Resgatada de barco no Rio Grande do Sul salva só a sacola de remédios: ‘Pelo menos estamos vivos’

Ginásios, escolas e igrejas são transformados em lares temporários para desalojados; Estado enfrenta seu pior desastre climático, com 57 mortes e 67 desaparecidos

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Por Julia Taube
Atualização:

“Atenção moradores. Saiam de suas casas”. Foi com essa mensagem, transmitida por um carro de som da Defesa Civil, que a aposentada Marisene Melo, de 63 anos, foi acordada na madrugada desta sexta-feira, 3. Moradora de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, ela é uma dos 32 mil desalojados e desabrigados em todo Estado por conta das fortes chuvas. No total, já são 57 mortes confirmadas e 67 desaparecidos, no maior desastre climático da história do Estado.

Marisene Melo só conseguiu salvar sacola de remédios Foto: Júlia Taube/Estadão

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Do que tinha em casa, Marisene só conseguiu salvar a sacola com remédios. Segundo ela, a prioridade aos medicamentos foi dada porque, com o fechamento dos postos de saúde locais, ela previa dificuldades para conseguir receita médica para comprar os remédios depois.

Ela e o marido foram resgatados de barco, com a ajuda de vizinhos. Na cidade, na Grande Porto Alegre, o número de desabrigados ultrapassa o total de 1,7 mil, divididas entre seis abrigos do município. No Rio Grande do Sul, ginásios, escolas e igrejas viraram o lar temporário de pessoas como a hamburguense.

“Fui resgatada porque a água estava entrando na minha casa. Meu esposo e eu tínhamos decidido ficar na casa da minha filha, só que lá a água também entrou. Tivemos de sair de novo e ir para algum dos abrigos”, relata.

“Perdi móveis, o rancho do mês que eu tinha feito, cimento que tínhamos comprado para arrumar a casa. Perdi tudo”, diz a aposentada. “É muito triste. Mas pelo menos, estamos vivos.”

Alagamento obrigou moradores a saírem de casa em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul Foto: Júlia Taube/Estadão

O município não está entre os mais afetados pelas chuvas, mas tem sofrido com o aumento do nível do Rio do Sinos, que atingiu a marca histórica de 9,68 metros, sete metros acima do nível normal, conforme a Defesa Civil da cidade. Diques construídos no entorno para controlar a água do rio não suportam e transbordaram, inundando bairros inteiros.

E foi por medo do rompimento do dique que Maiara Keller, de 30 anos, decidiu sair de casa e se abrigar na residência de parentes, na cidade vizinha São Leopoldo. Assim como Marisene, ela é moradora de Novo Hamburgo.

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Mãe de duas crianças e de um bebê de 5 meses, sua casa fica ao lado de um arroio que deságua no Rio do Sinos. “É um sentimento de medo. Moro aqui desde que nasci e nunca vi algo parecido. É desesperador”, frisa.

Maria Keller, moradora de Novo Hamburgo no Rio Grande do Sul Foto: Júlia Taube

Em São Sebastião do Caí a situação é ainda mais crítica. Vivendo em um dos abrigos abertos pela prefeitura, Silvia Pereira, de 72 anos, está passando pela segunda enchente em menos de cinco meses. Desta vez, não conseguiu salvar nada além da TV que havia comprado recentemente. “Eu saí sozinha. Acabei caindo no meio da rua, me molhei inteira. Vamos ter de recomeçar: fazer o quê?”, lamenta.

Em Porto Alegre, a alta recorde do Guaíba alagou o centro histórico e a rodoviária, além de deixar bairros sem luz e água. O Aeroporto Salgado Filho suspendeu as operações por tempo indeterminado.

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Para ajudar no recomeço de quem perdeu tudo e na reconstrução de cidades devastadas, o Governo do Estado criou uma chave Pix (CNPJ: 92.958.800/0001-38) para a conta SOS Rio Grande do Sul, vinculada a instituição Banrisul.

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