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Adrien Brody realiza sonho antigo e retorna à pintura, o seu primeiro amor

Filho de artistas, ator mostrou seu trabalho, com certa relutância, na Art Basel Miami Beach e em uma feira de arte em Nova York

Por Alexis Soloski
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A cor aqua bateu na tela primeiro. Em seguida branco, rosa cobalto e algodão-doce. Amarelo deixou escapar com um ruído rude, seguido por vermelho e preto. Isso foi em uma manhã fria em um estúdio de arte emprestado na seção Sunset Park do Brooklyn. Em um prédio de tijolos em ruínas ao longo da orla industrial de Nova York, o ator Adrien Brody ajoelhou-se em um pano, manchando e girando a tinta com um cartão plástico até formar padrões, camadas e listras. “Pintura, eu diria, foi meu primeiro amor”, disse ele.

Adrien Brody em seu estúdio noBrooklyn, em Nova York. Foto: Peter Fisher/The New York Times

Brody, de 48 anos, que ganhou um Oscar há quase duas décadas por O Pianista, voltou recentemente à pintura, tendo mostrado seu trabalho, com certa relutância, disse ele, na Art Basel Miami Beach e em uma feira de arte em Nova York. Filho de pais artistas – sua mãe, Sylvia Plachy, é fotógrafa e seu pai, Elliot Brody, é pintor –, ele cresceu desenhando e pintando. Quando adolescente, ele se inscreveu no programa de artes visuais da Escola Secundária de Música e Arte e Artes Cênicas Fiorello H. LaGuardia. O programa de artes rejeitou seu portfólio, mas o departamento de teatro o aceitou. Deixando de lado as ocasionais pichações, ele desistiu de pintar. Depois de um ano na Stony Brook University e um semestre no Queens College, ele começou a atuar a sério, atraindo o interesse de Hollywood e diretores de arte, incluindo Terence Malick, Spike Lee, Barry Levinson, Ken Loach e Roman Polanski. Ainda na casa dos 20 anos, Brody adquiriu uma reputação de ator de compromisso feroz e preparação irrestrita, modificando seu corpo quando necessário, fazendo suas próprias acrobacias legais, comendo um verme se uma cena exigisse.

Adrien Brody enquanto pinta. Foto: Peter Fisher/The New York Times

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“Não pretendo fazer coisas difíceis”, comenta. “Isso não é realmente o que estou procurando fazer. Mas as coisas são difíceis. E as mais significativas tendem a ser difíceis. Não conheço o caminho mais fácil.” Oito ou nove anos atrás, quando os papéis gratificantes eram mais escassos, ele se viu novamente com um pincel na mão. Após uma reforma de anos em seu castelo no norte do Estado de Nova York, perto de Siracusa, o ator convidou um amigo, o pintor Georges Moquay, para criar um trabalho original para uma parede central. Moquay sugeriu que Brody pintasse ao lado dele. Brody pintou um dragão. Moquay ficou impressionado e perguntou por que não estava pintando. Brody não tinha uma boa resposta. Então, ele começou de novo, inspirando-se nos grafites de sua juventude em Nova York. Desde então, sempre que filma em locações, ele monta uma espécie de estúdio. “Estou animado a continuar produzindo”, afirma.

Naquela manhã no Brooklyn, ele acordou cedo em sua casa no condado de Westchester. Com a ajuda da namorada, a designer Georgina Chapman, ele juntou seus materiais – telas, acrílicos, bastões de pastel, tintas spray, pincéis – e os levou para um estúdio emprestado de Bill Hickey, um artista de rua. “É meio que recriar o que eu tenho espalhado”, disse ele, organizando seus tubos de tinta. Assim que ele começou a trabalhar, a conversa parou. Brody produziu uma tela com uma caveira que havia esboçado em carvão na noite anterior, e espalhou tinta em torno de suas bordas, borrando-a com pedaços de papel pardo e arranhando-a com um pincel. Pegou então uma garrafa de água de um frigobar, destampou e tomou um gole, antes de derramar, com um fluxo constante, sobre a tela, sacudindo-a para fazer a tinta escorrer. Ele pintou algumas teias de aranha e estênceis de labirinto, seguidos por gotas de ouro. Em seguida, derramou mais água. Brody trabalhou rápido e intuitivamente, curvando-se, agachando-se, ajoelhando-se e apertando os olhos tristes. “Não sei o que vou fazer”, disse. “Gosto de simplesmente fazer.”

Adrien Brody em seuestúdio noBrooklyn, Foto: Peter Fisher/The New York Times

A tinta manchou seus dedos, seus sapatos, suas calças de camuflagem. Um cadarço veio desamarrado. Por várias vezes, disse que tinha terminado, mas, depois de alguns segundos parado, voltava para a tela, borrando e borrando e derramando novamente. Ele não conhecia o caminho mais fácil. “Vou deixar secar e depois volto”, afirmou. Mas ele não podia se afastar da tela. Em vez disso, desembrulhou um pedaço de carvão fresco e retocou o contorno do crânio, afiando cada dente. Usou ainda tinta branca para clarear algumas partes, depois tinta preta para escurecer o resto. Também derramou água sobre essa área. Finalmente, respingou na tela com seu pincel preto. “Esse é o problema: eu simplesmente não posso parar”, disse ele, mais de uma hora depois de ter começado. Parar nunca foi realmente algo de Brody. Mesmo em seus anos sabáticos, ele fez muitos filmes e manteve uma agenda lotada durante a pandemia. Estrelou Succession, como um investidor bilionário que faz reuniões em sua ilha particular. Também protagonizou Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty, a próxima série dramática da HBO; Blonde, uma cinebiografia de Marilyn Monroe na Netflix; e See How They Run, um filme policial de época. Ele também é uma das estrelas de Clean, novo filme no Amazon Prime Video que ele coescreveu. Brody, que interpreta o personagem-título, um trabalhador do saneamento com um código moral rígido e talento para a ultraviolência, também compôs a trilha sonora do filme. Ele não vê a pintura como separada de sua atuação. Ou escrevendo. Ou compondo. “Estranhamente, estão tão entrelaçados”, observou. “São todos uma extensão da mente, do coração e de histórias tumultuadas que estão pulsando por dentro.” Brody examinou o desenho do crânio e o colocou em uma mesa de cavalete para secar. Aplicou ainda um pouco de folha de ouro mais tarde. Mas a peça, concluiu, estava quase pronta. Ele parecia satisfeito. “Quero aplicar toda a minha energia em coisas que acho interessantes e criativas”, comentou. “E que tragam um tipo de beleza, uma beleza atormentada e distorcida para o mundo.”

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