Governo e Congresso preparam ‘orçamento de guerra’ com pacote de socorro ao Rio Grande do Sul

Medidas em discussão incluem retirar recursos de limites fiscais, renegociar dívida do Estado, autorizar municípios a aumentar despesas e liberar emendas parlamentares

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Por Daniel Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - O governo federal e o Congresso Nacional discutem a elaboração de um “orçamento de guerra” com um pacote de socorro ao Rio Grande do Sul. O Estado enfrenta uma calamidade devido às chuvas, que deixaram 83 mortos, além de desaparecidos e desabrigados. Em várias cidades, há imóveis destruídos, além de estradas e pontes colapsadas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou uma comitiva de ministros, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, para visitar as áreas atingidas.

Lula levou comitiva de ministros, presidentes da Câmara, do Senado, do TCU e ministro do STF para Porto Alegre.  Foto: Mauricio Tonetto/Secom/Governo

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Ao levar o grupo para o Rio Grande do Sul, o objetivo do governo é construir um pacote de socorro com respaldo financeiro e jurídico, assim como ocorreu na pandemia de covid-19. O governador do Estado, Eduardo Leite, afirmou que a situação exige um tratamento de “pós guerra”.

No momento, autoridades do governo e do Congresso discutem:

  • criar um orçamento de guerra com liberação de recursos federais para o Rio Grande do Sul fora das limitações fiscais, entre elas o teto de despesas do arcabouço fiscal, a meta de resultado primário e a regra de ouro das contas públicas;
  • criar um programa de socorro às empresas gaúchas que sofreram a calamidade;
  • renegociar a dívida do Rio Grande do Sul com a União;
  • liberar emendas parlamentares para o Estado que já estão autorizadas no Orçamento; e
  • autorizar o Estado e os municípios gaúchos a aumentarem despesas além da sua arrecadação.

Nesta segunda-feira, 6, integrantes do governo e do Congresso devem se reunir com equipes técnicas, ministros e parlamentares para definir as regras específicas, o alcance do pacote e se haverá um limite financeiro para o socorro ao Estado. Tudo indica que, no momento, não será estabelecido um limite de gastos. Também é preciso discutir se haverá necessidade de aprovação de novas leis ou mudanças na Constituição.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse ao Estadão que as medidas estão sendo estudadas. Ela citou que, na pandemia, o Congresso alterou a Constituição e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) deixando um regime pronto para o enfrentamento de calamidades.

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Ou seja, muita coisa não dependeria de aprovação de novas leis ou mudanças na Carta Magna. “Estamos estudando. Já temos dispositivo constitucional prevendo e alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal quando tivemos a pandemia”, afirmou a ministra.

Lula também levou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para Porto Alegre e disse que o chefe da pasta é sensível a uma negociação da dívida do Rio Grande do Sul com a União.

“Não haverá impedimento da burocracia para que a gente recupere a grandiosidade desse Estado”, disse o presidente. Até o momento, o governo não liberou recursos extraordinários do Orçamento da União para o Rio Grande, e há expectativas de que isso ocorra a partir desta semana.

Moradores são resgatados de barco em Canoas, uma das cidades mais castigadas da Grande Porto Alegre Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Ao longo desta semana, representantes do governo afirmaram que a orientação do presidente Lula é que não haja um limite financeiro para o socorro ao Rio Grande do Sul e que sejam liberados todos os valores necessários no Orçamento.

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“Estamos numa guerra e numa guerra não há limitações, não há restrições legais de tempos comuns. Há necessidade de retirar da prateleira e da mesa as travas e as limitações para que nada falte ao Rio Grande do Sul para sua reconstrução”, afirmou o senador Rodrigo Pacheco, na coletiva ao lado de Lula.

Vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin defendeu um regime jurídico especial para o socorro ao Estado. “A adoção de um regime jurídico especial e emergencial transitório para essa catástrofe climática poderá propiciar as devidas autorizações, especialmente legislativas, para que juízes e juízas, quando chamados ou tomarem iniciativas, interpretem a Constituição e e as leis excepcionalizando determinados limites que não são compatíveis com essa emergência climática no Rio Grande do Sul”, disse o ministro.

As autoridades também devem discutir o poder de fiscalização dos recursos emergenciais, flexibilizando as regras para a calamidade. “Em tempos normais, a burocracia realmente precisa ser aplicada para que não haja desvios, mas em momentos graves como esse o importante é que todos estejamos mirando a defesa da população e o salvamento das pessoas”, afirmou o presidente do TCU, Bruno Dantas.

A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional editou nova portaria, publicada em edição extra Diário Oficial da União, alterando ato anterior e ampliando para 336 municípios gaúchos o reconhecimento do estado de calamidade pública em razão das chuvas intensas que atingem a região. Em Portaria publicada mais cedo, o governo federal havia reconhecido o estado de calamidade em 265 municípios.

Desastres naturais causaram prejuízo de R$ 105 bilhões ao Brasil

Desastres naturais, como chuvas no Rio Grande do Sul, custaram mais de R$ 105 bilhões ao País. Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios calcula prejuízo com fenômenos climáticos em 2023. Os dados foram levantados por meio do que Estados e prefeituras relataram ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres S2iD, plataforma do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

Conforme o estudo, o setor privado arcou com 69% do prejuízo – R$ 72,6 bilhões. Os prejuízos públicos somaram R$ 23,8 bilhões (22,6%) e houve ainda danos materiais de R$ 8,8 bilhões (8,4%). Segundo especialistas, eventos extremos, como tempestades e estiagens, vão piorar com aquecimento global. /COLABOROU SANDRA MANFRINI