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Diversidade e Inclusão

Uma cidade unida pela inclusão

Rondonópolis, no interior do Mato Grosso, tem 30 mil habitantes com deficiências, quase 15% de sua população. Apesar de ser uma grande força produtiva, a cidade enfrenta muitas barreiras para a inclusão no trabalho. O #blogVencerLimites visitou a região e conheceu de perto o projeto idealizado pela Fundação Bunge, inédito no País, que já começa a mostrar resultados, com aumento de pessoas com deficiência empregadas e investimentos do município em educação inclusiva e acessibilidade. "A inclusão bem feita promove transformações", afirma gerente da fundação.

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
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Rondonópolis, cidade de aproximadamente 229 mil habitantes, no interior do Mato Grosso, a 230 quilômetros de Cuiabá, está entre as 100 maiores economias do Brasil e tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) estadual, que chega a R$ 7 bilhões/ano, segundo o IBGE.

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É passagem obrigatória de milhares de veículos que trafegam pelas rodovias BR-163 e BR-364, entre o Norte e o Sul do País. Seu poder produtivo reúne indústrias de soja, fertilizantes, rações e suplementos animais, frigoríficos, tecelagem, confecções e metalurgia.

É uma potência econômica que gera empregos, movimenta turismo e comércio, mas enfrenta muitas barreiras para incluir sua população com deficiência no mercado de trabalho da região. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem 30 mil habitantes com deficiências, quase 15% de sua população, 16 mil com deficiências severas.


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IMAGEM 02: Rede de Qualificação e Inclusão de Jovens Aprendizes e Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho de Rondonópolis tem 41 integrantes. Descrição #pracegover: Imagem tem as logomarcas dos integrantes da rede. Crédito: Divulgação/Bunge.  Foto: Estadão


Esses obstáculos afetam todas as empresas, inclusive a Bunge do Brasil, que tem uma fábrica com 400 funcionários na cidade. Sendo assim, a Fundação Bunge - entidade social da companhia - liderou a construção da 'Rede de Qualificação e Inclusão de Jovens Aprendizes e Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho de Rondonópolis'.

O grupo tem atualmente 41 integrantes, entre empresas, profissionais com deficiência, representantes do terceiro setor, especialistas em formação e capacitação, Prefeitura e poder judiciário.

O #blogVencerLimites visitou a região, a convite da Fundação Bunge, para conhecer de perto o projeto inédito no País (talvez, no mundo), lançado oficialmente em outubro de 2018.


IMAGEM 03: Rondonópolis fica na região sudeste do Mato Grosso, a 230 quilômetros de Cuiabá. Descrição #pracegover: Imagem do mapa do Brasil, com uma seta vermelha indicando a localização de Rondonópolis. Crédito: Google Maps.  Foto: Estadão


"A formação dessa rede começou no ano passado, quando passamos a conversar, ainda de maneira individual, com as associações do comércio e da indústria de Rondonópolis para entender quais eram os desafios da inclusão na região", explica Juliana Santana, gerente de projetos da Fundação Bunge.

"Já identificávamos essa dificuldade na Bunge, mas precisávamos saber se era uma situação específica da nossa empresa ou se havia cenários semelhantes em outras companhias", diz. "Nossa conversa cresceu e chegou à Prefeitura, visitamos outras empresas, associações de pessoas com deficiência e constatamos que se tratava de uma realidade em toda a região", conta.

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"Havia uma oportunidade para beneficiar a pessoas, o município e sua economia, e de gerar um valor gigantesco para as empresas. Quando a inclusão é bem feita, promove transformações, principalmente na relação entre as pessoas", defende Juliana Santana.


IMAGEM 04: Bunge tem 400 funcionários em Rondonópolis. Descrição #pracegover: Foto da entrada da fábrica da Bunge em Rondonópolis. Crédito: Google Maps.  Foto: Estadão


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CIDADE EM MOVIMENTO - "Antes da criação da rede, quando uma empresa precisava contratar pessoas com deficiência, esse processo era muito demorado, durava até três meses. Agora, com esse grupo em contato, são divulgadas as vagas que estão abertas, o que agiliza muito a contratação", afirma Márcia Rotili, secretária municipal de Promoção e Assistência Social de Rondonópolis.

"Começamos a estudar esses processos para compreender porque a oferta de vagas não chegava ao conhecimento das pessoas com deficiência. Além disso, passamos a criar uma cultura inclusiva dentro das empresas, para gerar oportunidades não centralizadas nas exigências da Lei de Cotas, mas valorizando a formação, a vocação e as metas dessas pessoas, criando uma possibilidade real de crescimento na companhia", diz a secretária.

"Outra barreira é a quantidade de pessoas com deficiência que recebem o BPC/LOAS (Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social). É comum o pensamento de que, como eu recebo o BPC, não preciso mais trabalhar e posso sobreviver apenas com essa assistência", cometa Márcia Rotili.


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Rondonópolis já identificou, segundo a secretária municipal, aproximadamente 3.800 moradores com deficiência que recebem o BPC. A rede listou esse grupo, separando as pessoas por idade, usando informações do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro Único).

A regra (Lei Nº 8.742/1993) permite ao usuário que arrumar emprego registrado suspender o benefício. Se essa pessoa perder o emprego, recupera a assistência sem necessidade de perícia. Além disso, a pessoa com deficiência contratada como aprendiz pode receber os dois pagamentos (salário e BPC) durante dois anos.

"Convencer a pessoa que recebe o BPC a voltar a trabalhar não é fácil. E a atuação da rede é importante para mostrar que há boas oportunidades profissionais na nossa região", explica a secretária municipal. "Estamos expandido essa ação para as áreas mais afastadas e até nas comunidades indígenas. Entre outubro e dezembro do ano passado, conseguimos recolocar no mercado de trabalho 50 pessoas com deficiência que recebiam o BPC", diz Márcia Rotili.

"Esse número é pequeno e ainda não é o momento de comemorar, mas é uma demonstração dos resultados obtidos por meio da rede, principalmente na redução do tempo para a contratação da pessoa com deficiência", ressalta a secretária.


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SEGURANÇA - "Nossa fábrica é antiga (construída na década de 1990), e foi ampliada após o ano 2.000. Por isso, precisamos aprimorar a acessibilidade, mas esse processo enfrenta barreiras técnicas", explica Alencar Albino Fontana, gerente de controladoria da fábrica da Bunge em Rondonópolis.

"No pátio, o desafio é tornar o ambiente acessível sem ferir as regras de segurança. Temos 10 funcionários com deficiências auditivas e, para garantir movimento seguro dessas pessoas, investimos em sinalização visual e luminosa", explica o gerente. "Para as funções administrativas, há uma carência de conhecimento técnico, de noções básicas de informática, que os candidatos com deficiência ainda não têm", diz Fontana.

A fábrica da Bunge em Rondonópolis tem aproximadamente 400 funcionários, a maior parte, 300 colaboradores, em funÇões operacionais. E o restante nos setores administrativos. Atualmente, 20 profissionais com deficiência estão no quadro, dois em funções de liderança (encarregados de manutenção e de produção). No escritório, um dos empregados é cadeirante.



"A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho de Rondonópolis, hojé, é dificultada pela falta de acessibilidade no transporte público e por problemas nas adaptações dentro das empresas", afirma Marcelo Ferreira de Almeida, presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Rondonópolis (Adefir), que reúne aproximadamente 1.000 associados cadastrados.

"No caso dos cadeirantes que trabalham em escritórios, por exemplo, essa adaptação é simples e pode ser feita com mudanças na altura da mesa e na distância entre os móveis para circulação. Esses regras estão na NBR 9050 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

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RETORNO AO TRABALHO - "Os novos modelos de inclusão têm conseguido atrair pessoas com deficiência que recebem o BPC/LOAS de volta às empresas", diz o presidente da Adefir.

"Uma questão muito importante nesse retorno ao mercado de trabalho é a qualidade das vagas. Aqui em Rondonópolis, a rede tem conseguido esclarecer a importância de uma oportunidade correta, alinhada às ambições do funcionário com deficiência. É fundamental compreender que há especificações que um cadeirante não pode cumprir, mas isso pode ser feito por um profissional surdo, cego ou amputado", ressalta Marcelo Almeida.


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INCLUSÃO ALÉM DAS COTAS - "Durante muito tempo, a prioridade das empresas foi o preenchimento da vaga para cumprir as exigências da Lei de Cotas, mas hoje essa ideia já está em transformação. As companhias estão oferecendo vagas corretas para pessoas com deficiência que tenham a formação e o conhecimento necessários", comenta o especialista.

"A rede está reunindo aqui em Rondonópolis o conhecimento das pessoas com deficiência à prática do trabalho que essas pessoas podem executar. Não tem mais aquela história, por exemplo, do profissional com deficiência formado em contabilidade que vai operar equipamentos. Essa vaga será preenchida por uma pessoa com deficiência formada em mecatrônica. É essa a transformação que a rede está proporcionando", conclui o presidente da Adefir.


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