O péssimo desempenho da indústria em dezembro refletiu uma conjunção de fatores econômicos desfavoráveis que não tende a se repetir no primeiro trimestre deste ano, afirmou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em diagnóstico divulgado nesta quarta-feira, a instituição ressalta que janeiro já trouxe sinais alentadores à economia --como o crescimento da produção e venda de veículos e a elevação do consumo de energia elétrica-- e afirma que o quadro recessivo "não está posto para a economia brasileira". "A possibilidade de o dezembro negro se repetir no primeiro trimestre é muito pequena", afirmou a jornalistas Márcio Wohlers, diretor de Estudos Setoriais do Ipea, ao comentar o estudo. Ele argumentou que o ciclo de expansão da produção industrial brasileira já dava sinais que havia atingido seu pico e iria começar a desacelerar mesmo antes do agravamento da crise financeira internacional a partir de setembro. Essa tendência era reforçada pelo impacto defasado esperado da elevação da taxa de juros iniciada em abril pelo Banco Central. A crise internacional acelerou esse processo, forçando um ajuste muito mais abrupto da indústria diante das restrições de crédito, da deterioração das expectativas e da queda da demanda mundial. A produção industrial brasileira desabou 12,4 por cento em dezembro frente a novembro, a queda mais acentuada da série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, iniciada em 1991. "Embora não seja possível afirmar que haverá uma recuperação da indústria já nesses primeiros meses do ano, talvez seja possível dizer que o pior do ajuste da indústria já passou", afirmou o Ipea no texto. Para o instituto, medidas recentes adotadas pelo governo para recompor o crédito e fomentar a demanda contribuirão para reduzir o impacto da crise. O forte ajuste de estoques feito pelas fábricas no último trimestre do ano também não deve se repetir na mesma magnitude nos primeiros três meses deste ano. (Reportagem de Isabel Versiani)