A vitória nas ruas é de pochete, placa e maquiagem

Porte do “adereço” foi até solução contra roubos; já a fantasia cedeu lugar a um estilo despojado, com muita pintura e acessórios de cabeça

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Por Gilberto Amendola
Atualização:
Recado dado. Foliões usaram plaquinhas para paquerar, mandar indiretas e até criticar políticos; fantasias de memes também tiveram destaque Foto: Gabriela Bilo/Estadão

O carnaval de blocos de São Paulo descriminalizou a pochete e trocou a fantasia pelos adereços de cabeça e pinturas. O porte do “adereço” foi considerado, pelos foliões, a arma mais eficaz contra o furto de celulares. Além da volta triunfal da pochete, a rua trouxe outras novidades, como as plaquinhas/memes; o fim da dinastia da catuaba; um certo tom político e o crescimento da campanha contra o assédio.

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“Não é algo que eu use no meu dia a dia. Acho até cafona, mas no carnaval não tem nada mais eficaz. A gente fica com as mãos livres para pular e o celular fica mais seguro do que no bolso de trás”, conta a publicitária Núbia Milaneze, de 25 anos – acompanhada de duas amigas também entusiastas da pochete. E da maquiagem – pois vale a pena passar horas se montando para “acontecer” no bloco. “(A pochete) tem a vantagem de ser uma coisa que dá para compor a fantasia”, completa a estudante Jady Paola, de 23 anos.

Até os homens aderiram. “Optei pela segurança, mas ontem tentaram me roubar a pochete também. O segredo é usá-la para dentro da camiseta ou da bermuda”, alerta o estudante Pedro de Almeida, de 22 anos.

Apesar de algumas fantasias trabalhadas (e trabalhosas), os foliões preferiram o conforto de camiseta, bermuda e peças leves. Ganharam destaque os adereços de cabeça e pinturas no rosto e no corpo – retocados em caso de chuva, como seu viu. “Não gosto de ter preocupação no carnaval. No calor ou na chuva, a melhor saída é usar pouca coisa. Tudo pelo conforto”, comentou a advogada Priscila Amaral, de 30 anos.

Valeu até maquiagem em dupla para provar a amizade. As amigas Caroline Cabral e Larissa Catão fizeram a maquiagem e o cabelo juntas para ir aos blocos da zona oeste. “É uma forma de expressão, um jeito de manifestar o amor ao carnaval”, diz Larissa.

Glitter dominou a decoração dos foliões Foto: Gabriela Biló/Estadao

Na brincadeira de rua também não faltou quem usasse uma cartolina como plaquinha para passar uma mensagem ou se fantasiar de meme. Entre as frases mais encontradas estavam: “A vida não está fácil, mas eu tô”; “Me pega que eu sou Uber”; “O PT acabou com a minha vida” (referência ao meme conhecido como Barbie fascista) e “ prenda-me se for capaz”. “É o que mais faz sucesso. Por isso, decidi sair de meme humano”, conta o estudante de engenharia Mateus Rodrigues, de 21 anos.

O que se viu pouco nesses dias de bloco de rua foi a famigerada catuaba – trocada por corote colorido (cachaça ou vodca aromatizada) e gim tônica. “ O pessoal está sempre querendo algo novo”, resume o ambulante Admilson Neto, de 36 anos.

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Assédio e política

A campanha contra o assédio no carnaval parece bem-sucedida. No Jegue Elétrico e no MinhoQueens, por exemplo, o recado do “não é não” veio do próprio trio elétrico e muitas garotas levavam na pele o mesmo lema (além de “deixa as mina”). A diferença foi sentida. “Já teve ano que a gente dava dois passos e era agarrada”, afirma a arquiteta Camila Milande, 27 anos. 

Por fim, a política deu as caras. Houve coros e músicas criticando o ministério, o governo e os filhos do presidente Jair Bolsonaro. E destaque para o assessor de Flavio Bolsonaro, Fabricio Queiroz. “A cor desse carnaval é o laranja. Viva o laranjal”, brinca o publicitário Júlio Alvarenga, de 31 anos. <MC>/ COLABOROU ISABELA PALHARES

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