Médico foi assassinado ao cobrar dívida de grupo de estelionatários que participava, diz polícia

Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, foi torturado e morto em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Investigadores dizem que cobrança de R$ 500 mil motivou crime. Quatro suspeitos foram presos

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

O médico Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, foi torturado e morto em Dourados, no Mato Grosso do Sul, por cobrar uma dívida de R$ 500 mil, segundo a polícia. A suspeita, Bruna Nathalia de Paiva, de 28 anos, seria a cabeça de uma organização criminosa que aplicava golpes pela internet e clonava cartões de crédito.

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Conforme a Polícia Civil, o médico emprestava o rosto à quadrilha e sacava o dinheiro desviado para contas falsas. Além de Bruna, a polícia prendeu Gustavo Kenedi Teixeira, de 27 anos, Keven Rangel Barbosa, de 22, e Guilherme Augusto Santana, de 34, por participação direta no assassinato do médico.

Conforme o delegado da Polícia Civil Erasmo Cubas, responsável pela investigação, a mulher clonava cartões, inclusive de pessoas mortas, e transferia valores para uma conta bancária. Gabriel ia à agência e fazia os saques, entregando o dinheiro à quadrilha.

“Ele acabou tendo esse envolvimento com o crime de estelionato. Durante a investigação, a gente identificou que ele cobrava uma dívida acumulada de cerca de R$ 500 mil da Bruna devido a esses serviços e, em certo momento, passou a fazer ameaças de entregar o esquema dela à polícia. Foi aí que ela decidiu matá-lo”, disse à reportagem.

Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, foi encontrado morto em uma casa de Dourados (MS) Foto: Reprodução/Instagram/@hospitaldavidaupa

Segundo o delegado, Bruna tinha amizade com Gustavo, que já tinha passagem por roubo, e ofereceu uma “quantia irrecusável” - cerca de R$ 150 mil - para que ajudasse a matar o médico. Gustavo agenciou os outros dois suspeitos, que não tinham antecedentes criminais.

A mulher atraiu Gabriel para uma emboscada, alegando que um amigo precisava de alguns contatos para trazer drogas da fronteira com o Paraguai. Levado a um cativeiro, Gabriel foi asfixiado com sacolas plásticas e torturado, tendo a garganta perfurada. “Acreditamos que houve tortura, pois ele ficou agonizando de 24 a 48 horas antes de morrer”, disse o delegado.

Após a morte, suspeita tentou aplicar golpes

Depois da morte do médico, Bruna se apossou do celular dele e usou para golpes, enviando mensagens para contatos do médico com pedidos de dinheiro. Um amigo de Gabriel depositou R$ 2,5 mil em uma conta indicada por ela.

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Conforme o delegado, embora a autoria do assassinato tenha sido esclarecida, as investigações devem prosseguir para que seja dimensionada a extensão da quadrilha de Bruna. A mulher será ouvida formalmente nesta quarta-feira, 9. Os outros presos já confessaram a participação no crime.

Ainda segundo o delegado, Gabriel conheceu Bruna quando cursava medicina na Universidade Federal de Dourados. A cidade fica no sul do Estado, próxima à fronteira do Brasil com o Paraguai. Os dois se encontraram em festas e o médico foi cooptado para fazer parte da quadrilha que aplicava golpes clonando cartões.

Ele foi usado para sacar o dinheiro, mas a jovem não pagou a parte combinada, resultando na dívida que ele passou a cobrar. “Nesse esquema de estelionato, a participação dele é líquida e certa. Sabemos também que ele não usava sua condição de médico para isso”, disse Cubas.

Conforme a Polícia Civil, o médico emprestava o rosto à quadrilha e sacava o dinheiro desviado para contas falsas Foto: Polícia Civil-MS

Os quatro suspeitos do assassinato do médico foram presos em Pará de Minas (MG), na segunda-feira, 7, em operação da Polícia Civil de Dourados e da cidade mineira, com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

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Eles foram escoltados pela PRF até o Mato Grosso do Sul na madrugada de terça, 8. À polícia, eles disseram que viajaram de ônibus da cidade mineira até Dourados para cometer o crime. Antes, foram até o Paraguai e compraram réplicas de armas de fogo usadas para render o médico. Após a morte de Gabriel, eles usaram o mesmo meio de transporte para voltar a Pará de Minas.

Esquema usou casas alugadas

Com trabalho de inteligência, a polícia descobriu que Bruna Nathália alugou dois móveis em Dourados, entre os dias 26 e 27 de julho, usando uma plataforma de locações. Um deles foi alugado pelo período de um dia, apenas para a estadia dos criminosos. O outro foi locado por 15 dias, e seria usado para matar o médico e deixar seu corpo no local.

Bruna já morava em Minas quando começou a ser ameaçada por Gabriel. Após o crime, o rastreamento do celular do médico indicou que ele estava sendo usado na cidade mineira.

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O crime aconteceu no dia 26 de julho. Instruído por Bruna, Gustavo se passou pelo comprador de drogas e marcou um encontro com Gabriel em uma casa da Vila Hilda, na zona sul de Dourados. Quando chegou ao local, o médico foi rendido pelos três, amarrado e começou a ser enforcado com um fio. Como reagiu, foi espancado com as réplicas de pistolas. Quando a vítima perdeu a consciência, eles ainda perfuraram sua garganta.

O corpo foi encontrado apenas no dia 3 de julho. Uma vizinha sentiu um cheiro forte vindo da casa e viu a jaqueta branca do médico no carro dele, que estava estacionado ao lado do imóvel.

Depois de passar por perícia no Instituto Médico Legal (IML) de Dourados, o corpo de Gabriel Rossi foi sepultado, no último dia 5, na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, sua terra natal. Em Dourados, ele trabalhava em uma unidade de pronto atendimento (UPA), no Hospital da Vida e na Caixa de Assistência dos Servidores de Mato Grosso do Sul.

A reportagem entrou em contato com o advogado que acompanhou os depoimentos dos três homens suspeitos do crime, mas a defesa informou que não se manifestará. Bruna, que será ouvida nesta quarta, ainda não tinha defensor constituído.

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