Com sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz por seu papel em Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres se tornou a segunda brasileira a ser indicada a principal categoria de atuação da indústria cinematográfica. Ela repetiu o feito da mãe, a também atriz Fernanda Montenegro, indicada por sua atuação em Central do Brasil. Ambos os longas foram dirigidos por Walter Salles, mas o saldo brasileiro no Oscar não foi positivo na 71ª edição da premiação.
Em 1999, o Brasil concorreu ao prêmio em duas categorias — Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Nas duas ocasiões, perdeu. Fernanda Montenegro foi superada por Gwyneth Paltrow, protagonista de Shakespeare Apaixonado, e Central do Brasil perdeu para A Vida É Bela, filme de Roberto Benigni. As derrotas, no entanto, foram marcadas por uma polêmica que acabou definido a premiação daquele ano. Por trás dos dois longas vencedores, estava o produtor cinematográfico Harvey Weinstein.
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À época, os escândalos de abuso sexual do produtor não haviam sido revelados e Weinstein era um nome em ascensão na indústria. A Miramax, produtora fundada por Harvey e por seu irmão, Bob Weinstein, era conhecida por produzir filmes independentes, mas Harvey Weinstein queria mudar isso. Notório por sua postura tempestuosa, o produtor apostou em um marketing agressivo para beneficiar os longas que produziu.
As campanhas de Oscar não eram novidades em Hollywood, mas Weinstein revolucionou o formato e transformou todo o processo em um verdadeiro campo de guerra. “Naquela época, os grandes estúdios tinham certeza que seriam indicados porque nenhum dos estúdios independentes fazia campanhas agressivas”, afirmou Weinstein em entrevista ao livro Down and Dirty Pictures, de Peter Biskind.
“Ao invés de ficarmos sentados esperando ser derrotados por alguém com mais dinheiro, poder e influência, fizemos uma campanha de guerrilha”, revelou. As táticas empregadas pela Miramax eram mais próximas das campanhas realizadas pelos partidos Democratas e Republicanos do que por estúdios de Hollywod.
Com direito a encontros com atores e diretores, exibições exclusivas dos longas e até mesmo um sistema de funcionários que contatava os membros da Academia para checar se eles haviam recebido os filmes, Weinstein mudou a forma com que as campanhas do Oscar funcionavam. E o esforço deu certo.
O primeiro Oscar de Melhor Filme da Miramax veio em 1997 com O Paciente Inglês, de Anthony Minghella, mas Harvey queria mais. Em 1999, o longa favorito para levar os principais prêmios da noite era O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. Amado pela crítica, o filme sobre a Segunda Guerra Mundial já tinha sua vitória dada como certa por boa parte da imprensa especializada. Ao final da noite de Oscar, no entanto, O Resgate do Soldado Ryan tinha cinco vitórias. Já Shakespeare Apaixonado, sete estatuetas — incluindo a de Melhor Filme.
A vitória de Weinstein não só chocou Hollywood, mas também inaugurou uma nova era no Oscar. “Todo estúdio sentiu que precisava fazer uma campanha no estilo Miramax se quisesse ganhar”, afirmou o pesquisador Michael Schulman, autor do livro Oscar Wars: A History of Hollywood in Gold, Sweat and Tears, à BBC. “Então, toda Hollywood começou a apostar nas campanhas e contratar batalhões de estrategistas. Foi assim que a indústria de campanhas para premiações surgiu”, comentou.
Fernanda Montenegro foi roubada no Oscar de 1999?
A vitória de Gwyneth Paltrow é considerada por muitos especialistas como uma das grandes injustiças da história do Oscar. Os críticos norte-americanos, no entanto, costumam afirmar que o prêmio deveria ter sido entregue a Cate Blanchett por sua atuação em Elizabeth. Em entrevista ao Conversa com o Bial, Fernanda Montenegro concordou com essa opinião.
À época, a atriz Glenn Close havia dito que era Fernanda quem deveria ter recebido o Oscar de Melhor Atriz em 1999. “Essa é uma avaliação dela, porque eu, por exemplo, teria dado o prêmio para a Blanchett”, afirmou a artista brasileira. “Ela fez duas Elizabeths extraordinárias naquele ano. Duas. Não foi um filme, foram dois filmes, e de uma forma maravilhosa. Então não é que o meu trabalho não seja respeitado, mas eu teria votado na Blanchett”, confessou Montenegro.
No documentário Tributo - Fernanda Montenegro, a atriz de 95 anos deu mais detalhes sobre a experiência do Oscar. “Jamais pensei que iria levar esse negócio”, afirmou a atriz. “Mesmo que não pegue a estatueta, aquilo já coloca você no noticiário. Eu assisti como se estivesse em uma fantasia. Sabia que não iria levar nada, mas estive lá”.
O Oscar 2025 acontecerá no dia 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles.