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Signo de Viagem: Áries | Nova York na Primavera

Em abril, um desabrochar na metrópole que faz 400 anos em 2024. Bem-vindo/a à Nona Casa: a cada mês um destino sob a inspiração de um signo

Foto do author Nathalia Molina
Por Nathalia Molina
Atualização:

Um começo sozinha. Nova York. Pulsão de vida. Brutaflor de tantos quereres. Tulipas em pétalas, não em plástico. A primavera desabrochava a Park Avenue. Tão raro quanto viajar sozinha aos 20 anos pro exterior, no início da década de 90, era encontrar tulipas no dia a dia no Brasil.

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Sem smartphone, coube a retina enviar pra memória o salpicar de copinhas no canteiro central da avenida, em contraste com o monocromático dos prédios em paralelo. Lá no alto, um signo de viagem: o letreiro da PanAm (pouco depois retirado dali). Ela estava na maior metrópole planetária, cenário do seu imaginário, como nos filmes.

Primavera em Nova York - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Tons mal focados, gravados em rolos de filmes da fotógrafa amadora que só pensava em começar a fazer, mesmo sem saber. Se meteu na guerra de cotovelos atrás de ser atendida na masculina B&H, ainda na 17th Street, pra comprar sua 1ª câmera num domingo qualquer. Não era uma portinha, mas estava longe de ser grande, se lembra vagamente. Os anos desbotaram não apenas o papel fotográfico.

Susto ela levou quando uma década depois, durante outra viagem a Nova York, virou uma esquina e deu de cara com a superloja da B&H na 34 com a 9ª. Gostou de saber que continuava fechando aos sábados, um dos costumes do mundo novo que conheceu em 1992, junto com os longos cachos masculinos. Antes nunca tinha visto um judeu ortodoxo, embora tenha sido do Recife Antigo que aqueles judeus tinham partido, como descobriu em viagens mais adiante.

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Grand Central Station, em Midtown - Foto: Eric Hsu/NYC Tourism

Caminhou das tulipas até a Grand Central pra ir com o metrô 4 pro Brooklyn. Queria conhecer as famosas cerejeiras em flor do jardim botânico, no parque nos fundos da construção do século 19 onde já funcionava o Brooklyn Museum - em 1997, o museu ganhou of Art no fim do nome e uma fama crescente entre turistas.

Deitada no gramado, sob o túnel de árvores, perdeu a noção das horas sentindo o vento balançar o céu rosé. Livre, se descobriu entre as dezenas de milhares de pessoas que apreciam o Sakura Matsuri a cada primavera. Até hoje é o maior festival da floração em Nova York, com 220 cerejeiras japonesas de umas 30 espécies, concentradas no 1º jardim japonês público dos Estados Unidos. Abriu em 1915, somente 5 anos depois da inauguração do próprio Brooklyn Botanic Garden.

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Símbolos populares do Japão, 3.000 sakuras foram dadas aos americanos em 1912. Em vez de se lançar ao Brooklyn, teria sido mais prático ela pegar o 1 na Times Square pra ver essas cerejeiras doadas pelos japoneses. Fincadas no Upper West Side, estão no Sakura Park, na 122 com a Riverside Drive.

Ou, mais fácil ainda, seguir o traçado reto de Manhattan e subir do lado leste da Grand Central em direção a Uptown, a bordo do 6, pra andar da Lexington até o Central Park e ver lá cerejeiras emolduradas pela cidade. Fez isso no dia seguinte. Cedar Hill, entre a 74 e a 77, concentra a maior florada da árvore dentro do maior parque de Nova York (3,41 km²).

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Cerejeiras no Central Park  

De lá, incansável na busca por beleza natural, poderia caminhar pelo parque até a paisagem bucólica do lago de Bow Bridge ou do pátio do Tavern on the Green, ainda que nem sentasse pra comer no restaurante no Central Park.

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Em vez disso, se deixou levar no sentido oposto, pelo entusiasmo de estar novamente diante do florescer de Van Gogh no Met. A 5 minutos das cerejeiras do Central Park, os girassóis do holandês transbordavam no vaso ou morriam sobre a mesa. A sala no alto da escadaria do museu brotava em íris, oleandros, rosas, orquídeas, oliveiras e ciprestes.

Embora a visita seja de dia, o Met será eternamente noite estrelada pra ela. The Metropolitan Museum of Art, desde sempre um de seus preferidos. Ali tinha sido apresentada ao modo absolutamente único de se expressar do gênio. Aquelas tintas e pinceladas, que ousadia.

A Noite Estrelada, de Van Gogh, no Metropolitan Museum of Art  

Ela estava no mundo. A cabeça girava enquanto o olhar fitava o holandês. O holandês na Nova Amsterdã - o museu dele na capital da Holanda só conheceu muitos anos depois.

Era toda dela A Ilha Prometida. O livro que devorou falava da fundação por colonos em 1624. Sob a ganância do comércio de pele, a ilha foi entreposto da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Avançando na história, mudou de colonizador e de nome 40 anos depois, sob o domínio do Império Britânico e do Duque de York.

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Numa reconstrução de identidade, a cidade virou promessa de independência e renascer pra milhões entre o fim do século 19 e o princípio do 20. Um desabrochar de indivíduos. À prova do tempo, seu interesse maior por Ellis Island do que pela vizinha Estátua da Liberdade atravessou os anos.

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Assim como aconteceu na paulistana Mooca décadas depois, a exibição da antiga hospedaria de Nova York nos anos 1990 lembrava seus malfeitos trabalhos de escola. Não poderia supor que, nos 2 casos, teria a felicidade de visitar posteriormente um Museu da Imigração bem montado no lugar.

Museu da Imigração, em Ellis Island - Foto: Julienne Schaer/NYC Tourism

Naquele início da década de 90, bastam pra ela as histórias e os desejos guardados pelas paredes da antiga hospedaria. Ficou fascinada por aquilo. Gente com coragem pra agir. 'If I can make it there, I'm gonna make it anywhere': sentimento cantado por Frank Sinatra e Lisa Minelli no show do Radio City Music Hall, seu presente de aniversário pra mãe.

New York, New York. 21 anos, ela na idade legal. Tanto adiante. Cabelo e sobrancelhas vermelhas. Chapéu a favor do estilo, contra o sol na pele do rosto. Sopro de individualidade em Lower Manhattan.

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A idade legal. Já dava pra pedir Sex on the Beach, e fazer sexo depois de uma noite em Copabacana, aprendendo a dançar salsa e merengue, ao som da banda na 60 do lado leste.

Cerejeiras, orquídeas, maternidade. Brincos de princesa na varanda do Jardim Paulista. Campos de gérbera em Holambra, a holandesa paulista. Da maior produtora de flores do Brasil, tulipas pra cultivar no vaso em São Paulo. Amarelo girassol de Van Gogh nas paredes do quarto do quase-ariano filho.

É Nova York dando muda. Ô, magnetismo.

 

Áries | Nova York na Primavera abre minha nova série mensal aqui no Estadão. Bem-vindo à Nona Casa: a cada mês um destino visitado sob a inspiração de um signo.

As fotos antigas desta publicação foram tiradas em 2005, quando eu já era jornalista de viagem e fui a Nova York cobrir a principal feira do setor de turismo dos Estados Unidos. Na época, conhecida apenas como Pow Wow; atualmente, IPW (International Pow Wow).

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QUEM FAZ

Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja, no grupo gratuito no WhatsApp e em comoviaja.com.br

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