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7,4 milhões se deslocam de sua cidade para trabalhar ou estudar

Estudo do IBGE mostra ainda que nas grandes manchas urbanas viviam, em 2010, 79 milhões de pessoas ou 41,3% da população

Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

Atualizado às 20h37

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RIO - No Brasil, 7,443 milhões de pessoas trabalham ou estudam fora das cidades onde moram e são obrigadas a se deslocar, mostra estudo inédito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos dados do Censo 2010. A pesquisa não revela, porém, com que frequência os deslocamentos ocorrem. 

No caso da auxiliar administrativa Juliana de Jesus, de 25 anos, foi necessário sair de São Paulo para morar em Guarulhos para encurtar o trajeto até o trabalho, por mais paradoxal que possa parecer. “Anteriormente, eu morava no Grajaú (zona sul), a duas horas e meia de onde trabalho, no Jabaquara (também na zona sul). Faz um ano que me mudei para o Jardim Tranquilidade, em Guarulhos (cidade vizinha ao norte), e demoro uma hora e meia para chegar no serviço. Facilitou bastante a minha vida (por causa do trânsito menor, apesar da distância maior)”, explicou.

Só da Estação Armênia, na Linha 1 do Metrô, saem diariamente 48 linhas São Paulo-Guarulhos. A menor aprendiz Patrícia Viana, de 19 anos, conta que vive desde que nasceu no município de Guarulhos e, agora, acompanha os amigos no movimento diário para a capital paulista. “Conhecer gente que mora e trabalha em Guarulhos é raro”, afirmou.

O maior deslocamento do País, aliás, acontece em São Paulo: 118.020 pessoas, população equivalente à de Ribeirão Pires (SP), saem de Guarulhos e vão à capital paulista trabalhar ou estudar. No sentido inverso, e pela mesma razão, 28.310 pessoas vão de São Paulo a Guarulhos - fluxo total de 146.330 pessoas. 

São Paulo é o único Estado que tem mais de uma grande concentração urbana Foto: Filipe Araujo/Estadão

Movimento pendular. O fluxo de pessoas entre cidades para trabalho e estudo, chamado movimento pendular, é a base da pesquisa, que criou o conceito de arranjos populacionais para grupos de pelo menos duas cidades onde é intensa a movimentação entre moradores. 

Os arranjos populacionais de mais de 100 mil habitantes foram chamados concentrações urbanas. Em 2010, 56% da população (106,8 milhões) vivia em cidades com integração intensa com outro município, em 294 arranjos populacionais. A maioria (96,8 milhões, ou 51,6% da população) vivia em concentrações urbanas. 

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Os mapas feitos pelo IBGE apontam clara tendência de interligação entre as cidades, que ultrapassam divisas territoriais e pedem políticas públicas integradas. Grande manchas urbanas estão concentradas principalmente no Sudeste. “Os grandes aglomerados urbanos são uma tendência mundial e apontam para a importância dos consórcios municipais, que combinam decisões e políticas públicas. Nesses aglomerados, os municípios sozinhos não são nada”, disse o geógrafo Claudio Egler, da Universidade Federal do Rio (UFRJ), especialista em planejamento regional. 

Os números mostram que o trabalho é a grande motivação dos movimentos pendulares. Dos 7,4 milhões que se deslocam, 5,8 milhões (79%) vão a outra cidade apenas trabalhar e 1,1 milhão (15,5%), só estudar. Se deslocam para trabalhar e estudar 408 mil pessoas (5,4%). 

O maior fluxo que não inclui a capital é entre Santo André e São Bernardo (69,7 mil pessoas). Nessas cidades, o poder público deveria pensar em gestão compartilhada, com atenção para água e esgoto, na opinião de Claudio Egler. “Já existem experiências de consórcios municipais na gestão de bacias hidrográficas e a tendência é que ganhem corpo no Brasil.” Como é a primeira vez que o IBGE analisa a integração de municípios, não foi possível comparar com Censos anteriores. / COLABOROU MÔNICA REOLOM

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