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Homenagens e protestos marcam abertura do Festival do Rio

Grupo se reuniu reivindicando melhores condições para a produção cinematográfica no estado antes da exibição inicial

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Homenagens, protestos. A 16.ª edição do Festival do Rio iniciou-se nesta quarta-feira, 24, num teatro do Leblon com homenagens a Eduardo Coutinho e José Wilker. As falas de Coutinho, comparando filme e prisão e questionando o conceito autoral da liberdade absoluta, foram recebidas com aplausos prolongados. Mas antes de entrar na sala foi preciso encarar o protesto. Até Silvio Tendler, na cadeira de rodas, estava no piquete dos que protestavam.

Dali a pouco ia passar, como filme de abertura, O Sal da Terra, de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders. O filme honra o grande fotógrafo, o pai – Juliano é filho de Sebastião Salgado – e o cidadão que criou uma ONG para reflorestar uma área desmatada no interior do Brasil. O desmatamento tem sido um tema quente na campanha dosa candidatos à presidência. Silvio Tendler não deixou por menos – “Estamos protestando contra o desmatamento do cinema no Rio. Queremos o reflorestamento.”

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Rio, Mais Cinema Menos Cenário – tal era o lema do protesto. A Carta Aberta pode ser encontrado na íntegra na página do Facebook do grupo. Os que protestavam batiam duro contra a transformação do Rio em mero cenário para a repetição industrial de clichês e a concentração do investimento público em um só modelo de cinema. Daniela Woitman, uma das diretoras que vestiam a camiseta do protesto, diz que não é mais possível ver os parcos investimentos serem capitalizados somente pelos grandes produtores. A SEC-RJ era o alvo principal – além de se esvaziar a cada ciclo eleitoral, completam-se já dois (anos) sem qualquer investimento na produção. O clamor era pela construção do cinema carioca.

E veio o filme de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders. No palco, o grande Sebastião e a mulher, Lélia, sua parceira na vida, na arte e na ONG, que virou o Instituto Terra e a área reflorestada uma reserva ecológica. Sebastião e a mulher não reflorestaram para eles, mas para o Brasil. Ele comparou fotografia e cinema. Como fotógrafo, disse que trabalha com o instinto. “Vocês são os intelectuais”, disse sobre a platéia de cineastas. E contou histórias sobre suas andanças pelo mundo, algumas com o filho. Brincou – “A foto é momento, o cinema exige muita preparação. Às vezes me desesperava e dizia para o Juliano – ‘Anda que vou perder a hora.’ E ele retrucava – ‘Só mais um pouco, estou armando a luz.’ O clique não espera.”

Algumas pessoas reclamam. Com um personagem tão apaixonante diante da câmera, Juliano e Wim não questionam ‘Tião’ filosoficamente. O que é a vida para um homem e artista que tem visto a humanidade – e o planeta – em condições tão extremas? Embora a pergunta não seja formulada, a resposta flui. É a renovação, o recomeço – sempre. Por isso Sebastião não para, por isso reflorestou a área de sua infância, que vinha se transformando num deserto. A maratona do Festival do Rio – e, dentro dela, a Première Brasil – começa nesta quinta-feira em 29 salas e mais quatro pontos de exibição. Serão 350 filmes distribuídos em 21 mostras. Por mais difícil que seja escolher, entre tanta oferta, é um sonho de cinéfilo.

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