Chefe do seqüestro comandou terror no Chile

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Por Agencia Estado
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O chefe do grupo de seqüestradores do publicitário Washington Olivetto é o terrorista chileno Maurício Hernandez Norambuena, de 43 anos, o Comandante Ferdinando, condenado três vezes à prisão perpétua no Chile. Norambuena era o número quatro na hierarquia da Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR), o braço armado do PC do Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet. Ele era o equivalente na FPMR a Humberto Paz, chefe dos seqüestradores do empresário Abílio Diniz e responsável pelas operações do grupo chileno Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). O chefe dos seqüestradores de Olivetto fugiu da prisão no Chile em 30 de dezembro de 1996, de helicóptero, com outros três terroristas. Desde então, era procurado pela Interpol. Naquele país, é acusado ainda de ter assassinado o senador Jaime Guzman, ideólogo da União Democrática Independente (UDI), partido do general Pinochet. O crime ocorreu na Universidade Católica de Santiago, em 1991. Também foi condenado pelo seqüestro do filho do proprietário do jornal El Mercúrio, Cristian Edwards, pelo atentado à bomba no Estádio Nacional e pelo assassinato do coronel do Exército chileno Luís Fontaine. Treinado na antiga Alemanha Oriental, o Comandante Ferdinando foi preso em Serra Negra, na sexta-feira, com outras cinco pessoas envolvidas no seqüestro de Olivetto. A maioria tinha passaporte argentino. Eles foram identificados como Ruben Oscar Sanches, de 30 anos, Carlos Renato Quiroz, de 28, Maitê Anália Belon, de 23, Rosa Amália Ramos Quiroz, de 37, prima de Carlos, e Frederico Antonio Arribas, de 30. Outros quatro participantes da quadrilha, que tomavam conta do cativeiro, estão sendo procurados. Seriam dois homens e duas mulheres. Uma delas, estaria de cabelos ruivos, pintados na semana passada. Os policiais da Divisão Anti-Seqüestro (Deas) apuram ainda o destino que os seqüestradores dariam ao dinheiro exigido pela libertação do publicitário. Poderia ser usado para financiar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo guerrilheiro colombiano, ou para benefício próprio. Um representante da Farc no Brasil disse ontem que a guerrilha não tem nenhuma ligação com o grupo de seqüestradores do publicitário Olivetto. Mas os seis presos disseram aos policiais da Deas que fazem parte de uma organização política e os US$ 10 milhões exigidos de resgate iriam para o exterior. Não disseram, porém, o nome da organização nem o país. Chile - O delegado Wagner Giudice, titular da Deas e responsável pelas investigações do caso, entrou em contato com a polícia chilena e recebeu detalhes da vida criminosa de Norambuena. Giudice está investigando a possibilidade de os outros presos estarem usando nomes falsos e de seus passaportes e documentos de identidade apreendidos serem falsificados. Uma das mulheres, Rosa Amália Ramos Quiroz, declarou ao Deas ser espanhola. Os demais - exceto Norambuena - disseram ser argentinos e seus passaportes expedidos por aquele país. Além de verificar nomes e fatos com a polícia chilena, Giudice também deve entrar em contato com a polícia argentina. Bucólica - O chileno e seus cúmplices tinham alugado a chácara do bairro das Posses em 11 de janeiro. Disseram a José Ribeiro, o proprietário, que estavam passando férias em Serra Negra por ser uma região muito "bucólica" e parecida com as montanhas do Chile onde tinham morado. Pretendiam ficar mais tempo se gostassem do lugar. Foi o proprietário que desconfiou do grupo e procurou a polícia. O material apreendido nas dependências da casa está sendo examinado pelos policiais da Deas. Havia na chácara disquetes, CD-ROMs, cartas escritas por Olivetto com apelos para que a família pagasse o resgate, nomes de empresários e industriais, retirados de publicações de economia, que poderiam ser futuras vítimas do grupo. Além desse material foram apreendidos livros, um notebook cuja memória está sendo analisada pelos peritos do Instituto de Criminalística (IC) e uma máquina fotográfica com um filme que está sendo revelado pelos policiais. Nos armários, muita roupa nova, sem uso, ainda com as etiquetas das lojas, material eletroeletrônico, perucas, bigodes e duas armas de calibre 9 milímetros com a numeração de série raspada. Maconha - Numa gaveta, os policiais encontraram 50 gramas de maconha. Sanchez disse aos policiais militares que, para acalmar o estresse do dia-a-dia, de vez em quando, alguns dos moradores da casa fumavam "um cigarrinho de maconha". Quando o grupo foi preso na chácara, o delegado Djahy Tucci, da Seccional de Polícia de Bragança Paulista, foi a Serra Negra e interrogou os integrantes um a um. Assim que viu as cartas escritas por Olivetto, o delegado fez contato com Giudice. Até então, não se sabia da ligação dos presos com o publicitário. Foi o delegado Giudice que identificou as pessoas para quem as cartas estavam endereçadas como parentes de Olivetto. Imediatamente, o delegado enviou uma equipe a Serra Negra. O policial titular da Deas tinha a certeza de que aqueles homens eram do grupo que estava em poder do publicitário. Ligação - O senador Romeu Tuma (PFL-SP) disse que os seis presos em Serra Negra devem estar ligados aos chilenos, argentinos e canadenses que seqüestraram Abílio Diniz e conseguiram reduzir a condenação total de 28 anos para 18 e serem transferidos para seus países de origem por meio da pressão das entidades de Direitos Humanos, do Partido dos Trabalhadores (PT) e de governos estrangeiros. Quando diretor-geral da Polícia Federal, Tuma foi à Nicarágua, por onde passara os seqüestradores de Diniz antes de se instalarem no Brasil. As autoridades nicaragüenses entregaram-lhe uma lista com nomes de pessoas seqüestráveis no Brasil, na Argentina e no México. Ao voltar ao Brasil, Tuma entregou a relação dos nomes dos brasileiros para o então governador paulista Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB, hoje deputado federal pelo PTB). "Parte do grupo preso continuou em liberdade e pode ser que alguns deles estejam entre os seqüestradores de Olivetto." A suspeita de Tuma está relacionada ao fato de uma brasileira, que seria Maria Ivone, gaúcha, jamais ter sido identificada, apesar de sua fotografia ter sido estampada num cartaz de procura-se. Essa mulher foi reconhecida na Deas recentemente por uma testemunha da captura de Olivetto. O reconhecimento foi feito por fotografia. A testemunha não teve dúvidas em apontar Maria Ivone, que vem sendo procurada desde o seqüestro de Diniz. Quando foi descoberto o cativeiro do proprietário do Grupo Pão de Açúcar, no bairro do Jabaquara, e de um apartamento nos Jardins, que era ocupado pelos canadenses Robert Spencer e Christine Lamont - ambos na zona sul paulistana -, os policiais apreenderam dezenas de documentos e fotografias de possíveis integrantes do grupo. Alguns foram identificados e afastados das investigações. Suas identidades tinham sido roubadas, furtadas, ou extraviadas e estavam em poder dos seqüestradores. A identidade das 12 pessoas das fotos, entre elas a de Maria Ivone, continuam sem identificação. O método usado pelos seqüestradores de Olivetto é o mesmo aplicado pelos responsáveis pelos cativeiros dos publicitários Luís Sales e Geraldo Alonso: uma lista com deveres e obrigações. Deveria olhar para a parede quando a comida era servida. Havia uma bacia no quarto para as necessidades fisiológicas. As câmeras de vídeo ficavam o tempo todo observando os movimentos do seqüestrado e, se gritasse ou tentasse chamar a atenção, ele era repreendido com agressão para que obedecesse "à risca as regras do cativeiro". O publicitário Geraldo Alonso, dono da Norton Publicidade, que ficou 36 dias em cativeiro em 1992, ao ser libertado após o pagamento do resgate, disse numa entrevista que o desespero era grande. Para fazer passar as horas e os dias, contava "grão por grão" de arroz servido pelos seus carcereiros nas refeições. 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