O verdadeiro mistério disso tudo é a transformação química dos processos com que uma crônica de viagem é estruturada. Ela começa, of course, sólida como uma rocha, o que é o resultado da viagem física. Do despertar abrasador em Omã, das marchas gélidas em Queenstown, na Nova Zelândia, das medinas de Sfax ou Rabat, do eterno e bem-vindo movimento de chegar e partir -- whenever e wherever.
Aos poucos, contudo, transmuta-se em matéria gasosa. As primeiras horas em Omã cobrem-se com o vapor das miragens que ocupam os desertos; a caminhada em terras kiwis, entre fiordes e plantas exóticas perdem suas moléculas e passam ao universo do que jamais se vê, porque, nesses casos, a o sonho é melhor do que o olhar. E o bulício hipnótico das medinas, também se desbota como uma pintura surrealista, ocupando, my God, o território das cores e aromas dos quais será impossível escapar.
É essa a minha esperança, agora que navego em meio líquido. Que minhas crônicas de viagem, na companhia de Trashie, a raposa das estepes siberianas, troquem suas gavetas e pastas pelos armários encantados de suas memórias e sensações. De novo, uma mudança química.Seguirei viajando, porque não conheço vida melhor. Tentarei praticar, nessas linhas, o que considero muito mais importante do que dar dicas de viagens (embora nelas reconheça sua importância). Quero levar conhecimento sobre os lugares. Contar a vocês que pessoas viveram em uma determinada cidade; que efeito as cidades -- que, como sempre digo, passam pelos homens e jamais o contrário -- produziram sobre elas. E, of course, outras curiosidades às quais, muitas vezes, não chegam os que não tiveram a possibilidade de com elas surpreender-se.
Os que já foram às ilhas Cook, for instance, sabem que ali existe a única moeda dobrável do mundo. Believe me: ela tem uma pequena dobradiça que põe um moai -- símbolo das nações polinésias -- em pé.
Nas proximidades, em Palau, há um dólar de prata que você precisa ter em sua prateleira de suvenires ou em seu altar doméstico (do you have one?). Elas vêm com uma imagem da Virgem Maria e um frasco de água benta coletada na gruta de Lourdes, na comemoração dos 150 anos da aparição da santa francesa.
Enfim: o mundo segue em frente e eu sigo tendo histórias para compartilhar. Convido-os, a todos, para colocar suas questões, como sempre o fizeram, dando-me a chance de escavar boas lembranças, ainda que tão vaporosas quanto esse mundo em que as linhas voejam e só quem quiser as apanha.