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Calor: por que outono e inverno devem ser mais quentes mesmo com fim do El Niño?

Efeitos do aquecimento global do planeta tendem a se sobrepor ao La Niña, aumentando o número de ondas de calor

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Por Roberta Jansen
Atualização:

O outono e o inverno deste ano no Brasil podem ter temperaturas de 2 a 4 ºC acima da média histórica, preveem cientistas com base em dados da agência climática americana (NOAA, na sigla em inglês) e do Instituto de Pesquisa em Clima da Universidade de Columbia (EUA).

O El Niño, que tem influenciado o clima do planeta desde meados de 2023, está chegando ao final para dar lugar ao fenômeno La Niña, que costuma causar redução de temperaturas. Mas, com a aceleração do aquecimento global, a tendência é de dias mais quentes.

Temperaturas no outono e no inverno no Brasil tendem a ser mais quentes este ano. Foto: Metsul/Reprodução

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Isso não significa, dizem os especialistas, que não haverá dias frios nos próximos meses. Mas eles devem ser menos frios do que seriam normalmente ou entremeados por ondas de calor – como a que estamos enfrentando esta semana.

“Isso não quer dizer que não teremos ondas de frio”, explicou a climatologista Karina Lima. “Apenas que neste momento alguns modelos estão indicando que na média do período o resultado final ainda é anomalia positiva, ou seja, temperaturas acima da média histórica.”

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alerta para uma nova onda de calor, com temperaturas de até 40ºC. O aviso de perigo vale para áreas de seis Estados, incluindo São Paulo. Inicialmente, a expectativa era de que o calor se estenderia até quarta-feira, 1º, mas a empresa Climatempo avisa que o tempo deve seguir quente até a semana que vem.

A MetSul Meteorologia diz que “as máximas devem fica perto e podem mesmo alcançar 40ºC em algumas cidades de São Paulo e do Rio, o que em se tratando de fim de abril e começo de maio é uma bizarrice climática”.

Os últimos meses foram marcados pelo El Niño – de aquecimento das águas do Oceano Pacífico. O fenômeno climático tende a elevar as temperaturas médias da Terra. Foram meses seguidos de temperaturas recordes no Brasil, segundo o Inmet, acompanhando a tendência mundial.

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Mas o El Niño não foi o único responsável pelos recordes de calor dos últimos meses. De acordo com cientistas, o aquecimento do planeta teve papel tão importante quanto – se não maior – nas ondas de calor registradas.

O El Niño que começou em junho do ano passado e deve chegar ao fim nas próximas semanas, quando o Pacífico Equatorial entrará em fase de neutralidade. Ou seja, sem El Niño nem La Niña. Este será um período de transição até o retorno de La Niña, previsto para agosto.

“De forma geral, eventos de La Niña tendem a provocar arrefecimento na temperatura média global, embora não impeçam eventos extremos, como chuvas, ondas de calor, nevascas ou estiagens”, afirma o climatologista Francisco Eliseu Aquino,

“Mas o La Niña tem tido cada vez mais dificuldade de imprimir esse arrefecimento por conta das mudanças climáticas. Entre os dez anos mais quentes dos registros, há vários marcados pelo fenômeno. As mudanças climáticas estão com o sinal mais forte, mais dominante, nos eventos da última década”, diz ele, chefe do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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Em 2022, por exemplo, sob a influência de La Niña, o Rio Grande do Sul enfrentou um período de 15 dias seguidos de temperaturas máximas acima dos 40ºC, um recorde histórico.

“Na média, a temperatura ficará uns 2ºC acima do valor histórico”, escreveu o meteorologista Luiz Felippe Gozzo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em um publicação na rede social X (antigo Twitter). “Isso significa dias de frio menos intensos e/ou em menor frequência, mas não quer dizer que não haverá frio e que fará um calor insuportável pelos próximos noventa dias sem parar.”

Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) feito em 2023 revela o aumento do número de dias com onda de calor nas últimas décadas. Os pesquisadores usaram como referência o intervalo entre 1961 e 1990.

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Nesse período, a quantidade de dias com ondas de calor não passava de sete. Já no intervalo de 1991 a 2000 subiu para 20 dias. Entre 2001 e 2010, o número já chegou a 40 dias; e de 2011 a 2020, o saltou para 52.

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