Especialistas opinam: MAM deve vender Pollock para fazer caixa?

Conselheiro do museu e artista plástico dão argumentos a favor e contra a polêmica venda

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Por Paulo Vieira e Luiz Zerbini
Atualização:

O MAM-Rio deveria vender sua obra de Jackson Pollock para fazer caixa e acertar as finanças do museu? Dois especialistas do mundo dar arte opinam:

Tela 'Nº16', de Jackson Pollock, era avaliada em US$ 25 milhões Foto: MAM Rio

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Sim

Paulo Vieira*: Sou a favor da venda do Pollock para a criação de um fundo patrimonial. Esta decisão foi tomada no fim do ano passado pelo conselho do museu, do qual hoje faço parte, e o trabalho de diagnóstico feito nos últimos meses, com o apoio de consultores de renome, não reverteu ou modificou as expectativas do museu; pelo contrário, reafirmou a necessidade da criação de um fundo que assegure a sustentabilidade da instituição.

Esta é uma decisão sofrida e, pela sua natureza, era esperado que recebesse críticas. Como foi bem fundamentada, ela merece críticas caso estas sejam igualmente informadas e construtivas. Mas pessoas de fora do museu não têm a verdadeira dimensão de sua complexidade.

O objetivo é a capitalização, e este é um termo feliz para o bom entendimento da questão, pois significa agregar recursos ao patrimônio sem uma destinação específica e pontual. É o que se busca com um fundo como este. 

O MAM é uma instituição privada sem fins lucrativos. Não recebe recursos governamentais. Recursos incentivados ou via editais são esparsos, para fins determinados e, em sua maioria, temporários. E a verba oriunda de empresas mantenedoras, embora importante, não é suficiente para sustentar um museu deste porte. 

O que buscamos é a autonomia financeira, a sustentabilidade, a exemplo de vários museus estrangeiros, o que somente pode ser atingido através de doações “sem carimbo” e destinadas à criação de um fundo. O MAM é um museu potente, com 70 anos e visibilidade internacional, e que precisa ter uma segurança financeira para se poder planejar a curto, médio e longo prazo. O fundo patrimonial deverá ser capaz de render anualmente valores que o levarão ao equilíbrio econômico-financeiro e que garantirá estabilidade para buscar recursos adicionais.  *É colecionador e conselheiro do MAM

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Não

Luiz Zerbini*: A venda é absurda e não é necessária. A dívida do MAM não é grande. O Masp saiu de uma situação muito pior sem vender nada. Em dois anos de boa gestão, reverteu as tendências e ganhou, para além do dinheiro arrecadado, aquilo que é mais precioso no mundo da arte: credibilidade. Com isso, trouxe investidores, e hoje o museu está com sobra no caixa. A venda do Pollock se dá num quadro de incertezas e falta de transparência sobre como os recursos serão aplicados. Questiono a maneira escusa como a diretoria do museu vem levando essa negociação. 

Falo por mim, mas também pelo Grupo Pró-MAM, do qual faço parte. Somos artistas, críticos, curadores, colecionadores, 300 pessoas que assinaram um manifesto contra a venda de uma das mais importantes obras do acervo permanente do MAM.

Nosso manifesto pedia, entre outras coisas, uma justificativa para a venda. A partir do documento, eles decidiram contratar uma auditoria profissional, a Falcone, e o resultado, ainda não publicado, mostrou que a desastrosa administração levou o museu à situação em que agora se encontra.

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Alguns conselheiros nos garantiram que a venda da obra não seria prioridade, porque o mais importante era a busca de uma gestão profissional, em primeiro lugar. Mas o conselho não impediu esta venda; passou a ser cúmplice, se não pela ação, pela omissão diante desse absurdo. Quem vai colocar dinheiro numa instituição que age dessa maneira? O que capitaliza uma instituição é mostrar a cara, buscar com eficiência novos parceiros. Jogaram no mercado internacional (nem deram oportunidade ao brasileiro!) o único Pollock que aqui existia. Isso não significará a “salvação” do MAM. O dinheiro vai acabar e a solução, dirão eles, será vender outra obra. 

*É artista plástico

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