Marsha Hunt, atriz da era do ouro de Hollywood, morre aos 104 anos

Atriz apareceu em mais de 100 filmes e programas de TV e teve a carreira interrompida por estar na ‘lista negra’ da era McCarthy

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Por Jake Coyle

Marsha Hunt, uma das últimas atrizes da chamada Era de Ouro de Hollywood (nas décadas de 1930 e 1940), que trabalhou com artistas como Laurence Olivier a Andy Griffith e cuja carreira foi interrompida por um período pela lista negra da era McCarthy, morreu aos 104 anos.

Hunt, que apareceu em mais de 100 filmes e programas de TV, morreu quarta-feira em seu casa em Sherman Oaks, Califórnia, disse Roger Memos, o escritor-diretor do Documentário de 2015 Marsha Hunt’s Sweet Adversity. Natural de Chicago, ela chegou a Hollywood em 1935 e nos 15 anos seguintes apareceu em dezenas de filmes, desde a comédia de Preston Sturges Easy Living à adaptação de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, que estrelou ao lado de Oliver e Greer Garson.

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Ela tinha bem menos de 40 anos quando a MGM a nomeou como “a personagem mais jovem de Hollywood”. No início dos anos 1950, ela era uma estrela de grandeza suficiente para estar na capa da revista Life. Tudo indicava que ela iria prosperar no novo meio da televisão quando “o trabalho secou”, ela lembrou em 1996. A razão, ela aprendeu com seu agente, era que o Red Channel, publicação que caçava comunistas, revelou que ela participou de uma conferência de paz em Estocolmo e outras reuniões supostamente suspeitas.

Ao lado de estrelas como Lauren Bacall, Humphry Bogart e Danny Kaye, Hunt também foi para Washington em 1947 para protestar contra o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara, que estava realizando uma caça às bruxas para comunistas na indústria cinematográfica. “Fiz 54 filmes em meus primeiros 16 anos em Hollywood”, disse Hunt em 1996. ``Nos últimos 45 anos, fiz oito. Isso mostra o que uma lista negra pode fazer com uma carreira.’’

Solução foi migrar para o teatro

Hunt concentrou-se então no teatro, onde a lista negra não era observada, até ela começar ocasionalmente a trabalhar no cinema novamente, no final dos anos 1950. Ela apareceu nas turnês de The Cocktail Party, The Lady’s Not for Burning e The Tunnel of Love, e na Broadway em The Devil’s Disciple, Legend of Sarah? e O The Paisley Convertible.

Marsha Hunt em foto sem data: atriz viveu a era de ouro de Hollywood Foto: AP / AP

Marcia Virginia Hunt (ela mudou a grafia de seu primeiro nome mais tarde) nasceu em Chicago e cresceu em Nova York, filha de um advogado e professor de canto. Esbelta e elegante, com um sorriso caloroso e olhos grandes e expressivos, Hunt estudou teatro e trabalhou como modelo antes de fazer sua estreia no cinema.

Um casamento precoce com o diretor Jerry Hopper terminou em divórcio. Em 1948, ela casou-se com o roteirista Robert Presnell Jr., e tiveram uma filha, que morreu logo após seu nascimento prematuro. Seu marido morreu em 1986. O primeiro filme de Hunt foi Cumpra-se a Lei, de 1935. Ela passou a fazer papéis recatados em uma série de filmes para a Paramount, incluindo O Dedo Acusador e Os Navais em Ação.

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Mas, como ela disse à Associated Press em 2020, ela estava cansada de “jovens doces” e implorou por trabalhos mais substanciais. Hollywood proporcionou uma educação dolorosa. No documentário Marsha Hunt’s Sweet Adversity ela conta que quase conseguiu o papel de Melanie Wilkes em E o Vento Levou, o que estava assegurado pelo produtor David O. Selznick. Em poucos dias, Olivia de Havilland foi anunciada como a atriz que interpretaria Melanie no épico filme de 1939.

“Esse foi o dia em que eu cresci”, disse Hunt no documentário. “Esse foi o dia em que eu sabia que nunca poderia ter meu coração partido novamente por esta profissão de atriz.” Ela deixou a Paramount e foi para a MGM na época de E o Vento Levou e teve papéis principais ou coadjuvantes em Estas Grã-Finas de Hoje, Asas nas Trevas e A Comédia Humana, entre outros filmes.

‘A MGM foi pura magia’

“A MGM foi pura magia”, ela lembrou em uma entrevista à Associated Press em 2007. “Quando cheguei ao estúdio para um papel de um dia, eles estacionaram meu carro. Eu fui no set e encontrei uma cadeira de diretor com uma placa: ‘Srta. Hunt’. Outra placa estava no meu camarim. “Eu disse a mim mesma: ‘Qualquer estúdio que trata um ator de um dia dessa maneira, realmente sabe fazer filmes.’ Eles ganharam minha lealdade.’’

Os trabalhos secaram rapidamente depois que ela abraçou abertamente causas liberais, como quando se juntou ao protesto de 1947 contra as audiências no Congresso sobre o influência comunista em Hollywood. “Nunca fui comunista nem me interessei pela causa comunista”, ela declarou em 1996. “Eu era uma inocente na política defendendo minha indústria.”

Marsha Hunt durante premiere em Los Angeles, em 2013  Foto: Gus Ruelas/Reuters

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Com algumas exceções, na comédia The Happy Time, de 1952 do produtor Stanley Kramer, ela não foi vista na tela grande durante a maior parte do década de 1950. Mais tarde, ela apareceu em muitas séries de TV, incluindo My Three Sons, Matlock, All in the Family e Murder, She Wrote.

Ela permaneceu vigorosa e elegante na velhice. Em 1993, ela lançou The Way We Wore: Styles of the 1930s and ‘40s and Our World Since Then, livro ilustrado da moda durante sua época de ouro em Hollywood.

Ativista política ao longo da vida, Hunt teve contato com o terror em 1962, quando participou de um fórum sobre extremistas de direita e dois outros participantes tiveram suas casas danificadas por bombas caseiras na mesma noite. “A atriz de rosto pálido disse que sua casa provavelmente escapou do ataque a bomba apenas porque os terroristas não conseguiram descobrir onde ela morava”, informou o Los Angeles Times. A polícia foi enviada para vigiar sua casa.

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Mais recentemente, ela ajudou a criar um refúgio para os sem-teto em Los Angeles, no bairro de Sherman Oaks, onde ela morou, e foi homenageada com o título de prefeita honorária. Olhando para trás em seus anos de ativista, Hunt comentou em 1996: “Eu nunca desejei uma identidade como figura conversa. Mas tendo resistido e encontrado outros interesses nesse meio tempo, posso olhar para trás com alguma filosofia.’’

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