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Imigrantes concorrem com ambulantes em praia do Guarujá

Sob sol de mais de 30°C, de mochilas nas costas e com as mãos ocupadas com os objetos, eles vêm da capital e da região metropolitana de São Paulo para garantir alguns trocados em meio aos quase 2 milhões de banhistas

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

GUARUJÁ - Imigrantes de Congo, Senegal e Angola passaram a dividir espaço com os ambulantes brasileiros nas praias do Guarujá neste ano. Eles aproveitam a multidão na região para fazer bico no comércio de roupas e acessórios eletrônicos.

Movimento de banhistas na Praia de Pitangueiras, no Guarujá Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

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Sob sol de mais de 30°C, de mochilas nas costas e com as mãos ocupadas com os objetos, eles vêm da capital e da região metropolitana de São Paulo para garantir alguns trocados em meio aos quase 2 milhões de banhistas que transitam pelas areias com suas cervejas geladas na mão. Têm um objetivo em comum: juntar dinheiro para melhorar de vida e se reunir novamente com a família.

O senegalês Khadim Bam, de 28 anos, chegou na quinta-feira de Guarulhos para vender roupas de banho e caixinhas de som. Está no Brasil há dois anos para ajudar a mulher e uma filha. Desde então, a única comunicação que tem com a família é pelo aplicativo de mensagen Whatsapp. "Venho para cá no verão e no frio, vou para Santos", disse. Pelos objetos ele disse que lucrou R$ 100 no dia, valor que considerou baixo. "Está dificil, mas nessa época ninguém está em Guarulhos", diz.  Analfabeto e falando poucas frases em português, a meta de Bam é juntar dinheiro por cinco anos e depois trazer a família, que reclama de sua ausência sempre que trocam mensagens. "Lá não tem oportunidade", diz. O angolano Maico Bay, de 27 anos, caminhava cansado pela praia de Astúrias com uma mochila enorme nas costas. Era tudo que tinha: suas roupas, documentos pessoais e os acessórios que vendia, que incluíam até pau de selfie. "Não quero mais trabalhar nisso, estou cansado. Quero trabalhar com frango, igual meus amigos", conta ele. O rapaz diz que colegas que vieram com ele ao País conseguiram emprego em frigoríficos em outros Estados.  Bay veio do Brás, na região central de São Paulo, onde se abastece de pen drives, carregadores de celular e outros equipamentos. Na praia,  está hospedado num hostel onde pagou R$ 60 por dois dias. "O lucro é muito pouco", reclama.  O congolense Ibo Beng, de 38 anos, no Brasil desde 2015, foi o que mais viajou: ele conta que mora em Brasilia e veio de ônibus para o Estado de São Paulo para vender roupas no fim de ano. "Vim com um amigo e estamos morando juntos", disse. Mas se arrependeu ao ver que ninguém estava comprando nada. "Só consegui R$ 50 por dia até agora, nem paga passagem", lamenta.  

Comerciantes brasileiros que atuam com frequência na região dizem que este é o primeiro ano da "concorrência". "Eles chegaram do nada, eu ja contei mais de 100", afirma Marcelo Sousa, de 48 anos, que vende água há pelo menos cinco anos na cidade. "Eles estão ficando mais na (praia de) Astúrias, vieram aos montes", diz o vendedor de bebidas Carlos Carvalho, de 52 anos. Ao Estado, o secretário de Turismo de Guarulhos Emerson Lopes ressaltou que a venda de produtos sem autorização da Prefeitura é irregular e que todos que forem flagrafos serão autuados. "Se não tiver a devida licença, vai haver autuação e apreensão de mercadoria. Não é esse tipo de turismo que nós desejamos aqui na cidade".

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