Reúne-se nesta quarta-feira em Brasília, na sede do MinC, a comissão formada pela Secretaria do Audiovisual para apontar o candidato brasileiro que vai tentar uma vaga entre os cinco indicados para o Oscar de melhor filme estrangeiro do ano. O nome do eleito sai às 15 horas. A Academia de Hollywood anuncia em janeiro os filmes que vão concorrer ao prêmio em 2007. A festa será no fim de fevereiro. Foram 14 filmes brasileiros inscritos para concorrer à vaga, que não garante a indicação automática. Os indicados por mais de 40 países serão depois submetidos à triagem da academia e só cinco vão concorrer ao Oscar. Treze foram colocados em votação no Portal Estadão, que quis saber dos internautas em que filme votariam. Na segunda-feira, a comissão da Secretaria anunciou que havia um 14 º inscrito - mas "Árido Movie", de Lírio Ferreira, que não constava da lista original, não passou pelo crivo dos leitores do jornal. O vencedor foi "Zuzu Angel", de Sérgio Rezende. Carlos Drummond de Andrade escreveu seu célebre poema sobre a pedra no meio do caminho. O Oscar é a pedra no meio do caminho do cinema brasileiro. Virou uma questão de honra. Ninguém, em sã consciência e honestamente, acredita que o Oscar para um filme brasileiro vai mudar qualquer coisa no cinema do País. Mas vai resolver o complexo de inferioridade. O Brasil é internacionalmente reconhecido (e premiado) no esporte, na música, nas artes visuais, em várias modalidades da cultura e do conhecimento. O próprio cinema já ganhou prêmios importantes (os maiores) nos principais festivais do mundo - Cannes, Veneza e Berlim. Mas falta o Oscar para coroar a auto-estima do público pelo cinema brasileiro. É um público predominantemente de classe média, que freqüenta (por segurança e/ou conforto) as salas de shoppings. É um público que valoriza Hollywood, o cinemão. É um público que vai se sentir afagado, recompensado pelo Oscar. Mais de 30% do universo de leitores e internautas que participaram da pesquisa votaram no filme de Sérgio Rezende baseado na história da estilista que lutou por seu sagrado direito de mãe de enterrar o filho morto pelo regime militar. "Zuzu Angel" é um filme digno, bem feito, com uma grande cena - a do encontro da estilista com o pai do lendário Lamarca. Patricia Pilar e Nelson Dantas são os intérpretes. Foi o último papel dele. Dantas faz um sapateiro. Não diz nada, não precisa dizer. Aquela crispação de lábio, o fio de sangue que escorre pelo canto da boca dizem tudo. A cena nunca ocorreu na verdade, foi uma liberdade poética do diretor Rezende e do roteirista Marcos Bernstein. No prefácio do livro da Imprensa Oficial com o roteiro de Zuzu Angel, Rezende, mesmo com o risco de ser mal compreendido, diz o que a cena ilustra - fazer um filme sobre um personagem real é inventar mentiras para contar a verdade. Em segundo lugar na pesquisa do portal, ficou "O Maior Amor do Mundo", de Cacá Diegues. Em terceiro, "Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes. Como o Oscar, sendo um reconhecimento da indústria americana, é sempre associado, nem sempre corretamente, ao desempenho de público, não custa anotar que "Zuzu Angel" já foi visto por 792 mil espectadores desde que estreou, em 4 de agosto O acumulado de "O Maior Amor do Mundo", desde o dia 7, registra 72 mil espectadores. A temporada do Oscar está recomeçando no cinema brasileiro. Confira os filmes inscritos: Árido Movie, de Murilo Salles A Máquina, de João Falcão Anjos do Sol, de Rudi Lagemann Bens Confiscados, de Carlos Reichenbach Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes Cafundó, de Paulo Betti e Clovis Bueno Depois Daquele Baile, de Roberto Bontempo Doutores da Alegria, de Mara Mourão Estamira, de Marcos Prado Irma Vap - O Retorno, de Carla Camurati O Maior Amor do Mundo, de Carlos Diegues Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira Vida de Menina, de Helena Solberg Zuzu Angel, de Sergio Resende