Uma criatura de 1.700 toneladas e 75 metros de comprimento repousa nas profundidades de São Paulo, juntando energia para seguir rumo à morte. A vida útil não é medida pelo tempo e sim por espaço. O bicho vai viver pouco mais de cinco quilômetros em um trajeto entre a região Largo 13 de Maio e Chácara Klabin, na zona sul, trecho que é o hábitat do animal.
A cabeça tem 10 metros de diâmetro, cada dente tem o peso de 140 toneladas e o cérebro é poliglota: entende português, italiano e espanhol. Quando voltar a se mover, irá dar passos de um metro e meio. A cada movimento, o ser que está alojado sob a Santa Cruz, também na zona sul, solta concreto por um lado e lama por outro.
O bicho escava o subterrâneo da cidade, já comeu 443 milhões de litros de lama e tem uma equipe de tratadores treinados.
:quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/VDMA4EKWBBIMHIMAETOHAUYD2I.jpg 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/MIL7eJNEnBu2RURZVCTIfvmse9I=/768x0/filters:format(jpg):quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/VDMA4EKWBBIMHIMAETOHAUYD2I.jpg 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/oQ0RG4fz58BGoinBYnXJR9dLCA4=/936x0/filters:format(jpg):quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/VDMA4EKWBBIMHIMAETOHAUYD2I.jpg 1322w)
Apesar da descrição monstruosa, quem hoje precisa cuidar da criatura para que ela continue se movendo rumo à morte vai sentir saudade no final da jornada, como se perdesse um parente. “Não dá medo, tenho respeito. Vai ser como se perdesse um ente querido”, contou o engenheiro e metroviário Sergio Renato Leme, chefe do Departamento de Obras do Metrô. A criatura, na verdade, trata-se do tatuzão responsável pela perfuração da Linha 5-Lilás, equipamento que será desmontado ao término da obra, quando o túnel se integrar com a Linha 2-Verde.
“A gente acompanha ela (a máquina) desde que foi montada, então tem um certo sentimento”, contra o metroviário no poço da Estação Santa Cruz, da Linha 1-Azul.
O movimento do tatuzão é dividido em etapas. Ele se move sobre um trilho, cuspindo água e uma solução química que amolece a terra ao mesmo tempo em que forra o túnel com anéis de cimento. A lama é digerida e vai para um esteira.
No último dia 17 de novembro, o equipamento alcançou o local onde está hoje, momento que foi recebido com festa, no que os engenheiros classificam como “o gol dos operários” da obra. Girando os dentes entre as rochas, aos poucos a cabeça do monstro surgiu derrubando a terra aos aplausos de engenheiros e outros trabalhadores da escavação. “Um dos vários momentos significativos é quando chega a uma estação que já está escavada, quando conclui um trecho do túnel, surgindo da parede, completando o trajeto do túnel”, conta o Leme.
O equipamento tem uma central de comando. O “cérebro” do bicho. A cabine de operações é comandada por funcionários de quatro nacionalidades diferentes: um brasileiro, um salvadorenho, três colombianos e cinco italianos.
No painel de controle, são 500 parâmetros acompanhados pelos técnicos e monitorados em tempo real em outros endereços do Metrô e das empresas responsáveis pela obra. É na cabeça do tatuzão que comandos relacionados a pressão da máquina no solo, por exemplo, são acompanhados.
A última missão da máquina é caminhar cerca de um quilômetro. Sua morte já tem endereço: um poço de ventilação no entorno da Rua Dionísio da Costa, logo após a Estação Chácara Klabin. A máquina é composta por 30% de materiais que foram usados no tatuzão responsável pela perfuração da Linha 4-Amarela. Só que agora, elas não serão mais usadas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
Notícias em alta | Brasil
Veja mais em brasil