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‘Ainda Estou Aqui aproxima o brasileiro do cinema’, diz curador do CineSesc

Rede de cinemas do Sesc vai exibir filmes premiados internacionalmente, como ‘A Hora da Estrela’, ‘Meu Amigo Robô’, ‘Estranho Caminho’ e ‘Tia Virgínia’; confira a programação de 2025

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Foto do author Malu Mões
Atualização:
O cineasta carioca Lorran Dias é curador da programação do CineSesc. Foto: Divulgação/CineSesc

O Oscar de Ainda Estou Aqui animou todo o setor de audiovisual nacional, que viu o número de espectadores nas salas de cinema despencar na pandemia e até agora não havia se recuperado. Na avaliação do curador da programação do CineSesc, Lorran Dias, “o filme aproximou o brasileiro do próprio cinema”.

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“Não é expressivo só numa bolha que acompanha cinema de autor. Ainda Estou Aqui consegue chegar num público que talvez não seja tão familiarizado assim com cinema e talvez a partir dele se interesse mais”, diz o curador, otimista de que o fenômeno possa aquecer as bilheterias.

Lorran Dias classifica como desafiador os últimos anos para as salas de cinema — principalmente aquelas fora do circuito de shoppings, como as do CineSesc. Ele lembra que desde a pandemia houve o esvaziamento dos espaços, com a ascensão das plataformas de streaming. Mas avalia como instigante o processo de tentar atrair espectadores.

“O que podemos oferecer ao público que não seja disponibilizado pelas plataformas? Podemos oferecer a socialização. A experiência de se preparar para ir ao cinema, de convidar uma pessoa, de sair de casa, passar por essa experiência e voltar totalmente transformado”, comenta.

Sean Baker, vencedor do Oscar de melhor direção por ‘Anora’, também fez o apelo pelas telonas no discurso após receber o prêmio, apontando que a “experiência cinematográfica está ameaçada”. Ele pediu que a indústria “faça filmes para as grandes telas”. “É preciso formar a nova geração de pessoas que amam cinema”, disse.

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“Estamos todos aqui esta noite assistindo a esta transmissão porque amamos o cinema. Onde nos apaixonamos pelo cinema? Na sala de cinema. Assistir a um filme em uma sala de cinema, com uma plateia, é uma experiência. Podemos rir juntos, chorar juntos, gritar de medo juntos e, talvez, ficar sentados em silêncio, devastados, juntos. E, em um momento em que o mundo pode parecer muito dividido, isso é mais importante do que nunca”, discursou Sean Baker.

O cineasta Sean Baker após receber o Oscar pela direção de "Anora". Foto: Patrick T. Fallon/AFP

Para Lorran Dias, esse é o pensamento que guia a escolha dos 44 longas-metragens e 4 curtas que vão integrar a programação do CineSesc. Clássicos e lançamentos recentes serão exibidos gratuitamente em todo o país até novembro. A seleção inclui filmes brasileiros premiados internacionalmente.

Veja destaques da programação de 2025

A Hora da Estrela

Cartaz de A Hora da Estrela Foto: Divulgação

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o CineSesc vai exibir em março A Hora da Estrela, filme de 1985, baseado no homônimo clássico da literatura de Clarice Lispector. O longa é dirigido por Susana Maral e estrelado por Marcélia Cartaxo, como Macabéa, uma orfã nordestina de 19 anos semianalfabeta que vai para São Paulo ser datilógrafa. A obra chegou a representar o Brasil no Oscar de melhor filme estrangeiro em 1986, mas não conseguiu ser indicada.

“É uma pérola do cinema brasileiro que teve grande repercussão internacional na época. É muito singular não só pela representação feminina inovadora para a época. Através da personagem Macabéa a obra dá protagonismo a mulheres marginalizadas que são constantemente invisibilizadas na sociedade”, defende o curador.

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Meu Amigo Robô

Cena de Meu Amigo Robô Foto: Reprodução

Entre os filmes infajuvenis, se destaca a animação indicada ao Oscar de 2024 Meu Amigo Robô (2023), baseada em uma história em quadrinhos que se passa em Nova York. O filme de Pablo Berger é desenhado à mão e usa apenas piadas visuais e trilha sonora, sem ter diálogos, para contar a história de um cachorro que compra um robô para não ficar sozinho.

“É um filme que, apesar de ter muita ludicidade, ele é perfeito para unir os pais com os filhos, os adultos com as crianças, porque ele toca em questões muito importantes do contemporâneo, como a solidão e a companhia”, reflete Dias.

Tia Virginia

Cartaz de Tia Virgínia. Foto: Divulgação

Estrelado por Vera Holtz, Arlete Salles e Louise Cardoso, Tia Virgínia (2023), de Fabio Meira, narra o reencontro de três irmãs na véspera de Natal após a morte do patriarca e próximo à morte iminente da mãe. A obra foi premiada no Festival de Gramado, um dos mais importantes no Brasil.

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Estranho Caminho

Cartaz de Estranho Caminho. Foto: Divulgação

Estranho Caminho (2023), do cearense Guto Parente, venceu quatro categorias no Festival de Cinema de Tribeca. O filme foi produzido durante a pandemia, contexto da próprio roteiro, que emerge no gênero de fantasia e drama psicológico. O longa conta a história de um jovem cineasta, que não fala com o pai há mais de uma década, que precisa voltar à sua cidade natal em meio à crise de covid-19.