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Rosane Svartman prepara filme de ‘Pluft’

O ator mirim só será escolhido em janeiro, mas primeiras fases de captação já foram encerradas

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Já se passaram mais de 60 anos – 61 – desde que Pluft, o fantasminha irrompeu na vida cênica brasileira. Em setembro de 1955, com direção da própria autora, a dramaturga Maria Clara Machado, a peça estreava num teatro que se tornou mítico, o Tablado. Pluft ganhou outras mídias, esteve em outros tablados. Chegou a estrear nos EUA e, coincidência ou não, anos depois surgiu um certo Gasparzinho, fantasminha camarada. No Brasil, Pluft virou filme – de Roman Lesage – em 1961. Depois, em 1975, tornou-se minissérie de TV, numa parceria entre a Globo e a TV Educativa.

Pluft está (re)nascendo de novo. No Rio, a diretora Rosane Svartman já concluiu a primeira fase de captação das imagens de um novo longa inspirado na série famosa. No começo de dezembro, o repórter visitou o set, montado num estúdio na Barra. Logo ali, além daquela grade que delimita o terreno, está a Vila Olímpica. Todos os investimentos na região foram feitos com vistas ao desenvolvimento pós-Olimpíada. Os Jogos foram-se – e foram um sucesso de estufar o peito e deixar o brasileiro orgulhoso –, mas agora o que mais se vê são placas de ‘Aluga-se’. Sem baixo-astral, a equipe trabalha com animação.

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O filme está sendo rodado em 3-D, o que significa um equipamento mais pesado – e mais investimento. “Vai ser o primeiro infantil em terceira dimensão do Brasil”, conta a produtora Clélia Bessa, sócia de Rosane na Raccord Filmes. “É meu casamento mais bem sucedido”, brinca a diretora. “Clélia e eu estamos juntas desde Como Ser Solteiro, de 1998.” A produtora esclarece que, apesar de todo o apoio que a dupla conseguiu – “A peça de Maria Clara possui um apelo muito forte; está no imaginário de quase todo mundo” –, os recursos são limitados. “Estamos fazendo um produto para concorrer com os blockbusters de Hollywood, mas, sem o dinheiro deles, a gente tem de desdobrar a criatividade.” Mas se o 3-D encarece a produção, por que investir no formato?

“A própria história é quem pede”, avalia Rosane. “Com tudo o que ela tem, fantasmas, piratas, marinheiros, tesouro e uma menina corajosa, o 3-D terminou se impondo porque era preciso essa estética imersiva. Não creio que, no cinema, o público fosse aceitar tudo isso numa escala menor.” O repórter coloca os óculos para assistir, pelo monitor, a cenas já filmadas e pré-editadas. As majors que se cuidem. O filme está saindo muito bom. “Todo o desenho de produção está sendo muito diferente do que se costuma fazer por aqui. Cada detalhe, desde o roteiro, foi pensado para ser filmado em 3-D e live action”, diz Clélia. Como a peça, conta a história do rapto de Maribel pelo malvado pirata Perna-de-Pau, que espera chegar, por meio da garota, ao tesouro de seu avô.

Escondida no sótão de uma velha casa, Maribel conhece uma família de fantasmas e faz amizade com Pluft, o fantasminha que tem medo de gente. “A permanência de Pluft e o fato de a criação de Maris Clara atravessar o tempo está ligado ao que, para mim, é um tema universal, capaz de atrair adultos e crianças. Descobrir e aceitar o outro, vencer os próprios medos. É disso que estamos falando”, conta Rosane. No dia em que o repórter visita o set, a cena passa-se justamente no sótão, logo depois que Maribel foi apresentada a Pluft. O cenário é caprichadíssimo, um trabalho brilhante de Fabi Egrejas.. O fotógrafo Dudu Miranda esbanja segurança, Maribel é interpretada por Lola Belli, uma menina linda, encantadora, que Rosane escolheu por teste. Mas... Tem algo esquisito nesse set. A pergunta que não quer calar – onde está o próprio Pluft? Surpresa! O menino que vai fazer o fantasminha ainda não está escolhido, e por isso o filme está sendo feito em duas etapas.

A primeira envolveu locações numa praia belíssima do Rio Grande do Norte (Sibaúma, no distrito de Tibaú do Sul). A equipe então se transferiu para o Rio e filmou no Colégio Sagrado Coração de Maria, em Copacabana, onde Maribel sofreu o ‘sequestro’. O restante dessa primeira fase ocorreu no estúdio – no Polo Rio Cine Vídeo, na Barra. Em 4 de abril, a produção recomeça – e, aí sim, teremos Pluft. Ele será escolhido neste mês de janeiro, numa campanha que será deflagrada no dia 16. Os interessados devem ficar de olho, porque a mobilização será feita através das redes sociais. O garoto que vai fazer Pluft não precisará de prévia experiência de interpretação, mas, em compensação, terá de atender a pré-requisitos muito rígidos – 9 anos, uma altura e peso bem específicos e, somado a isso tudo, a especial habilidade de prender a respiração por um bom período debaixo d’água. Ou seja, interpretar não é preciso, mas mergulhar e ter resistência pulmonar, sim.

Você, que está lendo isso, deve estar agora se fazendo a segunda pergunta que não quer calar – por quê? O que ficar debaixo d’água tem a ver com a história do fantasminha? Em princípio, nada, mas na visão de Rosane Svartman, tudo. Rosane pesquisou muito para resolver o X da questão. Pluft é um fantasminha, mas não é um menino que morreu. Na peça e no filme, já o conhecemos como é. A solução computadorizada que o diretor Brad Silberling adotou em Gasparzinho, de 1995, desagrada à diretora porque retira do personagem seu caráter amigável e lhe confere uma dimensão, digamos, ‘mórbida’. É como se ele fosse um menino morto. É tudo o que Rosane não quer. Ela pesquisou muito, e um dias a ficha caiu. “Fiz uns testes com minhas filhas e começou a dar supercerto. Filmei-as debaixo d’água e percebi que o resultado me dava exatamente a fluidez que queria.”

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Pluft, ou o garoto que vai fazer o papel, será filmado debaixo d’água, num aquário ou piscina – a produção ainda pesquisa a melhor alternativa. Depois, a água será eliminada digitalmente e a imagem aplicada sobre o ‘green screen’. Complicado? Do ponto de vista técnico, nem tanto. Mas, sim, o garoto terá de ter resistência e aprender a abrir os olhos e simular que está falando – tudo isso, os testes já mostraram que é possível. “Estou filmando em duas partes porque não conseguiria dar conta de ambas ao mesmo tempo. Aos 9 anos, um garoto cresce muito rapidamente. Vamos (e agora Rosane fala no plural porque o que vai dizer inclui o diretor de fotografia...) ter um problema sério porque filmamos todas as cenas da Lola/Maribel olhando para um ponto que seriam os olhos de Pluft. Vamos precisar que o garoto encaixe perfeitamente, porque senão vai ficar esquisito, se ela der a impressão de olhar para outra coisa que não os olhos dele.”

Nos quase 20 anos desde Como Ser Solteiro, Rosane Svartman fez também Mais Uma Vez Amor, Desenrola e Tainá, a Origem – este, o único que dirigiu como convidada, e não através de sua produtora. Também escreveu duas temporadas de Malhação e a novela Totalmente Demais. Tudo isso exige demais, mas Rosane destaca as parcerias – com Paulo Halm, José Lavigne, Ricardo Perroni e Glória Barreto. Ela fez a adaptação de Pluft com Lavigne e Cacá Mourthé, que trabalhou com Maria Clara Machado no Tablado e sabe tudo sobre o fantasminha. Ah, sim, a diretora está encantada com seu pirata da Perna de Pau – “Juliano Cazarré superou toda expectativa. Suas cenas com o papagaio são ótimas.”

ENTREVISTA, Juliano Cazarré, ator

‘Finalmente, meus filhos vão poder me ver’

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Destaque no cinema brasileiro em 2016 por Boi Neon, Juliano Cazarré está feliz da vida com seu papel em Pluft, o Fantasminha. Finalmente, seus filhos menores poderão vê-lo na telona.

Como Pluft surgiu em sua vida?

Foi a primeira peça de teatro que assisti quando criança, num teatro e depois na escola. E agora voltei a ter contato com esse trabalho. Fazer o pirata Perna de Pau está sendo incrível. Ele é malvado, mas também carismático. Além de ser a oportunidade de eu poder fazer um personagem que meus filhos poderão assistir. Estou no cinema nacional há um tempo, sempre com papéis mais ousados, e esse é diferente, voltado para o universo infantil.

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Feliz com 2016?

Foi muito bom profissionalmente. Fiz novela, teatro, série e cinema. Encerrei A Regra do Jogo e já iniciei temporada de Um Bonde Chamado Desejo. Engatei com as gravações da série Vade Retro e agora o Pluft. Estou muito feliz!

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