Longa ‘Cora’, de Moura e Mariani, é filme-resposta ao romance ‘Antonio’

Trama distópica se passa em 2064 e mergulha no passadode personagens, em reação ao livro de Beatriz Bracher

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Maior e mais erudito autor do cinema brasileiro, Júlio Bressane tem se nutrido da literatura para realizar seus filmes. Bressane nunca fala em adaptação – prefere transcriação. É o que também poderiam dizer Gustavo Rosa de Moura e Matias Mariani, diretores de Cora, em cartaz no cinema. 

Cena do filme Cora, de Gustavo Rosa de Moura e Matias Mariani Foto: Mira Filmes

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Mariani é filho da escritora Beatriz Bracher e, como tal, foi dos primeiros, senão o primeiro, a ler o romance Antonio, que ela publicou em 2010. Gostou, mas achou inadaptável. Felizmente, foi dissuadido pelo amigo Moura, que o convenceu de que o livro talvez não desse uma adaptação literal, mas poderia funcionar numa intrigante mistura de ficção e documentário. Foi o que fizeram. Antonio virou Cora, e a mudança de título não foi a menor das alterações. 

Nos letreiros finais, os autores definem o próprio filme como uma resposta a Antonio. No material promocional do filme, distribuído à imprensa, Mariani conta que inicialmente seria uma adaptação, ‘como qualquer outra’. Ao longo do processo, o longa foi-se distanciando do livro. A própria Beatriz, sua mãe, ao assistir à primeira versão da montagem – ao primeiro corte – sugeriu ao filho a formulação do filme-resposta, convencida de que o relato cinematográfico estava propondo uma reação à narrativa do romance, e não a sua transposição para outra mídia. 

A trama distópica situa-se em 2064, quando a dinamarquesa Cora descobre o documentário que seu pai brasileiro deixou inacabado. Benjamin era seu nome e, 50 anos antes, ele fez uma busca sobre seus pais, os avós de Cora. Descobriu que o pai, Teo, morreu louco, mas o grande enigma é a figura feminina – a mãe? Elenir é uma mulher misteriosa que lhe permite formular um quebra-cabeças familiar, repleto de tabus e preconceitos, e no qual ele próprio é peça importante. Esse diálogo entre presente, na verdade, futuro e o passado se faz por meio de uma narrativa das mais exigentes. 

O relato é enriquecido por materiais de arquivo. Como se fosse um documentário, os personagens falam diretamente para a câmera. Manter a narrativa unitária – sem digressões e sem confundir o público – foi certamente um desafio, e não o menor.

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