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‘Bardo’ é um filme pessoal, ‘mas não uma autobiografia de Iñarritu’, diz roteirista

Nicolás Giacobone, roteirista do filme que está em cartaz nos cinemas brasileiros e que estreia na Netflix em dezembro, fala sobre convivência com o diretor

O argentino Nicolás Giacobone já tinha trabalhado com o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu em Biutiful, de 2010, e Birdman (Ou A Inesperada Virtude da Ignorância), de 2014, pelo qual levou naquele ano o Oscar de roteiro original. Então ele sabia o que esperar do processo para Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, que está em cartaz no Brasil e chega à Netflix em 16 de dezembro.

“Normalmente ele me convida para ir à sua casa, discutimos suas ideias, temos uma noção do que ele quer”, disse Giacobone em entrevista ao Estadão durante o Festival de Veneza – onde o longa foi apresentado em competição. Seu trabalho é ajudar o diretor e corroteirista a traduzir aquilo em estrutura e diálogos. Só que, neste caso, havia uma diferença. “O filme é muito pessoal. Não falamos só de pensamentos e do que os personagens precisavam, mas também de sua vida, seus sonhos, seus medos.”

Elenco e equipe de 'Bardo', com Iñarritu, o quinto esquerda, e Nicolas Giacobone, o penúltimo, durante o Festival de Cinema de Veneza Foto: Vianney Le Caer/Invision/AP

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Iñárritu não é um cineasta de encomenda e costuma fazer projetos pessoais. Mas nenhum como este. “Toda boa arte é pessoal”, disse Giacobone. “E esta não é uma autobiografia, é uma ficção. Mas há muitos elementos que vêm de situações específicas que mostram como ele lida com a vida.”

O personagem principal não é um cineasta, mas um jornalista tornado documentarista, Silverio (Daniel Giménez Cacho). Morando nos Estados Unidos, ele volta ao México para receber um prêmio, reencontrando amigos e desafetos e lidando com seu passado, com seu presente e também com a história de seu país e com seus sentimentos conflituosos em relação a ele – tudo em uma atmosfera entre o real e o sonho.

Cena de 'Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades', filme de Alejandro G. Iñárritu Foto: Netflix

Não à toa, o filme foi comparado a Amarcord, de Federico Fellini, e faz parte de uma onda de filmes de memórias, com cineastas voltando ao seu passado – de seu amigo e conterrâneo Alfonso Cuarón e Roma (2018) a Paolo Sorrentino e A Mão de Deus (2021), passando por Kenneth Branagh e Belfast (2021), James Gray e Armageddon Time (2022), Sam Mendes e Império da Luz (2022) e Steven Spielberg e Os Fabelmans (2022).

“Tenho certeza de que foi mais desafiador para ele, mas foi incrível ver como despertou tanta criatividade”, disse o roteirista, referindo-se a Iñárritu. “Normalmente, em um roteiro puramente fictício, nós nos deparamos com becos sem saída. Aqui não, as ideias transbordavam. Ele aceitou o que estava enfrentando, era isso o que queria fazer, e gostou do processo.”

Tanto que, na verdade, o diretor admitiu que não se vê voltando a uma história mais clássica, com uma trama com começo, meio e fim – e pensar que alguns de seus filmes antigos eram praticamente quebra-cabeças em que tudo se encaixava milimetricamente e artificialmente, como no caso de 21 Gramas (2003) e Babel (2006). Para o roteirista, foi uma loucura. “Mas eu amei chegar e perguntar: O que vai ser isso? Descobrir aos poucos é a coisa mais empolgante”, disse.

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Iñárritu financiou ele mesmo o projeto e resistia inclusive a mostrar o roteiro para muitas pessoas. A Netflix entrou só no final. “Ele pediu que eu mantivesse segredo”, disse Giacobone. Quase como em um filme da Marvel. “Foi bem corajoso de sua parte.”

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