Gina Lollobrigida descartou sucesso fácil e conquistou seu espaço no cinema

Italiana morreu nesta segunda, 16, aos 95 anos

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Quem viu a jovem Gina Lollobrigida no recente Festival do Cinema Italiano com certeza ficou encantado com a bersagliera que ela interpretava em Pão, Amor e Fantasia, a comédia de Luigi Comencini que virou emblema do chamado neorrealismo cor de rosa. Gina nasceu em 4 de julho de 1927 em Subiaco. Morreu nesta segunda, 16 de janeiro, aos 95 anos. Nos anos 1940, logo após a guerra, foi morar em Roma. Tomou lições de canto, começou a aparecer em fotonovelas, fez figuração em filmes. A impressionante beleza levou-a a participar dos concursos de Miss Roma e Miss Itália, sem muito sucesso, por sinal.


Gina Lollobrigida e Rock Hudson em cena do filme 'Quando Setembro Vier'  Foto: Remo Nassi/ AP


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Em 1948, seu nome apareceu pela primeira vez nos créditos de um filme - Follie per L’Opera/ Folias na Ópera, de Mario Costa. A carreira prosseguia lentamente quando Gina foi chamada a Hollywood por ninguém menos do que Howard Hughes. O milionário biografado por Martin Scorsese havia visto uma foto de Gina. Fez-lhe uma dupla proposta. Um contrato de exclusividade no cinema e um pedido de casamento. Ela disse não, e não. Voltou à Itália, onde a ida à ‘América’ elevou seu status. Filmou com Carlo Lizzani, Achtung Banditi!/A Rebelde, e Pietro Germi, A Cidade Se Defende. A explosão veio em 1951, quando Christian-Jacque fez dela a protagonista feminina de Fan-fan la Tulipe, contracenando com o astro Gérard Philipe.

O filme foi premiado em Cannes, Gina virou uma estrela ‘francesa’ - franco-italiana, pelo menos. Fez novos papéis em filmes de Alessandro Blasetti, Outros Tempos, René Clair, Essa Noite É Minha, Mario Soldati, A Insatisfeita. Com o megassucesso de Pane Amore e Fantasia/ Pão, amor e fantasia converteu-se na estrela número 1 do cinema italiano. Casou-se com um médico iugoslavo - quando ainda havia Iugoslávia, o Dr. Milko Skofic - e, por anos, conseguiu manter o equilíbrio. Mito sexual na tela, esposa e mãe dedicada na vida real. Em meados dos anos 1950, começou a ascensão de Sophia Loren, impulsionada pelo marido produtor, Carlo Ponti. Mais um pouco e as duas, Sophia e Gina, viram nascer outra estrela, a jovem Claudia Cardinale, cuja carreira também foi impulsionada pelo marido produtor, Franco Cristaldi.


Gina Lollobrigida com Frank Sinatra no filme Quando Explodem as Paixões Foto: AP


Gina levou uma carreira norte-americana. Filmou com John Huston, O Diabo Riu por Último, e King Vidor, Salomão e a Rainha de Sabá. Fez comédias, dramas, filmes de prestígio e outros nem tanto. Filmou também com Jules Dassin, A Lei dos Crápulas, e John Sturges, um filme de guerra com Frank Sinatra, Quando Explodem as Paixões. Em 1955, fez com Robert Leonard um filme de título profético - A Mulher Mais Bela do Mundo. A concorrência de outras belas, as mudanças ocorridas no cinema dos anos 1960, tudo contribuiu para o ocaso da grande estrela, mas Gina ainda fez, por volta de 1970, talvez seus maiores filmes - Aquele Maravilhoso Novembro, de Mauro Bolognini, como a tia sexy que inicia o sobrinho, e o Pinóquio de Luigi Comencini, em que transformava uma figura que poderia ser convencional, a fada, numa personagem misteriosa e sedutora.

Gina, Melhores filmes

Fan-fan la Tulipe, de 1952

O clássico de Christian Jacque com Gérard Philippe como o aventureiro sedutor. A jovem Gina como seu interesse romântico. O filme foi resgatado em Cannes Classics no ano passado, numa sessão na praia. Grande diversão.

Pão, Amor e Fantasia, 1953

O neorrealismo estava mudando e Luigi Comencini iniciou a tendência do chamado ‘neorrealismo cor de rosa’. Vittorio De Sica chega a pequena cidade. É a autoridade, o marechal. Gina faz a bersagliera sexy. Cuida dos animais. O soldado tímido apaixona-se por ela. Difícil, para De Sica, será fazê-lo sair do casulo para declarar seu amor.

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Cena do filme Pão, Amor e Fantasia (1953), com Gina Lollobrigida Foto: Titanus


O Diabo Riu por Último, 1955

Um grupo de aventureiros num porto italiano. Comprar barco para ciajar à África. O objetivo - apossar-se de terras ricas em urânio. Gina, Humphrey Bogart, Jennifer Jones, Robert Morley, adivinhe se a ganância, como em outro clássico do grande diretor John Huston - O Tesouro de Sierra Madre -, não vai complicar e até inviabilizar o negócio.

Salomão e a Rainha de Sabá, 1959

A célebre passagem bíblica. O sábio Salomão enlouquece de desejo pela Rainha de Sabá. King Vidor sempre foi atraído por mulheres fortes. Gina é belíssima, e poderia ter sido mais uma delas. O problema é que Tyrone Power morreu durante as filmagens. Entrou Yul Brynner, a produção sofreu outros percalços. Apesar de tudo, o filme tem classe.

Aquele Maravilhoso Novembro, 1968

Gina entrava nos 40 com força total e Mauro Bolognini fez dela o centro desse estudo sobre sexualidade, e moralidade. Uma família. O pai é um baluarte da moral - em público. Na esfera privada, vive correndo atrás de rabo de saia. Gina, sexy, provoca o desejo do garoto - e da plateia. Está deslumbrante.

Pinóquio, 1972

A história famosa de Collodi. O boneco que sonha ser menino. Luigi Comencini, que já celebrara a jovem Gina em Pâo, Amor, agora faz dela a fada.

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