barões, viscondes, fazendeiros, intermediários e outros comerciantes fizeram fortuna e ergueram fabulosos casarões, que guardam até hoje características originais do século 19.

Muitas dessas construções foram tombadas e passam por processos de restauro e preservação. Contemplada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas, Vassouras hoje assiste a prédios (como o Palacete do Barão do Ribeirão, onde funcionou o antigo Fórum da cidade) passarem por um meticuloso trabalho coordenado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). 

O conjunto histórico de Vassouras é tombado pelo Iphan Foto: Monica Nobrega/Estadão

Coração e cartão-postal da cidade, a Praça Barão do Campo Belo é um ótimo local para iniciar o city tour. No alto está a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, construída em 1828 com toques de barroco e rococó. Antes de o café se transformar na principal fonte impulsionadora da economia local, Vassouras era conhecida por ser ponto de parada para quem transportava ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro

Esse intercâmbio fica evidente quando observamos as palmeiras imperiais que circundam a praça e o enorme chafariz central, que servia como bebedouro para os animais de carga. Todo o centro histórico desperta lembranças de cenários encontrados em Ouro Preto (MG) e Petrópolis (RJ). 

Palmeiras imperiais da Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

A influência mineira é também deliciosamente sentida à mesa. Tutu de feijão, farofa temperada, couve refogada na manteiga, banana frita, torresmo crocante e linguiças das mais variadas são clássicos dos cardápios locais. O restaurante Relíquia, que fica na praça, é um bom local para desfrutar dessa culinária. Sentar-se à sombra das figueiras de sua calçada para apreciar a beleza do centro histórico, enquanto se saboreia uma caneca da cervejaria local, a Orbital, é programa certeiro para uma tarde prazerosa. O restaurante oferece um bufê ao preço de R$ 42,90 o quilo ou pratos feitos por R$ 14,90 no almoço. 

Casarões e famílias de outros tempos

Seguindo a rua que desce a partir da Igreja  encontra-se o Centro Cultural Cazuza. O casarão de 1845 pertenceu à família da avó (materna) do artista, e a mãe dele, Lucinha Araújo, nasceu na residência. A instituição passou por uma restauração completa financiada pela Sociedade Viva Cazuza e hoje funciona como um polo cultural da cidade, oferecendo aulas de música gratuitas e apresentações de música, teatro e ópera.

Estátua do cantor Cazuza na exposição permanente sobre o artista no Centro Cultural Cazuza Foto: Liz Batista/ Estadão

No segundo andar fica uma exposição permanente em homenagem ao cantor. Os visitantes podem ver itens que pertenceram ao roqueiro, rascunho de escritos,  fotos, sua máquina de escrever e uma garrafa de uísque aberta deixada sobre a escrivaninha. Abre de segunda à sexta, das 9h às 17h; aos sábados, das 9h às 16h; e aos domingos, das 9h às 14h. A entrada é gratuita. 

Outro lugar que merece destaque é o Museu Casa da Hera, que fica na chácara que pertenceu a Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930). Benfeitora da cidade de Vassouras e figura feminina emblemática, Eufrásia tem uma biografia fascinante. Foi namorada do político e  abolicionista Joaquim Nabuco durante anos, mas nunca se casou. Independente, após receber uma gorda herança deixada pelos pais, foi viver em Paris. Fora do Brasil, investiu dinheiro na bolsa e fez sua fortuna crescer. 

Sala de jantar montada para banquete, mobiliário e louças do início do século 19, noMuseu Casa da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

No casarão construído em 1830 estão expostos alguns dos pertences deixados por Eufrásia. Toda a parede da fachada é coberta por uma hera verde cuidadosamente aparada para não tampar as incontáveis janelas responsáveis por iluminar cada um dos 22 cômodos. Na época, o vidro era um item caro e feito sob medida. Assim, as numerosas janelas também serviam como um espelho da riqueza dos proprietários. 

A instituição, vinculada ao Ibram (Instituto Brasileiros de Museus), abriga um valioso acervo de móveis, livros, cartas, quadros e até roupas do século 19. E,  em sua parte externa, é possível passear por um bucólico jardim, onde um túnel formado por bambus carrega a promessa de trazer sorte para a vida amorosa de quem o cruza.

Heróis negros

Os bonecos de Manoel Congo e Mariana Crioula ficam na área dos bambuzais da Chácara da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

Também nos jardins é possível observar uma exposição que remonta um quilombo. No centro da montagem estão duas esculturas que representam heróis negros, Mariana Crioula e o marido, Manuel Congo, líderes do maior levante de negros escravizados  registrado no Rio de Janeiro no século 19. 

 A história conta que 300 negros escravizados participaram da rebelião em 1838. A obra reflete a lembrança de que a riqueza ostentada pelos barões do café está estreitamente ligada ao sistema escravocrata que existiu no Brasil até a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Os historiadores calculam que,  no Vale do Café, a posse de escravos chegava a representar até 70% do patrimônio das famílias mais ricas. Mas famílias menos abastadas também movimentavam o comércio escravo na região, com dois ou mais  escravos para serviços domésticos e outros trabalhos.

Outra maneira de conhecer melhor a história dos negros escravizados é participar das apresentações conduzidas pela guia e turismóloga Andréa Pit - Pit de “pit stop de informação”, tamanho é seu conhecimento sobre Vassouras. Vestida com roupas brancas, turbante e colares de contas, Andréa interpreta Mariana Crioula e interage com os turistas, dividindo preciosos conhecimentos da história local. Cantando jongo e chamando os ouvintes de “sinhazinha garbosa” e “sinhozinho bem apanhado”,ela usa e abusa da linguagem típica do período para envolver o público em suas narrativas - e, por que não, criar um desconforto que faz pensar.  

A turismóloga Andréia Pit assume o papel da heroína negra Mariana Crioula para falar da história de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Em Vassouras, hotéis, pousadas e até um eco resort atendem os mais diferentes gostos e orçamentos de hospedagm. Um dos mais tradicionais hotéis da cidade, o Santa Amália, que foi no passado um convento, oferece quartos para casais e família, tem serviço de pensão completa e uma ampla área de lazer com uma agradável piscina que serve de ambientação para festas temáticas. Ali, à noite, é possível tomar um drinque e observar o céu estrelado. Diárias no fim de semana a partir de R$ 306 o casal, com café da manhã.

Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Para os aficionados por história e amantes da arquitetura, Vassouras é a joia da coroa no Vale do Café. A cidade floresceu durante os anos de glória do ciclo cafeeiro: ali, barões, viscondes, fazendeiros, intermediários e outros comerciantes fizeram fortuna e ergueram fabulosos casarões, que guardam até hoje características originais do século 19.

Muitas dessas construções foram tombadas e passam por processos de restauro e preservação. Contemplada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas, Vassouras hoje assiste a prédios (como o Palacete do Barão do Ribeirão, onde funcionou o antigo Fórum da cidade) passarem por um meticuloso trabalho coordenado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). 

O conjunto histórico de Vassouras é tombado pelo Iphan Foto: Monica Nobrega/Estadão

Coração e cartão-postal da cidade, a Praça Barão do Campo Belo é um ótimo local para iniciar o city tour. No alto está a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, construída em 1828 com toques de barroco e rococó. Antes de o café se transformar na principal fonte impulsionadora da economia local, Vassouras era conhecida por ser ponto de parada para quem transportava ouro de Minas Gerais até o Rio de Janeiro

Esse intercâmbio fica evidente quando observamos as palmeiras imperiais que circundam a praça e o enorme chafariz central, que servia como bebedouro para os animais de carga. Todo o centro histórico desperta lembranças de cenários encontrados em Ouro Preto (MG) e Petrópolis (RJ). 

Palmeiras imperiais da Praça Barão de Campo Belo, no centro histórico de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

A influência mineira é também deliciosamente sentida à mesa. Tutu de feijão, farofa temperada, couve refogada na manteiga, banana frita, torresmo crocante e linguiças das mais variadas são clássicos dos cardápios locais. O restaurante Relíquia, que fica na praça, é um bom local para desfrutar dessa culinária. Sentar-se à sombra das figueiras de sua calçada para apreciar a beleza do centro histórico, enquanto se saboreia uma caneca da cervejaria local, a Orbital, é programa certeiro para uma tarde prazerosa. O restaurante oferece um bufê ao preço de R$ 42,90 o quilo ou pratos feitos por R$ 14,90 no almoço. 

Casarões e famílias de outros tempos

Seguindo a rua que desce a partir da Igreja  encontra-se o Centro Cultural Cazuza. O casarão de 1845 pertenceu à família da avó (materna) do artista, e a mãe dele, Lucinha Araújo, nasceu na residência. A instituição passou por uma restauração completa financiada pela Sociedade Viva Cazuza e hoje funciona como um polo cultural da cidade, oferecendo aulas de música gratuitas e apresentações de música, teatro e ópera.

Estátua do cantor Cazuza na exposição permanente sobre o artista no Centro Cultural Cazuza Foto: Liz Batista/ Estadão

No segundo andar fica uma exposição permanente em homenagem ao cantor. Os visitantes podem ver itens que pertenceram ao roqueiro, rascunho de escritos,  fotos, sua máquina de escrever e uma garrafa de uísque aberta deixada sobre a escrivaninha. Abre de segunda à sexta, das 9h às 17h; aos sábados, das 9h às 16h; e aos domingos, das 9h às 14h. A entrada é gratuita. 

Outro lugar que merece destaque é o Museu Casa da Hera, que fica na chácara que pertenceu a Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930). Benfeitora da cidade de Vassouras e figura feminina emblemática, Eufrásia tem uma biografia fascinante. Foi namorada do político e  abolicionista Joaquim Nabuco durante anos, mas nunca se casou. Independente, após receber uma gorda herança deixada pelos pais, foi viver em Paris. Fora do Brasil, investiu dinheiro na bolsa e fez sua fortuna crescer. 

Sala de jantar montada para banquete, mobiliário e louças do início do século 19, noMuseu Casa da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

No casarão construído em 1830 estão expostos alguns dos pertences deixados por Eufrásia. Toda a parede da fachada é coberta por uma hera verde cuidadosamente aparada para não tampar as incontáveis janelas responsáveis por iluminar cada um dos 22 cômodos. Na época, o vidro era um item caro e feito sob medida. Assim, as numerosas janelas também serviam como um espelho da riqueza dos proprietários. 

A instituição, vinculada ao Ibram (Instituto Brasileiros de Museus), abriga um valioso acervo de móveis, livros, cartas, quadros e até roupas do século 19. E,  em sua parte externa, é possível passear por um bucólico jardim, onde um túnel formado por bambus carrega a promessa de trazer sorte para a vida amorosa de quem o cruza.

Heróis negros

Os bonecos de Manoel Congo e Mariana Crioula ficam na área dos bambuzais da Chácara da Hera Foto: Liz Batista/Estadão

Também nos jardins é possível observar uma exposição que remonta um quilombo. No centro da montagem estão duas esculturas que representam heróis negros, Mariana Crioula e o marido, Manuel Congo, líderes do maior levante de negros escravizados  registrado no Rio de Janeiro no século 19. 

 A história conta que 300 negros escravizados participaram da rebelião em 1838. A obra reflete a lembrança de que a riqueza ostentada pelos barões do café está estreitamente ligada ao sistema escravocrata que existiu no Brasil até a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Os historiadores calculam que,  no Vale do Café, a posse de escravos chegava a representar até 70% do patrimônio das famílias mais ricas. Mas famílias menos abastadas também movimentavam o comércio escravo na região, com dois ou mais  escravos para serviços domésticos e outros trabalhos.

Outra maneira de conhecer melhor a história dos negros escravizados é participar das apresentações conduzidas pela guia e turismóloga Andréa Pit - Pit de “pit stop de informação”, tamanho é seu conhecimento sobre Vassouras. Vestida com roupas brancas, turbante e colares de contas, Andréa interpreta Mariana Crioula e interage com os turistas, dividindo preciosos conhecimentos da história local. Cantando jongo e chamando os ouvintes de “sinhazinha garbosa” e “sinhozinho bem apanhado”,ela usa e abusa da linguagem típica do período para envolver o público em suas narrativas - e, por que não, criar um desconforto que faz pensar.  

A turismóloga Andréia Pit assume o papel da heroína negra Mariana Crioula para falar da história de Vassouras Foto: Liz Batista/Estadão

Em Vassouras, hotéis, pousadas e até um eco resort atendem os mais diferentes gostos e orçamentos de hospedagm. Um dos mais tradicionais hotéis da cidade, o Santa Amália, que foi no passado um convento, oferece quartos para casais e família, tem serviço de pensão completa e uma ampla área de lazer com uma agradável piscina que serve de ambientação para festas temáticas. Ali, à noite, é possível tomar um drinque e observar o céu estrelado. Diárias no fim de semana a partir de R$ 306 o casal, com café da manhã.

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