Até hoje, quase 30 anos depois de protagonizar cenas em que tomava banho em uma banheira cheia de leite de cabra, Cristina Pereira ainda é abordada por fãs que a identificam como Fedora. A clássica personagem é, certamente, o maior indício de que Haja Coração, novela de Daniel Ortiz que estreia nesta terça, 31, às 19h30, na Globo, é uma “nova versão”, e não apenas um remake, de Sassaricando, de Silvio de Abreu, exibida entre 1987 e 88 também na faixa das 7 da noite. Agora vestida por Tatá Werneck, sempre com tiara de princesa na cabeça, Fedora alterna requintes de Paris Hilton e Barbie, e ameaça se jogar da ponte após perder alguns seguidores no Instagram, nicho que nem ficção científica era nos idos de Sassaricando.
A nova Fedora se apresentou ao público antes mesmo da nova Tancinha (Mariana Ximenes revive o papel que foi de Cláudia Raia), numa ação de crossover promovida pela Globo no último capítulo de Totalmente Demais. “A direção (Fred Mayrink) e o Daniel (Ortiz, autor) me falaram que eu não precisava me basear na Fedora da Cristina, o que já me tira uma gastrite”, brinca Tatá, fã da atriz, a quem telefonou pedindo bênção para fazer o personagem. “Ela me atendeu, disse que adorou saber que eu é quem faria a Fedora e falou: ‘tô de calcinha e sutiã, tá um calor danado, tá mais do que abençoada’, foi incrível”, diverte-se. “Querem mesmo que a gente, eu e o Gabriel Godoy (seu par na trama), faça quase um desenho animado, um cartoon, a personagem pode virar uma Barbie, por exemplo. A gente é quase uma coisa à parte, com um tom acima dos outros personagens.”
No evento de lançamento da novela, cercada por mais de uma dezena de jornalistas, Tatá falava sem parar, sustentada sobre um par de saltos altíssimos. “Sou pequenininha, estou sempre de salto”, justifica. Debocha de suas respostas, interrompe a conversa para mandar beijinhos a quem lhe acena e comenta sobre vaidade – “tem a ver com solteirice” – e não com o suposto glamour da Globo. Tudo sem perder o equilíbrio, mas não o foco.
Tatá é hiperativa e prefere não tratar da patologia, como contou ao Estado poucos minutos depois, em uma roda mais reservada. “Pensei em tratar. Eu não dirijo, por exemplo, porque sou muito dispersa, não posso. Quando acordo, quero fazer um empreendimento imobiliário. Mas quando fui buscar alternativa de medicação, disseram que o remédio talvez pudesse me fazer perder um pouco da minha capacidade de improviso. Num jogo de rimas, quando abre para mim, tenho um leque de bobagens para falar”, conta.
Apesar disso, a atriz ainda não se aventurou a colocar cacos (jargão dramatúrgico para “improvisos”) no texto de Ortiz. Quer primeiro consolidar o caminho de Fedora, para depois, quem sabe, brincar com isso. “Mas tem gente aqui que eu já soube que está botando caco no texto, quero saber que vantagem é essa?”, fala. “Estou contracenando com pessoas de que eu sou muito fã. Imagina, a Cláudia Jimenez! Eu cresci vendo, admirando, rindo, e de repente ela está ali, fazendo a minha tia, e com o (Marcelo) Médici, que é um gênio! E Marisa Orth, fazendo papel dramático!”
A arte de improvisar fica, até segunda ordem, bem contemplada por seu expediente no Multishow, canal que exibe a 3.ª temporada do Tudo Pela Audiência, que ela apresenta com Fábio Porchat, e Tamamu, uma nova série, com sua banda, Os Renatinhos, a ser gravada simultaneamente à novela. A direção será de Lilian Amarante, “que aprovou seu teste na MTV”. Falta tempo para acomodar tudo na agenda? Falta. Se todo o elenco de Haja Coração teve três meses para se preparar, Tatá teve apenas três dias, justamente porque vinha gravando Tudo Pela Audiência. O que vale é estar trabalhando, e não há aí nenhuma piada.
Uma das primeiras sequências de Fedora mostra a crise dos 30 da personagem, em uma festa de mega ostentação. Já Tatá, aos 32, dispensa crise. “Ficava com medo de chegar aos 30 e ficar desempregada. Eu fiz teatro muito tempo. Entrei na MTV com 26 anos. Até os 26, eu fazia peça, ensaiava 2 horas por dia, viajava o Brasil todo para ganhar R$ 700. Eu dizia: ‘cara, 26 anos, não tenho mais jeito!’. E quando cheguei aos 30 anos e estava fazendo Amor à Vida, estava feliz. Falei: ‘caraca, tô bem’.”
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