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Desmatamento na Amazônia: o início do monitoramento por satélite, um espião a 915 km de altura

Capa e reportagem do Jornal da Tarde mostraram a novidade em dezembro de 1978:

Foto do author Edmundo Leite
Por Edmundo Leite
Atualização:

Em sua tradição de dedicar capas e páginas para reportagens sobre as questões ambientais, o Jornal da Tarde ocupou quase toda a sua primeira página de 14 de dezembro de 1978 com uma foto incomum para a época. Abaixo da manchete de letras garrafais “VEJA A DESTRUIÇÃO DA FLORESTA”, uma grande imagem aérea captada por satélite mostrava o desmatamento numa grande área da Floresta Amazônica.

“A foto, feita para dois institutos que pretendem vigiar nossas florestas, mostra uma área de 36.000 km2, igual à da Holanda ou do Estado do Rio. À esquerda, o desmatamento. Última pág.”, explicava a legenda da foto.

Jornal da Tarde - 14 de dezembro de 1978

Capa do Jornal da Tarde de 14 de dezembro de 1978 sobre satélite para medir o desmatamento na Amazônia. Foto: Acervo Estadão

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Se hoje a tecnologia que permite o monitoramento das florestas por satélites é algo corriqueiro, naquele final de 1978 era uma grande novidade, com uma tecnologia que estava disponível desde 1972, mas que naquele momento dava seus primeiros passos na área ambiental no País.

A reportagem na contra-capa do jornal “Um contrato para vigiar nossas florestas”, de João Batista Olivi, detalhava como seria o projeto pioneiro. A partir de fevereiro de 1979, as imagens do satélite Landsat seriam compartilhadas entre o IBDF [Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal] e o INPE [Instituto de Pesquisas Espaciais] para acompanhar o processo de desmatemanto em todo o território brasileiro.

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Leia a íntegra do texto publicado em 1978.

Reportagem de 14 de dezembro de 1978 sobre o satélite para medir o desmatamento na Amazônia. Foto: Acervo Estadão

Um contrato para vigiar nossas florestas

Reportagem de João Batista Olivi

A partir de fevereiro, o IBDF vai usar fotos tiradas pelo satélite Landsat para detectar o desmatemento no país.

O começo da vigilância de todas as áreas florestais do Pais. Esse é o objetivo do convênio a ser firmado entre o IBDF (Insti-tuto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) e o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais), entidade subordinada ao CNPq, visando o acompanhamento do processo de desmatamento em todo território brasileiro através de imagens transmitidas pelo satélite Landsat.

Para isso, pesquisadores do INPE, estarão em Brasília quarta-feira próxima, dia 20, para, na sede do IBDF, discutir os projetos técnicos a serem executados a partir de fevereiro de 79. Os projetos visam, primordialmente, capacitar técnicos do IBDF a continuar a vigilância iniciada pelo INPE em algumas regiões da Amazônia.

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O objetivo final do convênio não é só acompanhar sistematicamente os desmatamentos da Amazônia legal (como se informava anteriormente) mas, sim de todo o Pais. Além disso, o IBDF deseja saber também qual a velocidade dos desmatamentos no Brasil nos últimos 5 anos. Para isso, o Departamento de Sensoriamento Remoto do INPE terá de retroagir nas análises das imagens obtidas pelo Landsat desde julho de 72 (inicio da operação do satélite).

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O IBDF já está instalando um escritório em São José dos Campos, para acompanhar e assimilar a metodologia desenvolvida por técnicos do Instituto de Pesquisas Espaciais. O único problema surgido é que o SERE (Departamento de Sensoriamente Remoto do INPE) conta com número reduzido de cientistas para atender à demanda de serviços solicitada pelo IBDF.

O grupo de “Agronomia e Florestas” é formado somente por 17 pesquisadores, todos já envolvidos em outras atividades, como, por exemplo, previsão de safras.

De acordo com informações do INPE, o Instituto somente poderia fornecer três técnicos do SERE para o levantamento a ser feito com o IBDF. Por isso, haverá necessidade de o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal ceder técnicos seus para desenvolver as atividades planejadas pelo convênio.

Um dos resultados do trabalho será identificar as regiões com problemas de desmatamento, para planejar o processo de utilização das florestas. Ou seja: onde desmatar, com qual velocidade, como desmatar e, principalmente, quanto desmatar.

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Esse planejamento será necessário para impedir a devastação concentrada em algumas áreas, distribuindo equitativamente as regiões de desmatamento, visando preservar o ambiente e impedindo a desedificação atualmente em curso por exemplo no município de Paragominas (oeste do Estado do Pará).

O diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais, professor Nelson de Jesus Parada, explica a necessidade do planejamento frisando que “o sensoriamento remoto pode acompanhar e vigiar o desmatamento, assim como ajudar no planejamento, mas sozinho não trará a solução para a preservação das reservas florestais do País”.

Um espião a 915 quilômetros de altura

A cada 18 dias ele fotografa um mesmo local da superfície do Brasil. E cada foto representa uma área de 36 mil quilômetros quadrados - o mesmo que a superfície de um Estado do tamanho do Rio de Janeiro ou de um país com área quase idêntica ao da Holanda.

“Ele” é o Landsat, o “espião da terra”, um satélite construído pela NASA para fins pacíficos (voltado para o levantamento dos recursos naturais da Terra) e extremamente utilizado pelo INPE em São José dos Campos - o Brasil é o segundo país a utilizar fotos do Landsat.

A cada dia esse espião faz duas passagens sobre o Brasil, transmitindo a cada 30 minutos de 20 a 30 imagens da superfície do país. No final dos 18 dias, e depois de 430 imagens, o Landsat tira o “retrato de corpo inteiro” do Barsil, a uma altitude de 915 quilômetros da superfície da Terra.

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Com essas imagenso INPE está acompanhando a evolução do território nacional, principalmente da Amazônia e nas áreas de mais desmatamentos. E elas estão mostrando que o desmatamento está aumentando numa velocidade acelerada.

O ALERTA

Foi por iniciativa do INPE que um trabalho a esse respeito foi apresentado, há 15 dias, no Iº Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, realizado em São José dos Campos, visando demonstrar a potencialidade dos recursos naturais (e também a sua degradação) po meio do sensoriamento, via Land sat.

O Departamento de Sensoriamento Remoto do INPE foi acionado e selecionou 31 imagens da região dos rios Araguaia, Xingu e Tocantins (nordeste do Mato Grosso, oeste de Goiás e sudeste do Pará), cobrindo uma superfície de 552.558 quilômetros quadrados, equivalente à superfície da França.

O que se viu foram fotos com partes escuras (a vegetação da Amazônia) e marcas brancas, correspondentes às áreas desmatadas. O INPE somou as áreas brancas e o total obtido confirmou o desmatamento na região: 41.992 quilômetros quadrados já estão totalmente devastados, o que representa 7,6% da Amazônia. E o que é pior: mais da metade dos quase 42 mil quilômetros foram detectados em apenas quatro imagens das 31 selecionadas.

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Na mensagem a Geisel, um pedido pela Amazônia

A diretoria da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) enviou ontem ao presidente da República uma mensagem pedindo que seja impedida a destruição da Amazônia e acusando órgãos oficiais como Incra, o IBDF e a Sudam de assumirem atitudes contrárias à presrvação da área. “Estamos seguros de que Vossa Excelência não ligará vosso nome a esta página negra de nossa história”, diz a mensagem a Geisel.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira. Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo. Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

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