Às vezes, tenho dificuldades para explicar para amigos e familiares como funciona nosso trabalho em um fundo de investimento em startups de tecnologia, um fundo de venture capital. Gostamos de simplificar dizendo que investimos em empresas muito grandes quando elas ainda são bem pequenas. Detalhando um pouco mais, escolhemos empresas em estágio inicial que acreditamos que possam encontrar um modelo de negócios viável e crescer muito nos próximos anos usando tecnologia para resolver problemas reais de grandes mercados. Nem sempre acertamos. Isso faz parte da natureza do negócio.
O que é interessante é que mesmo pessoas mais familiarizadas com o mundo dos negócios e dos investimentos em empresas às vezes tem dificuldades com a natureza dos investimentos em startups. Vejo isto acontecer hoje em dia, mas também já havia visto isto quando fui executivo de empresas já consolidadas. Agora, acho que posso entender um pouco melhor. Uma situação comum acontece quando comentamos sobre uma determinada startup e as pessoas começam imediatamente a fazer uma lista das coisas que podem dar errado. "Eu não gosto deste produto pois prefiro fazer assim ou assado." "Basta a grande empresa X, atual líder do segmento, fazer isto ou aquilo para ter um produto igual ou melhor." "Mas a regulamentação para este modelo ainda é inexistente." As razões para dar errado são muitas, tornam-se o foco da conversa e a conclusão é, quase sempre, que aquela idéia não dará certo.
Confesso que todas estes pontos são, em grande parte, válidos. E que nem sempre os empreendedores possuem todas as respostas para eles naquele momento. Muitas vezes estes riscos se materializarão ao longo da vida da startup e os fundadores terão que se adaptar rapidamente ou correrão o risco de ver seu negócio afundar rapidamente.
O que normalmente acontece, com negócios mais maduros, é que o foco é em evitar que grandes problemas aconteçam. O estado mental é o de minimizar riscos o tempo todo e focar em evitar o que pode dar errado. Afinal, há muito o que perder. Não é nosso foco hoje, mas vale dizer que esta dinâmica é um componente importante do porquê esses mesmos negócios tem muita dificuldade em inovar, desenvolver novos produtos e acabam sofrendo ao competirem com empresas menores e mais ágeis.
No mundo das startups, apesar de navegarmos o tempo todo num oceano de riscos e incertezas, o foco é no que pode dar certo. Pensamos no que pode acontecer se a empresa conseguir emplacar algumas boas ideias e executá-las com maestria pelos próximos anos. "E se conseguirmos resolver o problema X com uma determinada tecnologia?""E se conseguiremos levar esta solução para toda a população através de seus smartphones?" "E se pudermos oferecer um produto mais barato pois nossa tecnologia nos deixa mais eficientes?"
É hora de focar no que no que pode dar certo. Pois, às vezes, dá muito certo!
É SÓCIO DO FUNDO REDPOINT EVENTURES
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