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Opinião|As árvores estão morrendo mais cedo

Na Austrália, taxa de mortalidade de muitas espécies dobrou entre 1991 e 2019

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Por Fernando Reinach
Atualização:

Quando pensamos na morte de uma árvore, logo vem à mente motoserras, machados e queimadas. Mas, como todos os seres vivos, as árvores também morrem sem serem assassinadas. Elas morrem de fome, de frio, de sede ou derrubadas pelo vento. Como as árvores vivem muito, é difícil estudar a vida média e a causa da morte. Mas agora um grupo de cientistas observou o destino de um grande número de árvores em florestas nativas da Austrália e conseguiu medir o risco de elas morrerem a cada ano, por 49 anos. E descobriram que a taxa de mortalidade de muitas espécies dobrou nos últimos 20 anos.

Entre 1971 e 1980, foram delimitadas 24 áreas de floresta tropical úmida no norte da Austrália. Essas áreas de meio hectare estão localizadas em diferentes altitudes, entre 15 e 1,5 mil metros acima do nível do mar. A cada ano, entre 1971 e 2019, os cientistas examinaram cada uma das árvores com mais de 10 centímetros de diâmetro que vivem nessas áreas. No total foram 110.551 observações de 13.513 árvores de 535 espécies. Como algumas estavam representadas por poucos indivíduos, somente espécies com mais de 400 observações foram incluídas no estudo final, que descreve o que aconteceu com 8.314 árvores de 81 espécies. Nessa amostra, em 49 anos foram observadas 492 mortes. Foi possível determinar que o risco anual de uma árvore morrer é de 1% a 3%. E, como é de se esperar, o risco é um pouco diferente para cada uma das 81 espécies.

Risco de morte das árvores encontradas em florestas tropicais úmidas dobrou nos últimos 50 anos; na foto, pássaro Kookaburra pousa em uma árvore queimada apósincêndio emNova Gales do Sul, naAustrália Foto: Cortesia de Adam Stevenson/Social Media via REUTERS - 12/11/2019

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O achado mais importante foi feito quando o risco de morte foi comparado ao longo do tempo. Entre 1971 e 1990, esse risco era de aproximadamente 1,2% ao ano e muito consistente ao longo desse período. Mas entre 1991 e 2019 esse risco foi aumentando e praticamente dobrou, passando a valores próximos a 2,4% ao ano. 

O problema é descobrir os motivos que levaram a essa duplicação no risco de morte. Os cientistas acreditam que o que ocorreu é que mudanças climáticas diminuíram a quantidade de água disponível no solo nos períodos mais críticos do ano e essa diminuição provoca a morte prematura dos indivíduos mais suscetíveis. Se esse resultado for confirmados por outros estudos, isso significa que, em algumas regiões do planeta, mudanças climáticas estão diminuindo a longevidade das árvores. Isso é uma péssima noticia para todas as florestas úmidas.

Mais informações: Tropical tree mortality has increased with rising atmospheric warter stress

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*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

Opinião por Fernando Reinach
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