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Casa que desabou em Petrópolis havia sido interditada pela Defesa Civil

Pelo menos 5 pessoas morreram após segundo temporal em 2 meses; vizinho diz que falou com morador antes do desabamento

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

PETRÓPOLIS - A sentença que volta e meia teima em aparecer, a que diz que “essa era uma tragédia anunciada”, encaixa-se bem para o deslizamento da casa que deixou pelo menos três dos cinco mortos das chuvas de domingo, 20, em Petrópolis, na região serrana. Localizada numa encosta na Rua Washington Luís, a residência de três andares já havia sido interditada pela Defesa Civil e ficava a pouco mais de cem metros do local onde um ônibus foi arrastado para dentro de um rio na enxurrada de fevereiro, que deixou 233 mortos e quatro desaparecidos.

A cidade ainda se recuperava da tempestade do mês passado, considerada a pior já registrada na cidade, quando foi atingida por mais uma chuva intensa, que começou na tarde de domingo. Em fevereiro choveu 260 milímetros (o que era previsto para todo o mês) em quatro horas de chuva ininterruptas. No último domingo, foram 365 mm em dois episódios espaçados, às 15h e às 20h, o que ajudou a escoar parte da água. Ainda assim, muitas ruas do centro ficaram alagadas. A previsão é de que a chuva continue até nesta terça-feira, 22.

Bombeiros retiram vítima de escombro de casa que desabou em Petrópolis; foram 365 milímetros de precipitação, em dois momentos Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

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Entre elas, a Washington Luis. O imóvel que desabou tinha três andares e era ocupado por seis pessoas, mas, segundo um vizinho, havia oito no local no início da noite de domingo, quando a chuva voltou a cair forte. “Falei com o Antônio na hora que começou a chover. Perguntei: ‘Antônio, como está aí em cima, você está monitorando?’. Ele disse: ‘tô, tô, tá caindo água pra caramba’. Eu falei: ‘tem que sair, bicho, está ficando muito estranho isso!’”, narrou o funcionário público Marcelo Barros, de 53 anos, ao Estadão.

Marcelo morava na casa imediatamente abaixo da amarela, e deixou o imóvel no fim da tarde. Antônio, cujo sobrenome o vizinho não recorda, era o morador do terceiro andar do imóvel que desabou.

Com a chuva cada vez mais insistente, Marcelo deixou sua casa no fim da tarde e retornou por volta das 21h, após receber uma imagem no celular que mostrava sua casa atingida pela residência do vizinho.

“O Antônio foi resgatado com vida. Nós voltamos pra cá, e logo em seguida chegaram os bombeiros. Ouvimos os gritos de socorro, eles correram para lá e conseguiram resgatá-lo. Parece que ele só quebrou a mão, mas estava em total estado de choque, gritando pela esposa”, contou Marcelo.

Quem também estava na casa que foi soterrada era o professor Mário Carvalho, que dá aulas de filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Ele veio ajudar a família que morava nesta casa”, contou a irmã, Isabel, no início da tarde desta segunda-feira. “Até agora não consegui informação nenhuma. Só posso dizer que ele era um rapaz muito bom. Ele veio visitar um amigo, e veio ajudar porque a mãe desse amigo tinha um problema de saúde, não conseguia se locomover. Quando veio essa chuva ele veio ajudar, pra carregá-la, mas era tarde demais.”

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Além do deslizamento da casa na Rua Washington Luiz, os bombeiros retiraram duas vítimas no Alto da Serra, região mais atingida pelas chuvas de fevereiro. O casal estava em uma casa já condenada pela Defesa Civil. A quinta vítima foi na rua Pinto Ferreira, no bairro de Valparaíso.

Deslizamento de terra; enxurrada de fevereiro deixou 233 mortos Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Segundo Marcelo Barros, chuvas fortes com cheias do Rio Quitandinha têm sido comuns. “É muito comum chover, e é comum que o rio encha. Não é comum encher a ponto de você ficar intransitável neste trecho, e é muito raro acontecer isto que aconteceu. Em 12 anos, não tinha visto”, disse. “Falta a presença da esfera pública na fiscalização, falta de manutenção no rio, na permissividade de você construir casa em alta inclinação, como era o caso da casa amarela, e o aquecimento global, que faz cada vez mais você ter essas chuvas torrenciais.”

Desde domingo, as sirenes que alertam para chuvas fortes têm tocado com insistência por diversos pontos de Petrópolis. Ao todo, a Defesa Civil atendeu a 126 ocorrências até a tarde de segunda-feira. Vinte carros que foram arrastados pelas chuvas foram recolhidos. Parte do comércio, em especial na região central e na Rua Teresa, foi mais uma vez invadida pelas águas.

O governador do Rio, Cláudio Castro, se reuniu com o prefeito Rubens Bomtempo para discutir formas de auxílio ao município. O governador afirmou que já liberou R$ 200 milhões para obras emergenciais na cidade. Segundo o governador desde a noite de domingo 150 bombeiros já estão trabalhando em Petrópolis.

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