
O Oscar de Ainda Estou Aqui animou todo o setor de audiovisual nacional, que viu o número de espectadores nas salas de cinema despencar na pandemia e até agora não havia se recuperado. Na avaliação do curador da programação do CineSesc, Lorran Dias, “o filme aproximou o brasileiro do próprio cinema”.
“Não é expressivo só numa bolha que acompanha cinema de autor. Ainda Estou Aqui consegue chegar num público que talvez não seja tão familiarizado assim com cinema e talvez a partir dele se interesse mais”, diz o curador, otimista de que o fenômeno possa aquecer as bilheterias.
Lorran Dias classifica como desafiador os últimos anos para as salas de cinema — principalmente aquelas fora do circuito de shoppings, como as do CineSesc. Ele lembra que desde a pandemia houve o esvaziamento dos espaços, com a ascensão das plataformas de streaming. Mas avalia como instigante o processo de tentar atrair espectadores.
“O que podemos oferecer ao público que não seja disponibilizado pelas plataformas? Podemos oferecer a socialização. A experiência de se preparar para ir ao cinema, de convidar uma pessoa, de sair de casa, passar por essa experiência e voltar totalmente transformado”, comenta.
Sean Baker, vencedor do Oscar de melhor direção por ‘Anora’, também fez o apelo pelas telonas no discurso após receber o prêmio, apontando que a “experiência cinematográfica está ameaçada”. Ele pediu que a indústria “faça filmes para as grandes telas”. “É preciso formar a nova geração de pessoas que amam cinema”, disse.
“Estamos todos aqui esta noite assistindo a esta transmissão porque amamos o cinema. Onde nos apaixonamos pelo cinema? Na sala de cinema. Assistir a um filme em uma sala de cinema, com uma plateia, é uma experiência. Podemos rir juntos, chorar juntos, gritar de medo juntos e, talvez, ficar sentados em silêncio, devastados, juntos. E, em um momento em que o mundo pode parecer muito dividido, isso é mais importante do que nunca”, discursou Sean Baker.

Para Lorran Dias, esse é o pensamento que guia a escolha dos 44 longas-metragens e 4 curtas que vão integrar a programação do CineSesc. Clássicos e lançamentos recentes serão exibidos gratuitamente em todo o país até novembro. A seleção inclui filmes brasileiros premiados internacionalmente.
Veja destaques da programação de 2025
A Hora da Estrela

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o CineSesc vai exibir em março A Hora da Estrela, filme de 1985, baseado no homônimo clássico da literatura de Clarice Lispector. O longa é dirigido por Susana Maral e estrelado por Marcélia Cartaxo, como Macabéa, uma orfã nordestina de 19 anos semianalfabeta que vai para São Paulo ser datilógrafa. A obra chegou a representar o Brasil no Oscar de melhor filme estrangeiro em 1986, mas não conseguiu ser indicada.
“É uma pérola do cinema brasileiro que teve grande repercussão internacional na época. É muito singular não só pela representação feminina inovadora para a época. Através da personagem Macabéa a obra dá protagonismo a mulheres marginalizadas que são constantemente invisibilizadas na sociedade”, defende o curador.
Meu Amigo Robô

Entre os filmes infajuvenis, se destaca a animação indicada ao Oscar de 2024 Meu Amigo Robô (2023), baseada em uma história em quadrinhos que se passa em Nova York. O filme de Pablo Berger é desenhado à mão e usa apenas piadas visuais e trilha sonora, sem ter diálogos, para contar a história de um cachorro que compra um robô para não ficar sozinho.
“É um filme que, apesar de ter muita ludicidade, ele é perfeito para unir os pais com os filhos, os adultos com as crianças, porque ele toca em questões muito importantes do contemporâneo, como a solidão e a companhia”, reflete Dias.
Tia Virginia

Estrelado por Vera Holtz, Arlete Salles e Louise Cardoso, Tia Virgínia (2023), de Fabio Meira, narra o reencontro de três irmãs na véspera de Natal após a morte do patriarca e próximo à morte iminente da mãe. A obra foi premiada no Festival de Gramado, um dos mais importantes no Brasil.
Estranho Caminho

Estranho Caminho (2023), do cearense Guto Parente, venceu quatro categorias no Festival de Cinema de Tribeca. O filme foi produzido durante a pandemia, contexto da próprio roteiro, que emerge no gênero de fantasia e drama psicológico. O longa conta a história de um jovem cineasta, que não fala com o pai há mais de uma década, que precisa voltar à sua cidade natal em meio à crise de covid-19.