Criado em 1994 pelo crítico mineiro José Zuba Jr., o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte realizou-se naquele ano e no seguinte, graças ao empenho que o idealizador colocou no projeto. Com a morte de Zuba Jr., seu festival também quase morreu. Quase, porque, até como tributo ao amigo morto, seus colegas do Departamento de Cinema da Fundação Clóvis Salgado, da capital mineira, resolveram retomar a idéia do Festival de Curtas. A terceira edição foi realizada no ano passado. A quarta está marcada para o período de 4 a 16 de junho deste ano. Mas não está sendo fácil tornar viável o 4.º Festival Internacional de Curtas de BH. Waleska Falci, diretora do Departamento de Cinema da Fundação Clóvis Salgado, é a coordenadora do evento. Há meses vem clamando no deserto. O festival está ameaçado pela falta de dinheiro. Com base nas leis estaduais de incentivo à cultura, ela conseguiu da Usiminas uma verba de R$ 50 mil para fazer a pré-produção do festival. Inscrito nas leis federais, o orçamento integral é de R$ 368 mil. Waleska só conseguiu captar até agora R$ 120 mil. Falta mais que o dobro desse valor, mas ela anuncia: o festival sai de qualquer jeito. O problema é que poderá sair capenga, ajustado à realidade do orçamento. A programação terá de ser sacrificada e é isso o que angustia Waleska. No ano passado, o 3.º Festival Internacional de Curtas de BH conseguiu reunir mais de 20 mil espectadores (exatamente 21.304), durante 14 de exibições e debates. Parece pouco, mas é um pouco decorrência das próprias condições em que se realiza o festival. As salas (ou a sala de cinema da Fundação, no centro de Belo Horizonte) são pequenas. Formavam-se filas, diariamente, para retirar as senhas, pois uma das características do festival - da qual Waleska não abre mão - é que as sessões sejam todas gratuitas. E não eram só as projeções que atraíam um público entusiasta, formado principalmente por jovens. Houve também debates e oficinas e não houve uma só dessas atividades que fosse realizada com metade da lotação. Estavam sempre cheias. "O evento poderá crescer ou diminuir, vai depender do patrocínio", informa Waleska. Ela anuncia novidades no regulamento. Até o ano passado, a mostra competitiva englobava produções nacionais e erstrangeiras. Este ano elas serão separadas. Haverá a mostra competitiva nacional e a internacional. Em cada uma delas serão ofertados três prêmios: do júri, da crítica e do público. Também dependendo do patrocínio, os vencedores poderão receber, além dos troféus, prêmios em dinheiro ou em serviços. Quem foi a Belo Horizonte no ano passado por certo se lembra de que o 3.º Festival exibiu uma retrospectiva de curtas dinamarqueses feita com apoio do Danish Institute of Cinema. Foram exibidos curtas de Thomas Vinterberg, autor daquele que talvez seja o melhor filme do Dogma: Festa. Novas retrospectivas estão sendo preparadas para este ano. Waleska organiza uma seleção dos melhores curtas brasileiros dos anos 60 70 e 80. Vai privilegiar aqueles que foram premiados nos Festivais de Brasília e Gramado e na Jornada da Bahia, mas até hoje permanecem inéditos em Belo Horizonte. Em junho, o Brasil e o mundo estarão de olho na Copa do Japão. O Festival de Curtas de BH entra no clima. A coordenadora propôs ao escritor e cineasta José Roberto Torero que ele fizesse a curadoria de uma mostra sobre o futebol nos curtas brasileiros. Torero já trabalha no projeto. Pérola da programação, o festival de BH realiza, no Brasil, a primeira retrospectiva dos curtas de Marguerite Duras. Se você é cinéfilo, sabe que Duras, a grande dama do nouveau roman, chegou ao cinema pela via do roteiro. René Clément adaptou Barrage contre le Pacifique, que virou Terra Cruel, em 1958. No ano seguinte, Alain Resnais chamou-a para escrever Hiroshima, Meu Amor. Duras queria fazer cinema. Resnais incentiva-a a fazer literatura. O filme é um marco da tendência que pode ser chamada de cinema literário. Passando à realização de longas, Duras fez filmes como India Song, que não deixa de ser tributário de Hiroshima. Há nesse filme uma história de amor que a autora tenta reconstituir por meio de vozes sem rosto. Em torno dela, como a bomba atômica no clássico de Resnais, há outra história sobre a fome e a lepra que consomem a Índia, segundo Duras. O festival de BH vai mostrar cinco curtas de Duras: Les Mains Négatives, Cesarée e L´Homme Atlantique, mais as duas experiências mais famosas da autora no formato. Aurélia/Steiner possui duas versões: uma se chama Melbourne, a outra Vancouver. Há sempre cidades no cinema de Duras: Nevers/Hiroshima, Son Nom de Venise dans Calcutta Désert. A cidade, para Duras, é uma ficção. Descobrir seus curtas será um dos prazeres proporcionados pelo 4.º Festival Internacional de BH. Interessados podem pesquisar no site do evento, www.festivaldecurtasBH.com.br, que fornece o regulamento para iscrições. Para patrocínio, o telefone é 0--31 3237-7271/7281.