Polêmico, Carlos Imperial inspira biografia e filme

Produtor cultural, que incentivou a carreira de diversos artistas, tem agora sua importância reavaliada

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Por Ubiratan Brasil
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Carlos Imperial (1935-1992) foi comunicador e produtor artístico, responsável pelo empurrão na carreira de grandes nomes da música como Elis Regina, Simonal, Roberto Carlos. Foi também uma figura polêmica, graças ao estilo irreverente e até libertino com que viveu, detalhe que o próprio se vangloriava ao se declarar “rei da pilantragem”.

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Esquecido nos últimos anos, Imperial agora é relembrado graças a uma bela biografia, Dez, Nota Dez! (Planeta), de Denilson Monteiro, e ao documentário Eu Sou Carlos Imperial, de Renato Terra e Ricardo Calil, que está na programação do fim de semana do É Tudo Verdade. Sobre o assunto, Monteiro respondeu às seguintes questões.

Como explicar o desconhecimento hoje sobre Imperial?

Imperial morreu há quase 23 anos, o que torna muito difícil não cair no esquecimento. Ele não era um cantor, cujas músicas poderiam ser executadas, o que ajudaria a mantê-lo na memória do público. Em 2001, quando comecei a pesquisar a vida dele para a biografia, não se sabia o paradeiro dos filmes dele, as músicas tocavam, mas a autoria era atribuída aos intérpretes. Apenas Nelson Motta, no livro Noites Tropicais, o citava. Acho que nesses 15 anos a coisa melhorou, as novas gerações já não fazem cara de espanto quando ouvem seu nome. Ele tem uma biografia, seus filmes voltaram a ser exibidos na TV, há muitos vídeos do canal Mofo TV no YouTube, esse documentário e um musical está sendo preparado tendo o livro como base. 

Como explicar o faro de Imperial para o novo que logo se tornaria popular e até clássico?

Ele era um homem muito bem informado – e isso já nos anos 1950, quando nem Star Trek existia, que dirá internet. Tinha uma inteligência privilegiada, raciocínio rápido, uma ótima cultura musical, com uma discoteca invejável. Isso contribuía muito para ele ver um aspirante à fama e analisar se tinha ou não possibilidade de se tornar um ídolo e como iria trabalhá-lo. 

Imperial ainda é visto por alguns críticos como um comerciante sem escrúpulos da música. O que você pensa disso?

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Há um erro que vem sendo repetido bastante. Não foi Imperial quem fez com que Roberto Carlos passasse a cantar bossa nova. Roberto foi mais um que teve uma epifania ao ouvir João Gilberto com Chega de Saudade e decidiu largar o rock para cantar a novidade musical. Quanto às estratégias de Imperial para promover as músicas e torná-las sucesso, eu acho que fazem muita falta atualmente. As críticas são próprias daquele bom-mocismo que considera bonito o artista que recebe elogios, mas vive na pindaíba. Estamos no Brasil, o lugar onde sucesso é ofensa pessoal, como diziam Chico Anysio e Tom Jobim. 

Qual foi o grande momento de Carlos Imperial? E o pior?

Sem dúvida, foi quando, no programa Esta Noite se Improvisa, ele assumiu o papel de vilão da mídia e descobriu que a vaia poderia ser o seu aplauso. A partir dali, começou a se tornar nacionalmente conhecido. Foi o nascimento de um personagem marcante. O pior momento foi a polêmica envolvendo o ator Mário Gomes, a tal história da cenoura. Ele se arrependeu bastante devido à repercussão que o boato tomou. Tentou pelo resto da vida consertar a situação. Por outro lado, tornou-se ainda mais temido.

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Imperial foi multimídia antes de a internet surgir – trabalhou no rádio, fez TV, pornochanchada, teatro, lançou artistas, foi candidato político. É possível imaginar o que estaria fazendo hoje?

Sem a menor dúvida, ele estaria usando a internet em todas as suas possibilidades. Ele amava a tecnologia, perto de morrer, estava fascinado com seu computador XP, sua impressora matricial e o que considerava o ponto alto da tecnologia, o fax. Dizia que com o fax resolvia tudo sem precisar abrir mão da piscina de sua casa. Hoje, com um smartphone na mão, ele estaria diariamente bagunçando o País com suas jogadas. 

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