A indústria ambiental registrou, entre 1996 e 2000, um crescimento de 14% em todo o mundo, passando de US$ 453 bilhões para US$ 518 bilhões. Segundo estimativas da União Européia, em 2010, estará movimentando US$ 640 bilhões. A receita gerada por essa indústria, no entanto, é gerada prioritariamente pelos países desenvolvidos - Estados Unidos (38%), União Européia (29,5%), e Japão (19,3%). Discutir como aproveitar esse potencial e aumentar a participação da América Latina nesse mercado é o objetivo do I Encontro de Dirigentes e Executivos da Indústria Ambiental, que acontece entre hoje e amanhã, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Segundo Sérgio Braga, coordenador do Centro Internacional de Desenvolvimento Sustentável da FGV (CIDS), organizado do evento, diz que a América Latina representa apenas 1,9% do mercado mundial de bens e serviços ambientais, que incluem todas as atividades para medir, evitar, prevenir, limitar, minimizar, corrigir ou recuperar danos ambientais ao ar, a água, ao solo e aos ecossistemas. ?No Brasil, esse amplo setor representa R$ 2,4 bilhões ao ano, em atividades muito segmentadas, que começam a reconhecer que são parte de um mesmo todo?, diz. Braga explica que o grande peso da indústria ambiental ainda está concentrado em setores tradicionais, como distribuição e tratamento de água (28%) e tratamento de resíduos sólidos (21%), mas inclui várias outras áreas, como controle de poluição, biotecnologia, energia renovável, reciclagem, agroecologia, ecoturismo, ecoeficiência e gestão ambiental. Para competir no mercado internacional, porém, o setor precisa se normatizar e buscar união com outros países da América Latina, ?para poder partilhar vantagens comparativas. Neste mundo globalizado quem não tem norma é engolido pela norma alheia?, diz a economista Aspásia Camargo, presidente de honra do CIDS. ?Precisamos decidir que regulamentação seguir, em áreas como certificação florestal ou agricultura orgânica, por exemplo. Vamos adotar a européia, a norte-americana ou vamos criar uma regulamentação própria?, disse Nicola Borregaard, da Rides (Recursos e Investigação para o Desenvolvimento Sustentável), do Chile. Em termos de negociações internacionais, o maior desafio de países emergentes como o Brasil, é a discussão principal da rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), lançada em 2001, que incluiu meio ambiente nas negociações comerciais. Para o governo brasileiro, não interessa a liberação de bens e serviços, se não houver a mesma liberação em relação à agricultura. ?Se liberalizar o mercado ambiental, teremos uma invasão de empresas estrangeiras, enquanto o que queremos é competir e saber como poderemos vender esse tipo de serviço e transformar o potencial ambiental brasileiro em negócio?, disse Aspásia. O assunto será um dos temas discutidos na reunião de Cancun, parte da agenda da rodada Doha, que acontece em setembro. Para a economista, o Brasil tem condições de competir na prestação de serviços para outros países emergentes, através de empresas como a Sabesp ou a Petrobras. ?Além disso, o País precisa renovar e tirar proveito do que tem, como por exemplo, criando uma poderosa indústria moveleira, cortando e plantando florestas, em locais onde não tem alta biodiversidade, ao invés de simplesmente desmatar?, disse. Aspasia Camargo também defende que o Brasil crie barreiras não alfandegárias para os produtos estrangeiros, verificando quanto de energia renovável foi utilizado em sua produção. ?É assim que fazem conosco lá fora?.