NOVA YORK - Muitos restaurantes fazem uma recepção para amigos e familiares dos donos antes da inauguração formal, numa espécie de ensaio para o funcionamento efetivo. Foi o caso, em 16 de setembro, do bistrô 21 Greenpoint, no Brooklyn, antes conhecido como River Styx. Na verdade, tratou-se de uma reinauguração da casa, com os mesmos proprietários, mas novo cardápio e novo visual.
Essas recepções “de ensaio” costumam ser reuniões íntimas. Mas não dessa vez. Equipes de TV enchiam a calçada e uma fila de gente querendo entrar ia da Greenpoint Avenue até perto do East River.
Homer Murray, coproprietário, havia divulgado que naquela noite estaria no balcão um bartender especialmente convidado: seu pai, o ator e herói popular urbano Bill Murray. Entretanto, às 19h15, Bill Murray, de 65 anos, astro de Caça-Fantasmas, Feitiço do Tempo e Encontros e Desencontros, ainda não havia chegado para um turno marcado para começar às 19 horas.
No interior do 21 Greenpoint, o Murray filho e o responsável pelo bar, Sean Patrick McClure, estavam de olho na multidão crescente. Quando perguntaram o que Bill sabia do trabalho de bartender, Homer Murray resumiu: “Ele põe vodca Slovenia no copo de quem pareça ter sede. Seu negócio é eficiência, bate-volta”.
Pouco antes de 19h30, o povo começou a pressionar a porta. O dono então resolveu abrir, mesmo sem a atração principal.
Às 20h05, Bill Murray chegou. O local virou dia com os flashes de smartphones. Os que não estavam ocupados em caçar “likenesses”, explodiram em aplausos.
O primeiro trabalho de bartender de Bill foi pegar uma garrafa de Slovenia, destampar, servir uma dose na própria tampa da garrafa, beber e equilibrar a tampa na cabeça. Mais aplausos. Aí, começou a trabalhar.
Quem pedia drinques complicados, ficava sem beber. Mas quando alguém pediu “mezcal, rocks”, o bartender visitante serviu rapidinho. Foi igualmente rápido com as doses de tequila, que servia para si mesmo e para quem pedisse.
Enquanto trabalhava, cantava: Disco Inferno, de The Trammps, Higher Ground, de Stevie Wonder, Miss You e Street Fighting Man, dos Rolling Stones. Alguém perguntou se ele sabia fazer um Bellini. “Conheço gente que sabe”, respondeu. Recusou-se a atender um pedido até que o cara tirasse o boné.
McClure preparara um coquetel para festejar a reabertura do restaurante, informando que a bebida ainda não tinha nome. Bill Murray deu um gole, de olhos fechados, e lascou: The Depth-Finder. Estava batizado o drinque.
Os pedidos continuavam chegando. Smartphones continuavam fotografando. Bill serviu uma dose de bourbon a um cliente, dizendo: “Este Old Grand-Dad (marca de bourbon) vai fazer você se sentir mais inteligente”.
Quando um companheiro bartender fazia um coquetel ao lado, Bill pegou a coqueteleira e bebeu tudo.
Um pouco mais tarde, queixou-se: “Até agora, nada de gorjeta”.
Um grupo de bombeiros entrou no bar, pedindo uma foto com o convidado especial. Bill pegou um abacaxi no colo, como um bebê, e a foto foi feita.
A noite seguia. Bill deixou brevemente o posto, esbarrando numa jovem. Carinhosamente, pôs as mãos nos ombros da moça, beijou-a no nariz e disse que ela era bonita.
Por volta das 22 horas, a música parou. Bill, com um drinque na mão, saudou o coproprietário da casa.
“Esse é meu primeiro filho, Homer”, disse. “Estou feliz por mim, por seus irmãos, irmãs, mãe, por todos vocês por ele não ter seguido a profissão da família. Em vez disso, preferiu assumir a alegria – tomar um drinque, comer, ter amigos em volta – e fazer dela seu meio de vida. Brindo a meu filho, seus amigos, seu trabalho e seus sócios.”
Aplausos.
McClure elogiou o trabalho de Bill no balcão. “Um mixologista simplesmente prepara drinques. Já um bartender tem de saber tocar um bar: interagir com os clientes, alegrá-los, conversar com eles. Bill é um bartender.”
No fim do turno, Bill Murray parecia cansado. Quando alguém perguntou o que havia aprendido com o trabalho, respondeu: “Quando o ajudante do bartender não dá a ele o copo certo – e fingiu um olhar enviesado para um outro bartender –, você tem de usar a criatividade e fazer o drinque com o copo que tiver à mão.” / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ