A ação conjunta para conter a escalada do crime organizado nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul deve começar imediatamente, segundo o ministro da Justiça, Miguel Reale Junior. Ele anunciou oficialmente a operação durante a assinatura de convênio na área de Segurança Pública com a governadora do RJ, Benedita da Silva (PT), que garante repasse inicial de R$ 11,9 milhões para o Estado. A ação federal - ele evitou a expressão força-tarefa -, garantiu, estaria decidida desde o início de sua gestão, portanto não teria relação direta com o atentado ao prédio da Secretaria de Direitos Humanos do Rio, no dia 14. "Quando sugerimos esta ação no Rio (no dia 16), já havia a idéia de uma ação coordenada também em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, que é a rota (do crime). Nós tomamos esta decisão há muito tempo; já vinha sendo pensada a necessidade dessas ações conjuntas, tanto que consta do Plano Nacional de Segurança", disse o ministro. Reale informou que amanhã estará em São Paulo para discutir o assunto com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), mas já conversou com o governador do MS, Zeca do PT, e com o governo do Paraná para "começar imediatamente o trabalho". A eventual participação das Forças Armadas no combate à criminalidade no Rio de Janeiro, restrita às áreas de logística e inteligência, segundo Reale, será solicitada ao Ministério da Defesa pelo comitê executivo criado para discutir o cooperação federal no Estado. A primeira reunião estava prevista para hoje à noite. "Depois que comitê estabelecer os primeiros dados, aí sim se poderia levar pedido de auxílio às Forças Armadas para que cooperem na área de inteligência e no fornecimento de equipamentos. Estamos preocupados com a segurança e essa preocupação não pode ficar na mera verbalização. É por isso que estamos aqui junto à governadora Benedita, na certeza de que iremos juntos começar um trabalho que irá transpor as dificuldades desse instante." Ele ressaltou que as Forças Armadas "de modo algum" participarão do policiamento. O repasse de verbas para o Estado, explicou, não chegou a R$ 19 milhões por causa "do contingenciamento ocorrido no âmbito federal" com atraso na aprovação da CPMF. Os R$ 11,9 milhões serão usados na capacitação e desenvolvimento de pessoal, na aquisição de viaturas, uniformes, armamentos, muniçãos, equipamentos de comunicação e informática para o policiamento em áreas críticas e comunitário. Casa de custódia O governo estadual solicita ainda R$ 150 milhões para a construção de casas de custódia. "O Rio de Janeiro também será contemplado com convênios na área da construção de presídios", disse o ministro, sem informar valores e datas. "Que essas ações integradas possam trazer tranqüilidade para todos no combate ao crime organizado", disse Benedita da Silva. O secretário da Segurança Pública do Rio, Roberto Aguiar, que na semana passada declarou que ninguém mandaria no Rio, referindo-se à eventual subordinação em uma força-tarefa, também se mostrou mais otimista com a assinatura do convênio. "Se houve alguma polêmica, ela já foi absolutamente desfeita. Reale ressaltou que "não é possível fazer qualquer tipo de previsão", referindo-se ao eventual resultado do trabalho. "Tentar resolver de uma hora para outra ou dizer isso seria sem dúvida nenhuma uma falsidade e não estamos pensando em iludir a população", disse o ministro. Aguiar criticou o governo anterior, do pré-candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho. "Tivemos que correr muito atrás dessa verba porque o governo anterior não mandou nenhum projeto para o ministério." Em relação ao ministro da Defesa, Geraldo Quintão, que reclamou não ter sido consultado pelo governo, o secretário disse: "Às vezes as comunicações saem um pouco tortas, mas não vejo nenhum problema. A grande vantagem é que sou de Brasília e conheço todo esse pessoal, então eu vou lá e converso, eles sabem que a gente está querendo uma cooperação. A gente sabe também que tem um monte de gente querendo colocar areia. Mas no RJ ninguém vai colocar areia." O governo encaminhou ofício ao ministro solicitando o apoio da Marinha no patrulhamento da costa para identificar e vistoriar embarcações suspeitas; a colaboração do Exército no rastreamento de armas ilegais e na formação de um cadastro; e a colaboração da Aeronáutica no patrulhamento aéreo do Estado e no mapeamento das pistas e aeroportos clandestinos para destruição. Aguiar também repudiou o uso da expressão força-tarefa: "Vamos parar com esse negócio de força-tarefa. É algo permanente, um processo de integração de várias instituições da União e do Estado, para trabalhar pela diminuição da violência e da criminalidade no Rio", disse. As polícias federal e rodoviária federal vão trabalhar em parceria com as polícias civil e militar. Reale disse já ter solicitado a análise, pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoas Humana (CDDPH), do pedido de intervenção federal no Espírito Santo feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).