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Indonésia expressa 'remorso' por violência no Timor Leste

Presidente expressou arrependimento, mas não se desculpou aos timorenses.

Por Da BBC Brasil
Atualização:

O presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, expressou "remorso" pelos abusos cometidos no conturbado período que antecedeu a independência do Timor Leste, em 1999. A declaração de Yudhoyono foi feita em Bali depois de o presidente receber o relatório final produzido por uma comissão bilateral que investigou os abusos cometidos pelas milícias quando a Indonésia desocupou o país, há nove anos. O documento da Comissão de Verdade e Amizade traz detalhes sobre os crimes "sistemáticos" contra humanidade e culpa o Exército indonésio por grande parte dos abusos. "Nós expressamos um profundo remorso pelo que aconteceu no passado e que causou a perda de vidas e bens", disse Yudhoyono. Apesar de expressar remorso pelos abusos cometidos durante o processo de independência, o presidente indonésio não se desculpou aos timorenses. Até agora, a postura oficial da Indonésia era a de que a violência no Timor Leste foi esporádica e resultado da ação isolada de poucos indivíduos. Estima-se que cerca de mil pessoas tenham sido assassinadas e muitas outras torturadas, estupradas e removidas durante o ano de 1999. Relatório Tanto o presidente da Indonésia quanto o chefe de Estado do Timor Leste, José Ramos Horta, aceitaram formalmente o conteúdo do relatório, produzido depois de três anos de investigações. O documento indica que os timorenses foram submetidos a uma campanha de violência sistemática e graves abusos aos direitos humanos no período que antecedeu a independência do país. Segundo o texto, os comandantes do Exército indonésio armaram e financiaram as milícias de forma sistemática para atacar os grupos pró-independência em uma campanha de violência na qual o Exército, a polícia e a administração civil são responsáveis. De acordo com a correspondente da BBC em Bali, Lucy Williamson, os timorenses terão dificuldade em aceitar parte do conteúdo do relatório da comissão bilateral. O documento ressalta, por exemplo, que os grupos pró-independência também teriam cometido graves violações aos direitos humanos no país, ainda que menores e de natureza menos séria. A comissão bilateral foi boicotada pelas Nações Unidas, que já haviam responsabilizado a Indonésia pelos abusos e ordenado que os responsáveis fossem entregues à Justiça. Futuro Apesar de aceitarem o conteúdo do relatório, os líderes dos dois países afirmaram que estão interessados em seguir adiante. Segundo eles, o enfoque das relações atuais é a amizade futura entre as duas nações, e não os problemas do passado. Nenhum dos líderes expressou interesse em processar indivíduos com base nos resultados do relatório. Apesar disso, alguns correspondentes acreditam que o conteúdo do documento pode vir a fortalecer os pedidos de processos pelos grupos ativistas. "A Justiça não é e não pode ser apenas referir-se a acusações, no sentido de mandar as pessoas para a cadeia. A Justiça deve também ser regeneradora", disse Ramos Horta. "Como líderes de nosso povo, precisamos guiar nossas nações adiante", afirmou. Grupos ativistas já afirmaram que irão pedir a acusação do general Wiranto, ex-chefe militar indonésio, que planeja se candidatar, pela segunda vez, à presidência da Indonésia. O general Wiranto foi indiciado formalmente por crimes de guerra em fevereiro de 2003, porque, como chefe das Forças Armadas durante a campanha, foi responsabilizado por parte da violência no Timor Leste. O Timor Leste votou pela independência do país em 1999, depois de 24 anos de ocupação. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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