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Do cancã de Paris para o samba da Grande Rio

Dançarinas do Moulin Rouge causam frisson no Rio; fantasias custaram 10 mil, pagas pelo cabaré

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Balé clássico nos pés e "cadeiras" remexendo. Essa foi a técnica improvisada pelas bailarinas do Moulin Rouge para sambar ao som da bateria da Grande Rio, no desfile sobre o ano da França no Brasil, no domingo de carnaval. A coreógrafa do cabaré, Janet Pharaoh, lembra que os artistas do grupo dançam desde criança. "Eles têm a capacidade de copiar. O mais difícil será sambar e segurar a saia pesada do figurino", diz a inglesa. "Eles ensaiaram por uma semana. Estou estressadíssima. Tremendo", brincou. Acompanhe a cobertura online dos desfiles As 26 bailarinas e os 6 dançarinos chegaram na noite de quinta-feira ao Rio, com tratamento de celebridade. Foram recebidos pela bateria da escola de samba e as moças não se deixaram intimidar pelas passistas com microbiquínis - (quase) sambaram, rebolaram e cantaram o samba-enredo (a letra foi vertida foneticamente para que não fizessem feio na passarela). "Tivemos uma acolhida de estrelas. A integração foi perfeita", diz a francesa Audrey Bagassien, de 25 anos, uma das primeiras a "sambar". Ontem, chamaram a atenção por onde passaram, sempre uniformizados (até a roupa de banho tem o logotipo do cabaré). Pela manhã, o grupo se dividiu: parte foi ao Cristo Redentor, enquanto a maioria deu breve passeio pela Praia de Copacabana - eles tinham de se preparar para a coletiva de imprensa e para o ensaio no barracão da Grande Rio. TESTE Para as irmãs britânicas Natalie e Gaynor Sims, de 25 e 27 anos, participar do carnaval carioca é a realização de um sonho. "Antes do Moulin Rouge trabalhamos em cruzeiros. Chegamos a vir ao Rio. O problema é que o navio partia antes que pudéssemos aproveitar o carnaval. Agora não vamos apenas assistir. Vamos fazer parte de tudo isso", animava-se Natalie. As duas estão há três anos na companhia. E por pouco não perderam a audição em Londres, em 2005. "Houve uma série de atentados terroristas no metrô. Ficamos com medo de sair de casa. Na última hora, decidimos ir e fomos aprovadas logo na primeira tentativa", lembra Gaynor. Nem sempre é assim. Há candidatas que tentam por anos consecutivos até conseguir passar pela criteriosa seleção. São 500 moças por ano para 20 vagas. A altura mínima é de 1,72 metro. "É preciso ter tudo: ser linda, dançar bem, ter disposição", diz Audrey. Elas trabalham seis dias por semana - são duas apresentações por noite, para casa lotada (850 lugares). No horário de folga, se dedicam aos exercícios e aos ensaios. "Há poucas candidatas brasileiras. Talvez porque pensem que é um sonho impossível. Não é. Espero que depois dessa nossa visita surjam muitas candidatas brasileiras", disse a coreógrafa Janet. O presidente do Moulin Rouge, Jean-Jacques Clérico, lembrou que uma das grandes estrelas do cabaré foi a brasileira Watusi. "Por quatro anos, ela esteve à frente das apresentações." Apesar de acostumados à casa cheia, os dançarinos nunca se apresentaram para um público tão grande quanto o do Sambódromo. Muito menos com transmissão ao vivo para todo o País. "Esperamos receber uma chuva de emoção do público brasileiro. Muitos de nós vêm de famílias humildes. Estamos falando de igual para igual. Nos identificamos com esse povo", disse o bailarino cubano Michael Brown. CABARÉ O Moulin Rouge é uma das 17 empresas francesas patrocinadoras do desfile da Grande Rio. O cabaré, que aproveita a festa brasileira para comemorar seus 120 anos, deu autorização para o uso da marca pela escola e ainda arcou com os custos das fantasias. Cada uma saiu a 10 mil (cerca de R$ 30 mil), confeccionadas em Paris, a partir dos croquis do carnavalesco Cahê Rodrigues. "Por conta disso, elas terão um esquema de segurança nunca visto antes no Sambódromo. A escola chegou a montar uma tenda refrigerada, para que elas tenham privacidade e conforto antes do desfile", disse o empresário do cabaré no Brasil, Alexis de Vaulx. Há 23 anos no Brasil, onde é diretor comercial da Tok e Stok, Vaulx disse que propôs o enredo à Grande Rio quando soube que era o ano da França no Brasil. "Eu sabia que os eventos dessa comemoração seriam exposições de escultura, pintura. Mas nada melhor do que a cultura popular como instrumento de divulgação no mundo. Vivo num país em que grande parte da população não pode viajar. Se o povo não vai à França, a França vem ao povo." O grupo fica no Brasil por uma semana. Na sexta-feira, se apresenta no Bal Masqué, baile de máscara do Hotel Sofitel, em Copacabana. Os ingressos saem a R$ 480 por pessoa. "Infelizmente, elas não estarão no desfile do sábado das campeãs. Mas esperamos comparecer à quadra da Grande Rio na quarta-feira para comemorar a conquista do título", disse De Vaulx.

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