Milhares enfrentaram chuva e frio em peregrinação para ver o papa

Prefeito do Rio acredita que entre 2,5 milhões e 3 milhões de pessoas participem dos últimos eventos na Praia de Copacabana; número supera registro das festas de fim de ano

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Por TIAGO ROGERO E ROBERTA PENNAFORT
Atualização:

Atualizado às 13h38.

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A cidade agora está com um dia claro, sem chuva, e isso dá ainda mais ânimo para os peregrinos. O percurso de 9,5 km entre a Central do Brasil, no Centro, e Copacabana apresenta para os peregrinos alguns dos cenários mais bonitos e tradicionais do Rio: a igreja da Candelária, o Aterro do Flamengo, a Enseada de Botafogo, o Cristo Redentor ao longe, o Pão de Açúcar de perto e a Praia de Copacabana.

Milhares de peregrinos enfrentaram chuva, frio e depois sol e novamente chuva na caminhada entre a estação ferroviária Central do Brasil (Centro) e a Praia de Copacabana (zona sul do Rio). Tiveram de resignar-se à falta de banheiros químicos e, em alguns pontos, a tomar cuidado com ônibus, caminhões e carros, já que a prefeitura não cumpriu a promessa de interditar o percurso ao tráfego para a passagem dos fiéis. Foram problemas menores que parecem não tê-los afetados. A marcha teve como marca a alegria dos peregrinos.

A peregrinação é uma das formas tradicionais de manifestação da religiosidade popular dos católicos. Ela tem um sentido simbólico de "caminhada pela terra em direção ao céu" e é um exercício de orações em grupos e de penitência. Nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJs), as peregrinações têm sido os momentos de confraternização e festa que antecedem a noite de vigília de orações.

No centro do Rio, os problemas aconteceram em dois locais: na saída da Central e na avenida Presidente Wilson, quando os peregrinos precisaram cruzar para o Aterro do Flamengo. Apenas em dois locais havia banheiros químicos; num deles, só dois, um masculino e um feminino, gerando filas enormes.

A aglomeração maior de peregrinos em filas foi em frente ao Museu de Arte Moderna (MAM), no início do Aterro do Flamengo, onde eram entregues os chamados kit''s Vigília, que têm de salada de atum a chocolate, com opções para lanche e jantar.

A enfermeira Elisângela Czekalski, de 27 anos, é cadeirante, veio de Recife para a Jornada e fez a peregrinação acompanhada da irmã e de amigos. Era ela, sozinha, quem empurrava a cadeira. "Tenho de fazer algumas paradas porque dói o ombro, os braços e as mãos, mas vou até o fim", disse Elisângela, abrigada em uma paróquia no complexo de favelas da Maré (zona norte). "Estou amando! Vivenciando cada momento!", falou.

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Elisângela estava preparada para passar a noite na praia de Copacabana. "Trouxe tudo: saco de dormir, colchonete, uma manta para não passar frio". Para chegar à praia nos dias de eventos, ela tem usado o ônibus. "Muitos não têm elevador para cadeirantes, mas os motoristas têm sido muito atenciosos".

Um animado grupo de duas equatorianas, três bolivianas (todas freiras, de hábito) e duas peruanas seguia pelo Aterro. "Queremos ver o papa, escutar sua palavra. A peregrinação faz parte disso", disse uma das equatorianas, a professora Irene Uchoa, de 48 anos, que ensina crianças em Quito. "Vamos passar a noite na vigília", garantiu, mostrando um saco de dormir. Mesmo com sapatos, e não tênis (como a maioria dos peregrinos), as freiras não pareciam estar incomodadas com os quase 10 km de percurso até a orla.

Durante a peregrinação, grupos cantavam músicas religiosas - com direito a hits antigos do padre Marcelo Rossi ("o Senhor tem muitos filhos, muitos filhos Ele tem...") -, outros faziam orações. Sempre com muito bom humor. Ao cantar "Garota de Ipanema" com seu grupo, um padre brincou: "Ó, por que estou tão sozinho? Porque sou padre, oras!", provocando gargalhadas ao redor. Quando faltavam 2 km para o fim da peregrinação, um fiel olhou para cima e brincou: "Cadê meu carro, Deus?"

Nem todos seguiram a peregrinação até o fim. A aposentada Marileia Rukuiza, de 63, deixou o percurso na altura da Glória (zona sul), praticamente no meio. "Não consigo ir até o final, mas acho que já fiz a minha parte. Mais tarde, vou para Copacabana ver o papa de perto", disse ela, que é voluntária na Jornada. "Na nossa paróquia, já recebemos até 150 peregrinos, a maioria de países sul-americanos. Não falo espanhol, mas tento, e a gente se entende", disse.

Público.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), acredita que o público que vai à Praia de Copacabana neste sábado, 27, e no domingo, 28, para ver o papa Francisco baterá todos os recordes da história dos réveillons na cidade. "Acho que serão 2,5 milhões ou 3 milhões de pessoas. O Rio de Janeiro inteiro vai para Copacabana ou para o roteiro do papa para se despedir. Estou vendo gente que não é católico querendo ver o papa", disse Paes depois de monitorar imagens da cidade no Centro de Operações Rio (COR).

O prefeito disse que serão inevitáveis transtornos nos deslocamentos, mas afirmou que o esquema de transporte está melhorando ao longo da Jornada Mundial da Juventude. "São cinco réveillons em uma semana. Vai ter sempre algum grau de tumulto, mas está cada dia mais organizado".

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Mais cedo, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também procurou minimizar os problemas e afirmou que as questões de logística são próprias de um evento que reúne quase 2 milhões de pessoas. "As coisas estão funcionando. Este aqui é o maior estresse que a cidade poderia sofrer. Nem a Copa do Mundo nem as Olimpíadas vão trazer tanta gente", afirmou.

O prefeito revelou que a produção de lixo dos peregrinos foi de apenas 47 toneladas em quatro dias, quando apenas na noite do ano novo os garis retiram 300 toneladas de lixo. Paes reiterou que a JMJ é um sucesso. "Tem problemas sim, mas não é essa desgraça. Ainda tem muita gente chegando. O papa papou o Rio."

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