Confira dicas para treinar em casa ou na academia

Alunos e especialistas falam sobre benefícios dos treinos ao vivos, gravados e presenciais

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Por Danilo Casaletti
Atualização:
Pity Sehbe recebe orientações na realização dos exercícios indicados para ela Foto: Felipe Rau/Estadão

“Os profissionais que não entenderem que treinar em casa dá resultado vão ficar para trás.” Essa é a opinião do educador físico Ricardo Lapa, dono da academia virtual Foguete e da marca Lapa Team. Lapa, que começou na modalidade há 10 anos, se apresenta hoje como proprietário da maior academia virtual da América Latina.

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Quando, no início, ainda passava planilha de treino via aplicativo de mensagem, Lapa chegou a ter 40 alunos simultaneamente. Há quatro anos, ele decidiu publicar os treinos em um site criado para esse propósito. Eles deixaram de ser individualizados e foram divididos em 3 níveis: iniciantes, intermediários e avançados. Com o tempo, outras modalidades foram acrescentadas. “Sempre fui muito criticado. Os professores achavam um absurdo eu oferecer treino a distância”, diz.

Quando a pandemia impôs o fechamento das academias, Lapa enxergou uma possibilidade de crescimento. Gravou mais de 70 vídeos com exercícios para fazer em casa e investiu em marketing, com ajuda de influencers e artistas como Chay Suede e Thiago Martins – a divulgação nas redes sociais é, aliada ao velho boca a boca, uma das formas mais eficazes de conquistar novos alunos.

Em novembro do ano passado, Lapa lançou os treinos ao vivo, com 24 aulas por mês. Atualmente, o número aumentou para 170, todas transmitidas em tempo real. Na sua academia online há três planos diferentes: um básico com aulas pré-gravadas (R$ 29), o intermediário, que tem o acréscimo de aulas recreativas ao vivo – ioga, luta e dança (R$ 45) –, e o completo, que ainda contempla treino de força, crossfit, spinning e circuito funcional (R$ 89).

“É uma grade de aulas como se fosse uma academia normal. Tem atividade praticamente o dia todo. Basta se programar. Nem todo mundo quer só malhar. Tem gente que está na plataforma só para fazer ioga, por exemplo”, diz Lapa, que hoje tem 50 mil alunos – no começo da pandemia eram seis mil. Desse total, 99% são mulheres. Além do Brasil, há acessos em países como Estados Unidos, Portugal, Espanha, Grécia, Austrália, Japão e Cingapura.

Para Rodrigo Sangion, nas aulas online, principalmente as coletivas, é mais difícil corrigir os alunos. "Isso acaba desmotivando os participantes",diz Foto: Felipe Rau/Estadão

Apesar de não serem treinos individualizados, Lapa garante que o aluno que opta pelo pacote com aulas ao vivo tem todo o suporte necessário para realizá-los da melhor forma possível. Um segundo professor acompanha a aula via monitor e avisa quando alguém precisa ser corrigido. “A galera que ama academia, que tem seu grupinho, vai continuar frequentando. Porém, 70%, 80% dos frequentadores, que só iam porque tinham que ir, vão procurar outras opções. O treino em casa não recua nunca mais. As academias vão regredir”, acredita.

Rodrigo Sangion, proprietário da academia Les Cinq Gym, tem outra visão sobre o assunto. Para ele, no início da pandemia, na retomada, após o primeiro período no qual os estabelecimentos tiveram de fechar, os frequentadores ainda estavam receosos em voltar a treinar de formar presencial. Ele mesmo chegou a implementar algumas atividades online, porém, com o tempo, a demanda caiu. 

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“As pessoas não conseguem ficar muito tempo com aula online. Acho até perigoso, sobretudo quando é uma aula coletiva, pois não há como corrigir e dar atenção a todos. Isso acaba desmotivando os participantes”, diz.

Sangion afirma que mais de 90% de seus alunos – são 600 no total – já voltaram a frequentar o espaço e que, no mês de maio, teve o maior faturamento desde a abertura do espaço, há sete anos. Para ele, é importante oferecer algum diferencial que atraia os alunos. “Se ele treina em uma academia em que tem um professor para 70, 90 alunos, de fato, não vai fazer diferença se ele fizer uma aula coletiva online”, diz.

Entre os atrativos que a Les Cinq oferece estão um instrutor para cada quatro alunos, medidas sanitárias rígidas, com filtros de ar e limpeza permanente dos aparelhos, e um protocolo de atendimento para alunos que tiveram covid-19. Em julho, será lançado um desafio para resultados em 30 dias focado em mudança de corpo.

Pity Sehbe, executiva de uma empresa de tecnologia, é uma dessas pessoas que não conseguem ficar longe da academia. Ela, que treina no espaço de Sangion, diz que durante o período em que ele ficou fechado se exercitou em casa sob orientação de um personal. Ela relata que sentiu grande diferença, sobretudo no bem-estar que os exercícios costumam lhe proporcionar.

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“Online é totalmente diferente. Não há comparação. Para a saúde mental, treinar isolada em casa, não foi legal. Poder estar em uma academia – e que bom que elas são consideradas um serviço essencial – é o que tem segurado minha onda nessa época de pandemia”, diz. Para ela, os resultados em casa não são os mesmos alcançados na academia, por conta da falta dos equipamentos.

Pity ressalta que, em função dos cuidados de segurança que a academia adotou, se sente confiante em se deslocar até o local para treinar. “É um dos lugares em que me sinto mais segura, justamente porque sei que há protocolos de higiene.”

Aulasem vídeo com o treinador Rodrigo Ali, que passa instruções para os alunos via celular Foto: Werther Santana/Estadão

O treinador Rodrigo Chiquie Ali, especialista em fisiologia do exercício, já trabalhou em duas grandes academias de São Paulo. Há quase dois anos, oferece treinos online em duas modalidades. Em uma, após o aluno responder a um questionário, Ali envia ao solicitante uma planilha de treinos e alguns vídeos nos quais explica os principais movimentos. O aluno também tem direito à devolutiva em vídeo para que o profissional avalie e, se necessário, corrija a execução do treinamento. A consultoria custa R$ 219 por mês.

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Na outra opção, ministra aulas ao vivo, por vídeo ou presencialmente, quando o aluno solicita – nesse caso, sempre na casa da pessoa. Desde o início da pandemia, o profissional não vai a uma academia para dar aulas presenciais, rotina que ele cumpriu por quase 20 anos.

Na modalidade ao vivo, uma das especialidades de Ali são os treinos com o kettlebell – peso em formato redondo, com uma alça em cima. Segundo ele, com essa ferramenta é possível trabalhar a mobilidade, estabilidade, força e o condicionamento físico. São oito aulas mensais, com duração de uma hora, ao custo de R$ 1.300 mensais.

Ali explica que, para ter sucesso no treinamento em casa, é preciso mudar a percepção sobre os exercícios e evitar a comparação com a academia. “Muitas vezes, as pessoas não identificam os resultados por conta da vivência que têm na musculação convencional. Por isso, acabam por fazer treinos ineficientes. Isolar um músculo para trabalhá-lo, por exemplo, não é possível. Se o aluno pegar um pesinho e ficar fazendo um movimento simples de braço, não terá grande efeito”, explica.

A sugestão de Ali é um treino mais integrado, que movimente diversas partes do corpo, com o maior número de músculos e articulações possíveis, e que ele seja também tridimensional, com o corpo executando movimentos para frente e para trás, de um lado e para o outro, e de rotação. O treinador ainda destaca uma dica importante, relacionada com o cuidado que é preciso ter ao praticar uma atividade física, sobretudo a musculação. “Primeiro, melhore a qualidade do movimento para depois ter o direito de sobrecarregá-lo. Antes de pegar peso, pense que o próprio exercício e a velocidade da execução já geram sobrecargas. Observando isso, você fica longe das lesões.”

Treino. A advogada Luciana Santos treina com Ali há quatro anos. As aulas eram na academia do prédio. Com o isolamento, ela, em acordo com o treinador, começou a fazer as aulas via aplicativo Zoom. Luciana afirma que, em um primeiro momento, ficou insegura com o treino online, mas, aos poucos, ganhou confiança. Hoje, treina três vezes por semana com o personal, além de correr nos outros dias. Quando quer avançar em algum exercício específico ou aumentar o peso que utiliza, marca uma aula presencial. “Continuo com a atenção na parte técnica dos exercícios e consegui evoluir. Comecei com um kettlebell de 12 quilos e hoje uso um de 20.”

'Primeiro, melhore a qualidade do movimento para depois ter o direito de sobrecarregá-lo', indica otreinador Rodrigo Chiquie Ali Foto: Werther Santana/Estadão

Antes de contratar as aulas do personal, Luciana frequentou uma academia por um ano, mas sentiu que não conseguia a evolução que desejava, sobretudo para melhorar sua condição física na corrida e o fortalecimento muscular. “Serviu, em um primeiro momento, para eu adquirir o hábito e o gosto pelo exercício físico, pois eu era sedentária. Hoje, não sinto falta e não voltaria a treinar em uma”, diz Luciana que, nesse processo todo, emagreceu 40 quilos.

“Não gosto de falar que é melhor ou pior. Não sei se todo treino online a distância funciona. Posso dizer que ele é eficiente se você tiver à disposição um profissional que de fato preste atenção naquilo que ele te propõe e nas metas que você deseja alcançar. Na academia, nesse sentido, a experiência que eu tive sempre foi muito ruim”, diz a advogada.

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Para Fabio Lira, professor do departamento de Educação Física da Unesp de Presidente Prudente, o treino em casa, online, já é uma realidade, não só para os alunos, como também para os educadores físicos. Lira, que supervisiona os estágios dos formandos do curso, conta que, em 2020, pela impossibilidade de os alunos cumprirem o período probatório presencialmente, eles o fizeram online. E se sentiram satisfeitos com o resultado. “Foi uma boa surpresa. Muitos, agora, já têm alunos espalhados pelo Brasil. No mundo virtual, não há limite de território”, diz.

Lira chama atenção que a atividade física é diferente do treinamento físico. A primeira é quando você faz uma caminhada ou sobe e desce escada, por exemplo, o que proporciona a melhora da mobilidade e a manutenção da capacidade cardiorrespiratória. Para isso, uma aula pré-gravada, genérica, como muitas que há nas redes sociais, é válida.

O segundo caso envolve objetivos mais específicos, como ganhar massa muscular, definição ou correr uma maratona. Aqui, a orientação de um treinador é indispensável. “Com um bom profissional e alguns acessórios, é perfeitamente possível alcançar bons resultados em casa”, diz.

O professor afirma que o treinamento sem orientação pode gerar lesões por conta da execução inadequada dos movimentos. “Em uma pessoa mais jovem, essas consequências demoram a chegar. Um adulto, acima dos 40, pode sentir dores. As mais comuns são no ombro, na lombar e nos joelhos. Ela também pode ter hipertensão não diagnosticada, o que pode colocá-la em risco, dependendo do esforço físico”, explica.

Escolhas

Na Academia

  • Fique atento se o estabelecimento cumpre os protocolos sanitários. 
  • Use sempre máscara.
  • Se você não utiliza o serviço de personal, procure uma academia que ofereça suporte por parte dos instrutores. 
  • Bons aparelhos podem impressionar, porém, o mais importante é observar se os profissionais oferecem o suporte de que você precisa para alcançar seu objetivo.

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Em casa

  • Estabeleça uma rotina.
  • Ao identificar seu objetivo, procure a orientação profissional.
  • Faça exercícios integrados que trabalhem diversos músculos.
  • Não tenha pressa em adquirir materiais. Procure ajuda de um profissional que possa te orientar sobre o que comprar.
  • Treinar em casa não dispensa a avaliação médica prévia – pelo contrário, ela é essencial.

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