PUBLICIDADE

Sítio Roberto Burle Marx é declarado Patrimônio Mundial pela Unesco

Principal obra do paisagista morto em 1994 tem 405 mil metros quadrados, com 3,5 mil espécies de plantas e coleções de arte de diversos tipos

Por Caio Sartori
Atualização:
Sítio Roberto Burle Marx é patrimônimo mundial da Unesco Foto: André Coelho/EFE

RIO - O sítio em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, que pertenceu a Roberto Burle Marx (1909-1994), criador dos jardins tropicais que revolucionaram o paisagismo, foi reconhecido, nesta terça-feira, 27, como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O jardim tropical passa a ser o 23º bem brasileiro agraciado com a honraria. A classificação é concedida a lugares considerados de valor universal importante para a cultura mundial.

Anunciada na conta do Twitter desta agência da ONU, a decisão foi adotada durante a 44ª reunião anual do Comitê do Patrimônio Mundial das Nações Unidas que analisa em Fuzhou (China) os pedidos para 2020 e 2021. As demandas se acumularam, devido à pandemia do coronavírus.

PUBLICIDADE

Paulista de família pernambucana, Burle Marx, morto em 1994 aos 84 anos, passou a maior parte da vida no Rio e morou mais de 20 anos no sítio. O paisagista é conhecido especialmente por ter introduzido ao modernismo o uso de plantas nativas brasileiras, criando o que se chama de paisagismo tropical moderno.

O sítio reconhecido pela Unesco tem 405 mil metros quadrados de área. São mais de 3,5 mil espécies de plantas tropicais e subtropicais. Há ainda sete edificações e seis lagos, além de acervo museológico com mais de três mil itens. Entre eles, “coleções de arte moderna, cuzquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira, de cristais e de conchas, além do mobiliário e dos objetos de uso cotidiano da casa”, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Tido como o principal projeto do paisagista que tem seu legado espalhado pelo País e até fora dele, o sítio foi a residência de Burle Marx por 21 anos, entre 1973 e 1994. Ele já havia adquirido o terreno em 1949, e desde então cultivava o jardim. Hoje, cerca de 30 mil pessoas visitam o espaço anualmente.

“A chancela estabelece um compromisso para manter os valores excepcionais que tornam esse lugar de importância para toda a humanidade. Temos a missão de preservar para as futuras gerações este espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento sobre natureza, paisagismo, arte e botânica”, disse, em comunicado, a presidente do Iphan, Larissa Peixoto.

Os jardins do Sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro Foto: André Coelho/EFE

 

Sítio Burle Marx foi inscrito em 2015 para virar Patrimônio Mundial da Unesco

Publicidade

O processo rumo ao reconhecimento da Unesco começou em 2015, quando o sítio foi inscrito na lista indicativa brasileira. O documento final foi entregue em janeiro de 2019, concentrando-se na defesa do valor do local como laboratório botânico e paisagístico. Dali a alguns meses, o conselho responsável pela avaliação visitou o espaço e produziu o relatório entregue ao comitê que faz a avaliação final.

Agora, será elaborado um plano de gestão para o sítio e o entorno dele, a fim de mapear riscos e apontar iniciativas para coibir eventuais ameaças. Trata-se da terceira vez em que o Rio tem o reconhecimento da Unesco nessa categoria. A primeira se deu em 2012 e dá o devido valor à paisagem carioca, com foco na relação da cidade com o mar e as montanhas. Em 2017, foi a vez do Sítio Arqueológico Cais do Valongo, na zona portuária. Cerca de 90 mil africanos escravizados chegaram à América do Sul pelo antigo desembarcadouro de pedra a partir de 1811.

Roberto Burle Marx em 1991 Foto: Carlão Limeira/Estadão

Burle Marx deixou legado em vários pontos do Brasil

Apesar da moradia no Rio e de ter desenvolvido ali outros projetos renomados, como o paisagismo do Aterro do Flamengo, do Museu de Arte Moderna e do Palácio Gustavo Capanema, por exemplo, Burle Marx tem projetos marcantes em outras cidades. É dele o jardim do Palácio do Itamaraty e do Eixo Monumental, em Brasília, e do Ibirapuera, em São Paulo.

O primeiro espaço público concebido pelo artista plástico saiu do papel em 1934, no Recife, a convite do amigo Lúcio Costa. Na capital da terra natal de sua mãe, também criou o Parque Ecológico. Foram quatro anos à frente do setor de Parques e Jardins, período em que idealizou mais de dez praças.. Em Minas Gerais, é dele o Parque Ipanema, no município de Ipatinga.

Fora do País, alguns projetos de destaque são o Parque Del Este, na Venezuela, a Praça Peru, na Argentina, e o Jardim das Nações, na Áustria.

Vista aérea do Sítio Burle Marx Foto: Mauro Pimentei/AFP

Desde sua criação, o Comitê do Patrimônio Mundial, composto por representantes de 21 Estados, inscreveu mais de 1.100 sítios de mais de 165 países em sua lista.

Publicidade

Com informações da AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.