A correspondência entre Mário de Andrade e Pio Lourenço Corrêa se iniciou em 1917, mesmo ano em que o escritor dava seus primeiros passos literários ao publicar Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema. As poesias desta coletânea inaugural figuram no volume Obra Imatura, que ganha nova edição, agora sob a chancela da editora Agir (404 páginas, R$ 49,90), responsável pela republicação dos livros andradinos. Ali estão apresentadas as três trilhas que o escritor seguiria em seu percurso artístico: a poesia, a ficção e a criação de uma nova teoria da arte brasileira - além de Há Uma Gota..., o livro traz ainda os contos de O Primeiro Andar e os ensaios de A Escrava Que Não É Isaura. Como observa Aline Nogueira Marques, na introdução, Obra Imatura une a poesia de 1917, a ficção de 1926 e a obra teórica de 1925, a despeito da cronologia: "Ultrapassada a luta modernista, o escritor se dá o direito de desvelar o próprio passado, integrando-o em seu presente e de publicar textos mais recentes que reputava não plenamente amadurecidos." O título Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema justifica o tom pacifista dos versos do jovem Mário de Andrade. Naquele ano de 1917, a Europa enfrentava a 1ª Guerra Mundial e o escritor, sob o pseudônimo de Mário Sobral, investiu recursos próprios na publicação da coletânea de 13 poemas. A crítica estranhou a linguagem, o que contribuiu para o fracasso da obra. Também O Primeiro Andar foi bancada pelo autor, mesmo que seu nome já figurasse entre os astros do modernismo. Para ele, as 11 narrativas produzidas entre 1914 e 1922 representam um "resumo do (seu) melhor passado de prosa". Ou, ainda, "um dilúvio de manuscritos". A Escrava Que Não É Isaura, que foi redigido em abril e maio de 1922, é considerada obra fundamental pelo crítico João César de Castro Rocha, que define o livro como um "acerto de contas" do escritor com as correntes da época.
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