LOS ANGELES - Poucos antes do lançamento de seu livro de memórias, In Pieces (Em Pedaços), Sally Field não tinha certeza se queria que ele fosse publicado. Ela sentiu isso por seis ou mais anos em que trabalhou nele e não estava confiante que alguém ia querer lê-lo.
“Eu não sabia que tinha uma voz”, disse em conversa recente.
Logo após saber que o papel de Mary Todd em Lincoln, de Steven Spielberg, era dela, Sally fez um jantar para sua mãe, Margaret. Então Field revelou como havia passado por abusos sexuais quando criança, por seu padrasto. Foi difícil para a mãe ouvir que houve abusos durante toda a adolescência de Field.
Mas na manhã seguinte, sua mãe, mesmo com a saúde em declínio, ela morreu de câncer em 2011, assegurou-lhe que ela não estaria mais sozinha em sua dor.
Em sua casa em Pacific Palisades numa tarde de agosto, Field, de 71 anos, estava tranquila. Ela não é por natureza uma pessoa confessional; apesar da visibilidade que ganhou em uma carreira de décadas de atuação – ela ganhou três Emmys e dois Oscars, e estrelou filmes como Norma Rae, Flores de Aço e Forrest Gump – O Contador de Histórias – ela acha mais fácil falar por meio de seus personagens do que se expor.
In Pieces não é uma autobiografia tradicional do show biz, apesar de mergulhar em alguns dos famosos papéis e relações de Field com celebridades como Burt Reynolds (que morreu este mês), e relata como ela criou três filhos de dois casamentos que terminaram em divórcio.
A vida que Field revela em In Pieces é aquela que foi obscurecida por abusos e crueldades que são frustrantemente comuns às mulheres. O livro também conta uma história iluminada pela abundante graça e dignidade de sua autora, e seu autêntico desejo de sondar as profundezas de seus sentimentos, um desejo que, segundo ela, subjugava suas reticentes tendências.
Depois que Margaret Field pediu o divórcio do pai de Sally, Richard, em 1951, ela se casou novamente em 1952 com Jock Mahoney, um dublê e ator (Tarzan Vai à Índia). Como Sally Field escreve sobre Mahoney em seu livro: “Teria sido mais fácil se ele não fosse nada além de cruel e assustador. Mas ele não era. Ele poderia ser mágico, o flautista com nossa família seguindo-o em transe”.
Sentindo-se incapaz de compartilhar plenamente suas experiências com os outros, Field procurou uma saída em sua atuação. “Senti algo que não sentia antes. Ouvi minha voz. E eu me perguntei o que teria acontecido se eu não tivesse feito isso. Quanto tempo levaria para sentir que tinha o direito de me sentir indignada?”(TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO