Tornou-se regra no Brasil criminosos fortemente armados invadirem cidades, atacarem unidades policiais e roubarem instituições financeiras ou empresas que armazenam valores. Estas quadrilhas utilizam-se de armas de grosso calibre, muitas delas restritas apenas às forças armadas, explosivos e veículos blindados. Este tipo de ação leva terror a cidades inteiras e tendem a ocorrer em locais com baixa estrutura policial.
A última ação deste tipo aconteceu na cidade de Guarapuava, no Estado do Paraná. Nesta ocorrência, policiais e pessoas foram baleadas e os criminosos estão foragidos. Estas quadrilhas são altamente especializadas. Possuem em sua estrutura criminosos que cuidam da contenção das forças de segurança, criminosos que conhecem como usar explosivos e criminosos que cuidam da posterior lavagem do dinheiro. Elas se beneficiam de inúmeras falhas do Estado.
Primeiro, assistimos no Brasil a uma diminuição da estrutura das policiais de investigação – a Polícia Civil. Isso faz com que seja difícil realizar investigações que levem a desbaratar as quadrilhas antes que elas atuem. Além disso, o efetivo combate a quadrilhas que praticam este tipo de crime depende do compartilhamento de informações de inteligência policial.
O problema é que nossas polícias têm muita dificuldade de conversar umas com as outras e até internamente. Com isso, a informação de inteligência fica restrita e não consegue se articular em um todo. É como se houvesse várias pessoas com parte das peças de um quebra cabeça e nunca mostrassem as peças umas às outras, ou seja, é impossível montar o quebra-cabeça inteiro.
Em segundo lugar, muitas destas quadrilhas são de um Estado e atuam em outro. Como há deficiência no compartilhamento de inteligência, as investigações ficam incompletas. Enquanto o crime é nacional, nossas forças de segurança atuam em uma lógica estadual e o governo federal pouco faz para que as polícias estaduais atuem de forma integrada. Há disputas entre as diferentes polícias e entre polícias e Ministério Público, o que dificulta a investigação.
Se temos dificuldades de desbaratar as quadrilhas antes que elas atuem, o mesmo acontece durante o evento em si. Quando a cidade é invadida, cada força policial tenta dar resposta individualmente, sem uma articulação de forças e um comando único.
As forças de segurança precisam trabalhar de forma coordenada para maximizar seu potencial de ação. É urgente que o Brasil desenvolva uma doutrina de resposta a incidentes criminais que articule e maximize a força de resposta do Estado. É preciso que incidentes assim geram estudos de caso nas forças de segurança com lições aprendidas que sirvam para tomadas de decisão e ensino de policiais para eventos futuros.
Depois que o evento aconteceu, é necessário que haja um isolamento adequado da área e que a perícia trabalhe de forma a coletar provas e indícios que fortaleçam a investigação. Há casos de quadrilhas serem desbaratadas por conta de uma embalagem de iogurte usada por um criminoso no local dos fatos. É fundamental que a produção de provas seja robusta para que os criminosos sejam presos.
Por fim, o Brasil precisa encarar crimes como o que aconteceu em Guarapuava como um ato equivalente ao de terrorismo. Os eventuais presos não podem sofrer as consequências das leis apenas como criminosos comuns. Infelizmente, sobra voluntarismo, competição e improvisação na resposta a esses crimes. Precisamos de coordenação, articulação de esforços, comando único e integração das forças de segurança. Sem isso, nossas cidades continuarão a ser tomadas por criminosos.
*É professor Titular da FGV-EAESP e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública