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Moradores do Amapá enfrentam as consequências de um apagão que atinge todo o estado desde a noite de 3 de novembro, provocado por um incêndio em uma subestação de transmissão de energia. A população é submetida a um revezamento no fornecimento de luz e o governo federal, depois de ignorar a situação por dias, contratou energia de termelétricas.
Em artigo exclusivo para o #blogVencerLimites, a socióloga Kérsia Celimary, que é cega e mora em Macapá, descreve a situação.
Workshop apocalíticopor Kérsia Celimary*
É inadmissível que, em pleno século XXI, os interesses de poucos sejam colocados acima da população de um estado inteiro, mais de 800 mil pessoas.
É o que acontece no Amapá, onde começa o Brasil, considerado por muitos como um 'estado pobre'.
Desde 3 de novembro, se estabeleceu o caos.
Em meio a uma tempestade, caiu o blecaute. Pensávamos que era uma simples falta de luz, que logo voltaria. Engano. O dia seguinte chegou, e nada.
Começaram os primeiros transtornos, alimentos estragando nos refrigeradores, comerciantes perdendo mercadorias perecíveis, telefonia e internet fora do ar. Ninguém sabia o que estava acontecendo. O apagão continou pela segunda noite.
No dia seguinte, começaram a surgir as primeiras notícias. 'Um raio caiu na subestação que fornece energia ao Amapá, não tem previsão de quando a luz voltará, 14 dos 16 municípios do estado estão no escuro'.
Pessoas se desesperaram, estocaram água e alimentos não perecíveis.
No terceiro dia, mais notícias. 'A energia vai demorar, no mínimo, 15 dias para começar a ser restabelecida'.
Então, foi determinado um racionamento. E as desigualdades se mostraram. Condomínios de luxo com 24 horas de energia, mas quem mora em pontos periféricos do estado tem apenas duas horas de luz por dia.
A tabela do racionamento não é cumprida.
Quando começamos a crer que esse workshop apocalíptico não iria trazer mais surpresas, as eleições municipais foram adiadas aqui na capital, Macapá.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, irmão de Josiel Alcolumbre, candidato à prefeitura de Macapá, disse que "Josiel foi o único prejudicado com o apagão".
Desde o blecaute, o nome de Josiel caiu nove pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto.
Não deveria haver eleição em todo o estado porque, além do apagão, segundo Davi Alcolumbre, "existem milícias ameaçando a população". Então, é um questão lógica.
A iluminação proporcionada pela eletricidade não me faz falta, vivo sem ela desde que nasci, mas percebo o desespero de tantas pessoas que se orientam pela luz. Minha família, meus amigos, que dependem dessa energia para sobreviver, com conforto e qualidade de vida.
Pessoas com ou sem deficiências, sofremos com o descaso das empresas responsáveis pela fiscalização dos geradores.
É inadmissível uma empresa privada continuar a comandar as subestações no Amapá e chega a ser irônico viver em um lugar com quatro hidrelétricas ao redor, mas não ter luz.
Se não tivesse vivenciado essa situação e me contassem, eu custaria a acreditar.
Vídeo produzido pela Helpvox com a versão da reportagem na Língua Brasileira de Sinais.
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