Análise | Apesar de derrota no Bafta, ‘Ainda Estou Aqui’ está, sim, na briga pelo Oscar

Campanha do filme brasileiro está intensa no mercado americano e ele está no páreo pela estatueta dourada

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Houve, nas redes sociais, quem se mostrasse desanimado no último domingo, 16, após Ainda Estou Aqui ser derrotado por Emilia Pérez no Bafta, o maior prêmio do cinema britânico. Não é para tanto: o filme brasileiro chega ao Oscar, no próximo dia 2, com chances reais de levar o prêmio de Filme Internacional, inédito na história do País.

Claro que o longa francês não pode ser considerado carta fora do baralho na disputa pela estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ele foi, afinal, indicado a 13 Oscars, o recorde para um filme que não é falado em inglês. Há, no entanto, outros fatores em jogo.

'Ainda Estou Aqui' está no páreo pelo Oscar Foto: Alile Dara Onawale/Divulgação

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Para começar: o Bafta não é necessariamente o preditor mais exato do Oscar. O corpo de votantes é formado principalmente por britânicos e tende a privilegiar as produções feitas no Reino Unido e na Europa – vide a vitória de Conclave como Melhor Filme no último domingo. E nem sempre os vencedores de ambas as premiações coincidem.

Nos dois anos anteriores, o Bafta seguiu direções completamente distintas: em 2024, premiou Oppenheimer, coprodução britânica e favorito indiscutível das premiações; em 2023, privilegiou o alemão Nada de Novo no Front e deixou Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, que viria a vencer o Oscar, sem nada.

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No caso específico de Ainda Estou Aqui, pesou contra o filme o fato de ele não ter estreado no Reino Unido, o que só acontecerá nesta sexta-feira, 21. Emilia Pérez, em comparação, estava disponível na Netflix por lá desde 13 de novembro, o que deu aos votantes tempo mais do que suficiente para assistir ao filme.

Por lá e na Irlanda, vale notar, a distribuição de Ainda Estou Aqui é da Altitude Film Distribution e não da Sony Pictures Classics – que tem os direitos de distribuição no mercado americano e que está conduzindo a campanha para o Oscar.

E já que falamos nela, a campanha do filme brasileiro ao prêmio máximo do cinema tem sido tocada de forma admirável. Desde que começaram as votações finais ao Oscar, na última terça-feira, 11, sua protagonista Fernanda Torres tem aparecido em entrevistas a grandes veículos e programas norte-americanos, aumentando a exposição do filme em um período crítico.

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Fernanda esteve no Good Morning America, principal programa matinal da televisão americana; falou à Vogue, à Elle e ao Washington Post, e ainda conversou com as principais publicações voltadas para a indústria audiovisual: Entertainment Weekly, Variety, Deadline e The Hollywood Reporter. Desta última, foi capa no último sábado, com uma manchete impactante: “Fernanda Torres já ganhou” – uma frase que remete à uma declaração de sua mãe, Fernanda Montenegro, mas que não deixa de ter seu peso.

Além disso, Ainda Estou Aqui está tendo uma carreira muito bem-sucedida no mercado norte-americano desde que estreou, de forma limitada, em 17 de janeiro. O filme chegou a entrar em cartaz em 704 salas por lá e, até agora, arrecadou US$ 3,37 milhões – números impressionantes para um filme brasileiro, falado em português.

Tudo isso contribui para que Ainda Estou Aqui desperte o interesse dos votantes da Academia e, principalmente, seja visto e fique fresco na mente deles -- o que pode ter um efeito positivo nos votos finais. Daí a importância de que o longa de Walter Salles esteja sendo comentado e exposto na mídia, já que as votações vão até esta terça, dia 18.

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Na categoria de Filme Internacional, em especial, os votantes já são obrigados, pelas regras da Academia, a ver todos os indicados. O mesmo, porém não se aplica às categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz; logo, nessas categorias é ainda mais importante que o longa brasileiro esteja na boca (e nas mentes) dos eleitores.

Há, ainda, um elemento subjetivo em jogo: a história de Ainda Estou Aqui, sobre uma família destroçada por um regime totalitário, tem ressoado nos Estados Unidos da era Trump. Se a Academia quiser mandar uma mensagem política na categoria de Filme Internacional, o filme é uma escolha mais segura do que Emilia Pérez, cuja protagonista se envolveu em escândalos por publicações que ofendiam vários grupos e até o próprio Oscar.

Dito isso, não se pode desconsiderar o filme de Jacques Audiard, mas Ainda Estou Aqui está, sim, no páreo para o Oscar. E talvez valha uma evidência anedótica de como tudo pode mudar em premiações: Central do Brasil chegou a levar o Globo de Ouro e o Bafta de filme estrangeiro, mas perdeu o prêmio da Academia para A Vida é Bela. Nada impede que algo semelhante aconteça agora que estamos do outro lado.

E a Fernanda?

A categoria de Melhor Atriz, na qual Fernanda Torres está indicada, segue com Demi Moore, de A Substância, como sua franca favorita. No entanto, a vitória de Mikey Madison, de Anora, no Bafta pode indicar que a disputa esteja um pouco mais aberta do que se supunha.

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É possível que isso beneficie a brasileira, que vem encantando Hollywood, mas que não disputou nenhum dos prêmios precursores e também não está no SAG Awards. O prêmio do Sindicato dos Atores, que será entregue no próximo dia 23, deve trazer mais informações sobre sua concorrência.

Análise por Beatriz Amendola

É editora assistente de Cultura e E+

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