Análise: Filme ‘Noite Infeliz’ diverte com Papai Noel bom de briga e implacável com a maldade

Protagonizado por David Harbour, longa conta com direção de Tommy Wirkola que adota forma incorreta para celebrar o verdadeiro espírito natalino

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Por Luiz Carlos Merten

Já houve Papais Noeis - no plural - que representaram a própria negação do espírito natalino nos filmes. Quem viu O Parceiro do Silêncio, de Daryl Duke, de 1978, não se esquece do alucinado Christopher Plummer que utiliza o disfarce para assaltar o banco em que Elliot Gould é caixa. Quando Elliot resolve também se beneficiar - roubando um pouquinho -, Plummer inicia a caçada. E o Billy Bob Thornton de Papai Noel às Avessas, de Terry Zwigoff, de 2010? Bêbado, ele rouba lojas com a assistência do parceiro de baixa estatura que se disfarça como... elfo!


David Harbour é o protagonista do filme ‘Noite Infeliz’ Foto: Allen Fraser


Tudo isso é passado, porque agora chegou David Harbour, o astro da série Stranger Things, como o Papai Noel de Noite Infeliz, em cartaz no cinema. Nunca houve um Papai Noel como esse na história do cinema. De cara, não se trata de um disfarce.


Cansaço

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Na primeira cena, Harbour já está enchendo a cara num boteco. Tergiversa sobre o cansaço que a função lhe ocasiona. Critica as crianças e seus pais, todo mundo mais ligado em consumo do que em valores. Papai Noel despede-se, mas em vez de sair pela porta toma a escada que o leva para o terraço. A funcionária vai atrás aos gritos de “Não é por aí”. Chega a tempo de vê-lo embarcar no trenó puxado por renas. Hein? O cara é Papai Noel de verdade? Santa Claus? Pode até ser, mas é podre. Vomita em cima da pobre funcionária.


Cena do filme ‘Noite Infeliz’, dirigido por Tommy Wirkola Foto: Universal Studios


Corte para a família disfuncional. Pais separados se reúnem para levar a filha à festa de Natal da vovó milionária - Beverly D’Angelo é quem faz o papel. Vovó é uma tirana, não tem paciência com os filhos, os netos. A neta, Trudy, descobre uma linha direta com Papai Noel. Pede-lhe de presente o que talvez seja impossível, a reconciliação dos pais.

Na ficção do diretor norueguês Tommy Wirkola, quando Papai Noel chega à casa dos Lightstone - e é abandonado pelas renas -, descobre que o lugar foi invadido por uma quadrilha. John Leguizamo e seu bando selvagem vieram para se apropriar da fortuna - US$ 35 milhões, em cash - que vovó guarda em seu cofre pessoal. No original, Noite Infeliz chama-se Violent Night. Põe violência nisso. Leguizamo e seu bando são piores do que gremlins naquele outro Natal. Destroem tudo. Matam, mutilam. O que ninguém conta é com o Papai Noel de David Harbour. Seu Santa Claus é atormentado por visões, flashes do próprio passado.

Imbatível

Há mais de mil anos, ele foi um guerreiro nórdico, e dos mais violentos. Como Thor, usava o machado. Atendendo ao pedido de socorro da Trudy menina, Papai Noel mata um, mata dois, mas os caras são muitos e quando ele está quase perdendo a batalha descobre ali, naquele cantinho, um martelo. Agora imbatível, sai arrebentando membros, cabeças.

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A trama é permeada de surpresas que é melhor não antecipar - sem spoiler - para não tirar a graça. São muitas sacadas, e o melhor é a forma incorreta que Wirkola adota para, no limite, celebrar o verdadeiro espírito natalino.

É preciso um rastro selvagem de violência e de sangue para que, no final, Trudy e seus pais, a avó... Chega! Um pouco como Esqueceram de Mim - e Trudy copia algumas das armadilhas de Kevin na série famosa -, a violência de Noite Infeliz é cômica. “Feche os olhinhos, querida!”, Papai Noel pede, e rebenta cabeças. É absurdo, é de morrer de rir. Chama-se catarse.

CRÍTICA: BOM

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