Moradores lutam contra mudança de zoneamento

Projeto de lei libera comércio na Rua Alvarenga, no City Butantã

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Comerciantes e moradores do City Butantã, na zona oeste de São Paulo, estão em pé de guerra, por causa do zoneamento da Rua Alvarenga, na saída da Ponte do Morumbi. Embora seja residencial desde a década de 70, a via tem áreas comerciais por toda a extensão. Os moradores querem que a lei seja respeitada e os comércios, hoje irregulares, sejam lacrados. Já os comerciantes pedem a mudança na categoria de zoneamento para que possam se regularizar. Tramita na Câmara Municipal um projeto de lei do vereador Aurélio Miguel (PR) que prevê a instalação de comércios de pequeno porte no local. A mudança ocorreria no trecho que vai da Ponte Cidade Universitária até a Avenida Vital Brasil. A preocupação dos moradores é de que a legalização descaracterize o bairro e torne o trânsito ainda mais caótico. Ontem, eles penduraram cerca de 80 faixas no entorno da Rua Alvarenga, para protestar contra o projeto. "O bairro vai desaparecer", afirma a presidente da Sociedade Moradores City Butantã, Marion Lautenberg. "Não temos lugar para estacionamento e o aumento no tráfego vai colocar em risco nossos idosos, crianças e pessoas com deficiência." Atualmente, além de residências são permitidos sete tipos de estabelecimentos de prestação de serviço na rua - incluindo escritórios e consultórios médicos. Além de manter o que já é permitido, o projeto de lei 815, de dezembro de 2007, autoriza a instalação de agências bancárias, padarias, escolas, salões de beleza, comércio de móveis, tecidos e presentes. Aurélio Miguel argumenta que a rua já perdeu o caráter residencial. "É regularizar o que já existe lá." Em negociação com os comerciantes, os moradores propuseram triplicar o número de serviços oferecidos, mas até agora não houve acordo. "Enquanto isso, o bairro se deteriora", diz Marion. "Já tem até ambulante vendendo abacaxi em fatia nas ruas." Desde novembro, a Subprefeitura do Butantã lacrou 20 estabelecimentos da Alvarenga. Um comerciante que teve a loja de lustres interditada cobriu a fachada com lona preta e deixou um recorte em forma de cruz. No muro, uma faixa: "Aqui jaz quatro empregos diretos e mais 20 indiretos." A loja da frente, de esquadrias de madeira, também já foi lacrada, mas reabriu com uma liminar. A proprietária, que trabalha na rua há 13 anos, considera a reivindicação dos moradores "radical e elitista". "Estamos fora da lei, mas lutamos pela legalização", diz a comerciante Enriqueta Pelegrina, de 52 anos. "Só queremos trabalhar." Para o urbanista Nabil Bonduk, a melhor alternativa para o local é mesmo uma zona de serviços. Mas a decisão, segundo ele, deve vir de um acordo. "É preciso verificar quais são os usos compatíveis e estabelecer exigências", disse. Procurada, a subprefeitura não se posicionou sobre o impasse. Por meio da Assessoria de Imprensa, informou que apenas faz a mediação do conflito.

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