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Tsunami de 2004 foi o segundo em 600 anos, revela estudo

Cientistas dizem que é importante manter a população informada sobre os riscos, geração após geração

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Provocado pela ruptura de uma falha geológica no Oceano Índico, o tsunami de 26 de dezembro de 2004 matou, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), cerca de 230.000 pessoas em 12 países, deixou 1,7 milhão de desabrigados e forçou a comunidade internacional a empreender um esforço para levar água, comida e remédios a 6 milhões de pessoas. A história da região não registra catástrofe semelhante. No entanto, novos dados geológicos mostram que um tsunami comparável já havia atingido a mesma área, 600 anos atrás. Descobertas as rochas mais antiga do planeta Terra Os cientistas responsáveis pela descoberta descrevem-na em dois estudos publicados na edição desta semana da revista Nature. Os trabalhos foram realizados nas ilhas de Sumatra (Indonésia) e Phra Tong (Tailândia), com a escavação de áreas próximas às praias onde material - principalmente areia - arrastado por grandes tempestades ou tsunamis fica acumulado e, com o passar dos anos, acaba preso entre camadas mais escuras de detritos orgânicos. Tanto na Tailândia quanto na Indonésia, uma grande camada de areia, comparável à deixada pelo evento de 2004, foi datada de entre 600 e 700 anos trás. As equipes na verdade encontraram, ao todo, sinais de três tsunamis antigos, mas apenas a camada de 600 anos é comum aos dois sítios, o que sugere que ambas as ilhas foram atingidas por um mesmo fenômeno, assim como ocorreu em 2004. Em comentário que acompanha o artigo na Nature, o geólogo norueguês Stein Bondevik diz que a violência do tsunami de 2004 representou a liberação, em poucos minutos, de uma tensão acumulada ao longo de séculos. Bondevik nota que os últimos quatro séculos de história escrita da Indonésia, o país mais atingido, não registram um evento semelhante ao de 2004, o que sugere que o tsunami anterior teria de ter ocorrido há mais de 400 anos. No entanto, não foram encontradas, também, citações históricas do suposto tsunami de 600 anos atrás: nem o viajante árabe Ibn Battuta, que  visitou a região em meados do século XIV, nem exploradores chineses, que empreenderam grandes navegações no início do século XV, registram essa catástrofe. "Trata-se de uma questão em aberto para os historiadores", diz Brian Atwater, da US Geological Survey e um dos autores do artigo sobre a escavação em Phra Tong, sobre a falta de registros. "Provavelmente há muitos outros documentos, na Ásia e no Oriente Médio, que poderiam ser pesquisados". Ele cita um precedente: uma série de terremotos e tsunamis que atingiram a costa oeste da América do Norte entre 1680 e 1720. "Esses eventos foram pré-históricos nessas áreas, exceto pelos mitos de dilúvio dos povos nativos", explica. Mas o Japão manteve registros de um tsunami em janeiro de 1700, "que já foi fortemente ligado às evidências norte-americanas". Atwater diz que ainda não é possível estabelecer uma periodicidade para os grandes terremotos e tsunamis na área. "É preciso mais trabalho", explica. "Para haver previsibilidade, uma falha teria de gerar terremotos de um mesmo tamanho, que ocorreriam a intervalos regulares. Mas esse ideal contrasta com observações feitas em outras zonas de subdução", afirma.  Uma "zona de subdução" é uma área onde as placas que compõem a crosta terrestre se tocam, acumulando a tensão que acaba liberada em terremotos. O segundo artigo, que tem como principal autora Katrin Monecke, da Universidade Estadual de Kent (EUA), sugere que um intervalo de gerações entre tsunamis representa "um dilema para as comunidades". "Que equilíbrio os sobreviventes (da tragédia de 2004) devem buscar entre os riscos de um próximo tsunami, que pode só voltar dentro de séculos, e as vantagens de morar perto do mar?" Os cientistas sugerem que, nessas circunstâncias, é importante manter a população informada sobre os sinais de tsunami, geração após geração. Eles notam que uma das ilhas atingidas pelo evento de 2004, Simeulue, na Indonésia, tinha memória de uma onda gigante anterior, de 1907. "As pessoas souberam como interpretar o chacoalhar do solo do terremoto de 2004 como um indicador natural de tsunami (...) o que levou os moradores a fugir para terreno elevado a tempo de escapar".

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