Museu Edvard Munch inaugura casa monumental em Oslo

Milhares de obras como 'O Grito', 'Amor e Dor', 'Madonna' e 'A Menina Doente' serão expostas sob rígida segurança na Noruega

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Por Pierre-Henry Deshayes
Atualização:

Ele se referia a elas como "seus filhos" e, como um bom pai, recusou-se a vê-las separadas. Agora, a grande família de Edvard Munch, mais de 26.000 obras, como a universalmente conhecida O Grito, inaugura uma nova casa em Oslo.

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Foi-se o edifício antigo, obsoleto, mal protegido e periférico no leste da capital norueguesa. Na sexta-feira, 22, o museu Munch muda-se para o centro da cidade, dentro de uma torre espaçosa e moderna, mas também criticada.

"Pode ser o maior museu dedicado a um único artista", disse o diretor do museu Stein Olav Henrichsen, mostrando suas novas salas.

Com 13 andares e mais de 26.000 metros quadrados, o novo edifício apelidado de Lambda oferece cinco vezes mais espaço de exposição do que o edifício sombrio que até agora abrigava o tesouro nacional no popular bairro de Tøyen.

Princesa Mette-Marit, rei Harald e rainha Sonja observam a pintura 'Madonna', de Edvard Munch, durante inauguração do novo museu em Oslo, em 22 de outubro de 2021 Foto: Lysberg Solum/NTB/AFP

Solteiro e sem filhos, Munch (1863-1944) legou sua obra à cidade de Oslo, escolhida em sua velhice em detrimento do Estado norueguês. Herdeiro inicial, o país caiu nas mãos da Alemanha nazista, que considerava este pioneiro do expressionismo um representante da "arte degenerada".

Às margens do fiorde, logo atrás da ópera, o novo museu repara uma injustiça histórica dando ao artista a embalagem que seu trabalho merece.

A previsão é chegar a 500 mil visitantes - e a expectativa é ultrapassar um milhão - para o acervo permanente, que abrigará 200 obras em 4.5 mil m2. 

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Além das referências sombrias à angústia, ao desespero e à morte, algumas peças do pintor norueguês abordam questões menos deprimentes como o amor, autorretratos ou paisagens. 

Diante da pele pálida de corpos nus, doentes ou sem vida, brilham as cores avermelhadas dos cabelos ou do céu. 

Como não poderia ser diferente, a coleção contém O Grito, emblema do museu apresentado em diferentes versões, e outras obras importantes como Amor e Dor, Madonna ou A Menina Doente

Mas, junto a elas, inúmeras peças menos conhecidas, esculturas, fotografias, um filme ou enormes murais como O Sol que, na hora da construção, tiveram que entrar por uma fenda especial, posteriormente coberta. 

"Munch queria ter um museu. Ele se referia a suas obras como seus filhos e queria que todas estivessem juntas em uma coleção", explica a curadora Trine Otte Bak Nielsen.

"Acho que ficaria muito feliz em ver o que fizemos."

Munch Museum Director Stein Olav Henrichsen, looks on at the new museum dedicated to the art of Norwegian modernist painter Edvard Munch (1863-1944), October 20, 2021. REUTERS/Victoria Klesty. Foto: Victoria Klesy/Reuters

'Destruição' em Oslo

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O edifício não gera reação unânime. Sua parte superior oblíqua não convence e as prometidas janelas iluminadas estão agora escondidas por trilhos de alumínio que parecem "barreiras de segurança".

Em 2019, o historiador da arte Tommy Sørbø já denunciava a "destruição" de Oslo, uma "catástrofe anunciada". 

Sua opinião não mudou, "pelo menos para o exterior e a entrada". 

"O lobby parece um aeroporto, um armazém, um hotel ou um prédio comercial", disse ele à AFP.

"Não há nada na escolha de cores e materiais que anuncie que o lugar abriga (a obra) de um dos grandes artistas do mundo", continua. 

A direção resistiu à tempestade. O museu deve provocar como o trabalho de Munch fez em sua época, assegura.

"O edifício enquadra-se muito bem no acervo porque é um edifício monumental, um edifício brutal, situado no coração da cidade e que exige reflexão", estima Henrichsen. 

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E talvez as tão difamadas "barreiras de segurança" sirvam de dissuasão para pessoas mal-intencionadas que repetidamente tentaram roubar as obras de Munch ao longo dos anos.

Um dos casos mais notórios ocorreu em 2004, quando ladrões roubaram O grito e Madonna em uma operação que pretendia distrair a polícia um dia após um sangrento assalto à mão armada em um banco. A história teve um final feliz e as duas obras-primas foram recuperadas.

"É provavelmente o prédio mais seguro da Noruega, mas você não vai perceber. A segurança é muito discreta porque queremos que o foco seja a arte", explica Henrichsen.

"Posso proclamar publicamente: não haverá assaltos aqui", garante.

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